Rebeca Jomori, Fisioterapeuta especializada na área do desporto na Clínica Physiokinesis, explica o que está em causa quando se fala em overtraining.
A palavra “overtraining” pode ser usada em diferentes contextos. De uma forma geral, é utilizada para referir um processo de treino intensivo com consequências a curto prazo.
No entanto, em muitos artigos científicos, o termo “overtraining” é usado também para referir uma síndrome, com etiologia multifatorial, em que o exercício físico excessivo não é necessariamente o único causador do problema.
Fatores como má nutrição, doenças associadas, stress psicológico (trabalho, estudos, família) e distúrbios do sono podem também estar presentes.
EM QUE CONSISTE ESSA SÍNDROME DE OVERTRAINING?
Caracteriza-se por uma queda na performance atlética, associada a alterações de humor.
Tem como principais causas erros de prática, com um volume exagerado de atividade física sem o descanso adequado, excesso de competições e problemas pessoais e emocionais, que resultam num desequilíbrio entre carga e recuperação.
QUAIS SÃO OS SINAIS QUE DEVEMOS TER EM CONTA?
A degradação da condição física, com perda de força e resistência, é um dos sintomas mais notados, mas dor muscular persistente, sensação de fadiga crónica, mudanças de humor com quadro de depressão e irritabilidade, alterações hormonais, queda da resistência imunológica e perda da qualidade do sono são também sinais de alerta.
As lesões podem igualmente indiciar treino excessivo. E outro sinal muito típico é a elevação significativa da frequência cardíaca em repouso. Este último parâmetro pode inclusive ser utilizado para diagnóstico.
Atletas de elite e aqueles que estejam em “grupo de risco” para o overtraining devem criar o hábito de medir a frequência cardíaca regularmente, de preferência logo de manhã ao acordar, e manter-se atento a qualquer subida inexplicada.
O QUE ACONTECE AO CORPO QUANDO É LEVADO ALÉM DO SEU LIMITE?
As consequências podem ser de natureza física, muscular e articular, mas o overtraining também pode causar alterações no sistema nervoso autónomo e hormonal, bem como malefícios ao nível psicológico.
Treinar em excesso enfraquece o sistema imunitário e as constipações, tosses e inflamações tornam-se uma constante.
Surgem também as chamadas lesões de sobrecarga, pequenas lesões que afetam a integridade dos ossos, músculos e tendões de forma ligeira, mas que tendem a agravar-se com o estímulo repetitivo e sem tempo suficiente para se curarem, para passarem pelo processo natural de reparação.
Fraturas por stress, condromalacias (desgaste da articulação do joelho), tendinopatias e dor forte na região das virilhas e púbis (pubalgia) são também exemplos das lesões mais comuns de overtraining.
O OVERTRAINING ESTÁ A AUMENTAR?
A incidência da síndrome em atletas de elite tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos, facto que é responsável pelo crescente interesse de investigadores na procura de medidas capazes de prevenir ou tratar tal síndrome.
COMO SE ULTRAPASSA O PROBLEMA? BASTA REDUZIR A INTENSIDADE DOS TREINOS?
O primeiro passo para o tratamento é a redução na carga de treino, dentro de um limite que o atleta tolere bem. Habitualmente, são necessárias 2 a 4 semanas de afastamento para recuperar do overtraining. Durante este período, deve haver uma aposta forte no sono e na alimentação, para otimizar a recuperação. Depois, o regresso aos treinos deve ser gradual e de acordo com a avaliação da frequência cardíaca em repouso.
Nos casos mais graves, pode ser necessário interromper a atividade física e as competições. Mas, no geral, quando o overtraining é diagnosticado a tempo, sem que haja complicações mais sérias, principalmente as provocadas pelos distúrbios hormonais, o quadro é, felizmente, reversível.