A pandemia veio abrir caminho para a sua desmistificação e colocá-la sob os holofotes públicos, tornando-a um desafio individual, mas também de saúde pública.
Novos problemas emergiram ou, finalmente, receberam a atenção devida, como é o caso do burnout, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu na lista de doenças ocupacionais, ou seja, das doenças contraídas em contexto laboral.
No Dia Mundial da Saúde Mental, 10 de outubro, a Médis alerta para a necessidade dos sintomas do burnout serem mais conhecidos, para que se possa prevenir ou detetar precocemente doença, evitando o seu agravamento.
SÍNDROME DE BURNOUT
Segundo a OMS, o burnout é um estado de esgotamento físico e mental causado pela incapacidade de gerir o stress decorrente de uma atividade profissional. Esta síndrome pode ocorrer, por exemplo, quando as exigências laborais são desajustadas face aos conhecimentos e/ou às capacidades dos trabalhadores.
Os sinais e sintomas do burnout podem passar por perda de produtividade laboral, sensação de exaustão, sentimentos negativos, acabando por também ter um impacto negativo sobre a vida pessoal e familiar do profissional.
O IMPACTO NO ORGANISMO E SINTOMAS TRANSVERSAIS
Ao caracterizar-se como um estado de exaustão, seja a nível físico, emocional, mental ou comportamental, o burnout tem consequências que, mais cedo ou mais tarde, são visíveis no organismo. Estar em burnout é viver num stress constante, sempre em alerta.
E biologicamente, tudo fica desregulado. Aumentam as hormonas do stress (níveis de cortisol) assim como a tensão arterial e o nível de açúcar no sangue (glicemia). Os sistemas hormonal, neuroendócrino e imunológico ficam desequilibrados – consequentemente, as defesas do organismo ficam fragilizadas, potenciando o aparecimento de outras doenças.
Assim, é fundamental estar atento à frequência e constância dos sintomas:
· Físicos: Problemas gastrointestinais, aumento dos batimentos cardíacos (taquicardia) , sensação de falta de ar, tonturas, transpiração excessiva, problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga crónica, tensão muscular com dor, insónias, alterações do apetite, sistema imunitário fragilizado.
· Emocionais: Tristeza, apatia, falta de prazer nas tarefas diárias, frustração, irritabilidade, sensação de injustiça e de falta de recompensa, ansiedade, depressão ou baixa autoestima, entre outros sinais.
· Cognitivos: Dificuldade de concentração, lapsos de memória constantes, confusão mental, maior lentidão na execução de tarefas, decréscimo da criatividade, pensamento persistente no trabalho, necessidade de controlo.
· Comportamentais: Impessoalidade, atitude de crítica constante, evitamento, impulsividade e irritabilidade, abuso do consumo de tabaco, cafeína, álcool, drogas ou medicação.
· Sociais: Isolamento, falta de empatia, comportamento conflituoso com familiares, amigos e colegas de trabalho.
· Existenciais: Conflitos de valores e crenças, necessidade de redefinir prioridades e objetivos, raiva e revolta perante o caminho que a vida está a tomar, alteração da forma como o indivíduo se perspetiva.
· Laborais: Atrasos, absentismo, baixas médicas constantes, maior rotatividade laboral, maior número de erros no trabalho, baixa realização profissional, vontade de desistir e menor produtividade e eficácia.
COMO PREVENIR
O burnout não é uma síndrome atribuível a um grupo determinado de pessoas. Pelo contrário, ninguém está imune. Porém, há quem seja mais vulnerável, como pessoas com baixa autoestima ou dificuldade em lidar com o stress.
Praticar exercício físico, conviver com outras pessoas e aplicar técnicas de relaxamento, são um caminho possível para regular o organismo e a restabelecer o equilíbrio emocional.
No local de trabalho, também há estratégias de prevenção que propiciam a criação de um ambiente mais saudável. E as empresas podem contribuir de forma decisiva. Algumas medidas:
· Estabelecer expetativas realistas a todos os Colaboradores e garantir que todos as compreendem;
· Garantir os recursos e as competências que tornem as expetativas exequíveis;
· Criar planos de formação contínua para desenvolver ou consolidar competências;
· Alinhar objetivos e valores da empresa com os Colaboradores e demonstrar a importância do seu contributo para o sucesso da empresa e para a sua realização profissional;
· Estabelecer horários de trabalho razoáveis e possibilitar, se possível, trabalho o remoto;
· Encorajar o apoio mútuo e o respeito dentro das equipas;
· Encorajar os Colaboradores a praticarem atividade física, criando, por exemplo, grupos informais para a prática de uma modalidade;
· Promover curtos períodos de férias (e.g., fins de semana prolongados) para Colaboradores que concentrem demasiado os seus dias de férias num determinado período do ano;
· Capacitar chefias para a identificação e mitigação do risco de burnout.