Covid-19. Pode a teleterapia ser uma solução a considerar?

Tal como a experiência de teletrabalho, podem as sessões de psicoterapia em regime remoto estar a mudar as nossas vidas e a ensinar-nos coisas novas?

A experiência de quarentena coletiva a que assistimos em grande parte do Mundo veio mudar radicalmente as nossas vidas. Tanto as pessoas, como as empresas e organizações foram forçadas a adaptar-se a uma nova realidade. A verdade, é que tal como temos assistido, grande parte dos nossos empregos parecem poder ser assegurados remotamente via internet, através do uso de email e videoconferência. Mas e será que a nossa saúde mental pode também ser acautelada à distância, através do uso da tecnologia? Esta é a questão que muitos especialistas, psicólogos e psicoterapeutas têm analisado nas últimas semanas.

As opiniões dividem-se, tal como nos mostra um recente artigo publicado no portal Psychology Today. Muitos especialistas têm defendido que a terapia virtual (através de videoconferência) é um passo irreversível para a desumanização das interações entre as pessoas – e em particular da relação terapeuta-paciente. O impacto da presença física não pode ser comparado à transmissão “fria” remota de uma imagem e voz, afirmam.

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No entanto, a teleterapia tem uma utilidade e alcance que pode ser verdadeiramente transformador na democratização do acesso aos cuidados de saúde mental. É uma “barreira de entrada” menor que pode ser uma importante ferramenta para alguns profissionais. Em particular, isso nunca foi mais verdade do que agora, numa altura de isolação e distanciamento social.

Para muitos terapeutas e pacientes, a teleterapia surge agora como única opção para se continuar o tratamento. Num momento de potencial trauma, de alto stress, instabilidade e ansiedade, gerado por um surto viral, é fundamental continuar a ter acesso a uma terapia que ofereça o apoio e suporte necessário.

De forma surpreendente, muitos terapeutas estão igualmente a descobrir alguns aspetos interessantes, mais positivos, relativos a esta experiência. Recentemente um especialista partilhou algumas das suas conclusões sobre o tema, que permitem inquerir se porventura o surto de Covid-19 não irá mudar para sempre o modelo convencional de psicoterapia.

 

  1. A teleterapia pode tornar-se mais “intima” do que a opção presencial

Uma terapia de longo-termo pressupõe a criação de um forte elo de confiança entre o terapeuta e paciente. A partilha dos aspetos mais íntimos da nossa vida cria inevitavelmente um sentimento de proximidade. No entanto, o psicoterapeuta assume sempre uma “distância profissional”, reservando sempre uma certa anonimidade em torno da sua vida pessoal.

Falar ao telefone, ou através de uma videochamada, com alguém pode ser algo bem mais íntimo que envolve o nosso sentido de toque e o uso de dispositivos que são essencialmente uma extensão das nossas vidas. Aqui fará grande diferença usar um telemóvel ou um computador/écran colocado num ambiente mais profissional.

  1. Permite ver as pessoas nos seus “habitats” naturais

Isto é algo impossível de obter numa sessão presencial. A experiência de terapia remota é menos controlada e pode revelar-se mais viva e rica em certos aspetos importantes. Quando estamos nas nossas casas, existem outros fatores externos íntimos que podem interferir. As crianças podem subitamente aparecer, tal como os animais de estimação. Vemos o espaço da pessoa, que inevitavelmente nos transmite certas sensações e informações.

  1. Os pacientes podem sentir-se mais seguros

Existe na teleterapia uma maior sensação de controlo. O paciente está na sua própria casa, no seu espaço. A dinâmica de poder torna-se assim mais nivelada. É natural que isso influencie a forma como a pessoa se irá expressar. Podendo revelar com maior facilidade alguns tipos de sentimentos. Esta solução dá também uma maior força a que a pessoa controle quando a sessão chega ao fim. Afinal tudo o que basta é carregar num botão vermelho no écran.

  1. A teleterapia facilita o acesso a cuidados de saúde

Muitas pessoas não têm acesso a um terapeuta perto da sua morada de residência. Esta solução remota resolve esse problema e abre as portas para que muitas mais pessoas possam iniciar tratamentos e receber apoio. É igualmente uma alternativa que envolve custos mais reduzidos tanto para o terapeuta como para o paciente. Se por um lado este tipo de sessões tem um custo mais reduzido, é também verdade que para o terapeuta deixa de ser necessário pagar o aluguer de um consultório ou fazer uma deslocação de carro tão frequente.

 

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