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Opinião: «Hiper-realistas, bebés reborn podem ser confundidos com bebés reais: brinquedo ou apoio emocional?», Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta

Artigo de opinião de Alberto Lopes, neuropsicólogo/hipnoterapeuta das Clínicas Dr. Alberto Lopes

Começo por assumir, com frontalidade, que este é um tema delicado e, para muitos, até desconcertante. Ao escrevê-lo, sei que corro o risco de ser criticado, mal interpretado ou até ridicularizado. Mas acredito que há conversas que precisam de acontecer — mesmo que causem desconforto. Quem critica, ri. Mas quem verdadeiramente procura compreender, observa.

“Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um facto. Tudo o que vemos é uma perspetiva, não a verdade.” Esta frase, tantas vezes atribuída a Marco Aurélio, surge-me com especial força ao refletir sobre fenómenos contemporâneos como o dos bebés reborn. É fácil julgar. Nas redes sociais, é ainda mais fácil zombar, expor, vilipendiar. O tribunal do virtual é rápido no veredicto, mas raramente justo na escuta.

Peço apenas isto: que me escutem. Porque este texto não é sobre bonecos de silicone. É sobre o vazio. É sobre as dores silenciosas que habitam corações adultos. É sobre perdas que nunca foram elaboradas, afetos que nunca encontraram um lugar seguro para florescer.

Para quem ainda não ouviu falar, os bebés reborn são bonecos hiper-realistas, esculpidos em silicone ou vinil, com um nível de detalhe tão impressionante que, à primeira vista, podem ser confundidos com bebés reais. Este fenómeno, que começou como uma arte e se expandiu para uma indústria de milhões, tornou-se nos últimos anos um foco de debates acesos — especialmente quando adultos adotam esses bonecos como substitutos emocionais, atribuindo-lhes cuidados, nomes e até identidades.

Por um lado, há quem veja nos bebés reborn uma ferramenta terapêutica legítima. Alguns psicólogos utilizam-nos em contextos específicos, como no acompanhamento de mulheres que sofreram perdas gestacionais, idosos com demência ou pessoas com dificuldades emocionais profundas. Nestes casos, o boneco pode ajudar a desbloquear emoções, oferecer consolo temporário e funcionar como âncora afetiva num momento de grande dor. O cuidar simbólico pode devolver algum sentido, alguma estrutura a um mundo interior devastado pela ausência ou pela perda.

No entanto, é aqui que emerge o verdadeiro paradoxo — e talvez o ponto mais controverso de toda esta reflexão. Quando a substituição simbólica, inicialmente compreensível e até terapêutica, se transforma numa realidade alternativa em que se apaga a fronteira entre fantasia e vida real, entramos num território delicado, onde a empatia corre o risco de se tornar conivente com a alienação.

Pergunto, com a seriedade que o tema exige: estaremos, em nome da compreensão emocional, dispostos a normalizar adultos que trocam fraldas limpas a bonecos, que lhes dão mamadeiras, que celebram festas de aniversário ou chás de bebé? Podemos aceitar que alguém procure serviços de urgência hospitalar convencido de que o seu bebé de silicone está doente? Ou que crie perfis nas redes sociais para os seus “filhos reborn”, exigindo reconhecimento e respeito social por essa fantasia?

A questão aqui não é ridicularizar — é delimitar. Será isto um gesto de amor? Ou o reflexo de uma sociedade emocionalmente falida, incapaz de lidar com a dor, e por isso viciada em vínculos seguros, controláveis, isentos de risco? O que estamos realmente a normalizar: empatia ou evasão da realidade? A doçura simbólica ou a negação ativa da sanidade?

Enquanto milhões se emocionam com bonecos perfeitos, milhares de crianças reais vivem em orfanatos, aguardando uma adoção que nunca chega. Crianças de carne e osso, abandonadas, negligenciadas, silenciadas. E simultaneamente, investem-se recursos e afetos em “filhos” de vinil — cuidadosamente embalados, mas sem alma, sem reciprocidade, sem vida.

Será que a dor do vazio existencial encontrou linguagem simbólica na adoção de um bebé reborn? Sim, é possível. Mas essa mesma hipótese levanta perguntas ainda mais profundas: qual é o limite entre o reparo simbólico e o colapso da realidade?

E é aqui que as lentes da psicologia e da psicanálise oferecem perspetivas preciosas — não para julgar, mas para compreender. Porque, no fundo, é dor que encontrou uma linguagem.

Winnicott e o “objeto transicional”

Segundo Donald Winnicott, pediatra e psicanalista britânico, o “objeto transicional” é um elemento externo que ajuda a criança a suportar a ausência da mãe, funcionando como um elo entre o mundo interno e o mundo real. Pelos olhos de Winnicott, o bebé reborn pode operar como esse objeto transicional em adultos que não completaram simbolicamente as suas experiências de maternagem. O boneco torna-se uma ponte entre um vazio emocional e o desejo inconsciente de afeto, acolhimento e controlo sobre a dor.

Freud e a regressão emocional

Sigmund Freud descreveu a regressão como um retorno psíquico a estágios mais primitivos do desenvolvimento. Neste contexto, cuidar de um bebé reborn pode ser entendido como uma tentativa de regressar a um tempo simbólico onde o sujeito, agora adulto, se coloca na posição de cuidador idealizado — o que ele próprio talvez nunca tenha tido. É uma forma de cuidar da sua própria criança interior. De simbolicamente oferecer aquilo que lhe foi negado.

Lacan e o Eu ideal

A lente lacaniana acrescenta mais uma camada de compreensão. Jacques Lacan propõe que o ser humano é estruturado a partir da falta e do desejo. O bebé reborn pode ser visto como uma projeção do “Eu ideal” — um espelho simbólico onde o sujeito deposita a imagem idealizada de si. O boneco é vestido, cuidado, embelezado… como se, ao cuidar dele, a pessoa estivesse também a cuidar da imagem do self que gostaria de ter sido ou de ser.

Para a TCC podemos estar perante uma tentativa de reparar a maternidade frustrada, os vínculos interrompidos

Para a psicologia cognitiva comportamental a adoção de um bebé reborn é uma forma de compensação por uma maternidade frustrada. Ou seja, casos de mulheres (e homens) que vivem o luto de uma maternidade interrompida — seja por infertilidade, aborto espontâneo ou perda gestacional. Para estes adultos feridos, o reborn oferece a ilusão de um cuidado sem risco, sem exigência. Uma maternidade “segura”, onde a dor é contida e o afeto, embora simbólico, pode fluir. O que para muitos é bizarro, para alguns é a única forma de manter vivo o desejo que a realidade frustrou.

Como neuropsicólogo e hipnoterapeuta, é-me difícil não observar neste fenómeno como um sintoma de um colapso emocional coletivo. Os traumas quando ignorados ou escondidos arranjam formas de nos castigarem. A dor que não é elaborada transforma-se em fantasia, ilusão sem responsabilidade. O medo da frustração gera idealizações. E o desejo de controlo sobre o incontrolável — como é o caso de um filho real, com todas as suas imprevisibilidades — faz com que se procure um amor sem exigência, um cuidado sem risco, uma maternidade sem dor. O bebé reborn oferece isso: um “filho” que não chora, não adoece, não cresce, não contraria.

Conclusão

Gostaria de concluir esta reflexão com uma pergunta que não me abandona: não estaremos, sem nos darmos conta, a criar um culto silencioso à ilusão — disfarçado de ternura? Ao normalizarmos a dor do vazio existencial, com gestos que imitam o cuidado, mas fogem da realidade, não estaremos a permitir que um comportamento profundamente desviante se torne aceitável — e até louvável — em nome da compaixão?

E se, movidos por uma empatia mal compreendida, estivermos a ignorar sinais de alarme que nos pedem escuta e intervenção? O risco é grande: o de legitimar, como se fosse estilo de vida, aquilo que talvez seja um grito silencioso de dor e de isolamento. Porque nem tudo o que parece ternura é amor. Nem tudo o que conforta… cura.

Pretendo deixar claro que não se trata de julgar, mas de compreender. Sabemos que as emoções humanas são complexas e os contextos de cada um são únicos. Mas também é importante reconhecer que nem todas as soluções que nos confortam são saudáveis. A realidade é dura, sim. As perdas são dolorosas. Mas há uma beleza e uma força únicas em aprender a viver com o real — com a sua imprevisibilidade, com a sua dureza, com a sua verdade.

No fim, talvez a pergunta mais relevante não seja se os bebés reborn são brinquedos ou apoios emocionais. A verdadeira questão é: o que estamos a tentar evitar quando os escolhemos? Que dor estamos a silenciar com tanto zelo? Que parte de nós ficou esquecida, negligenciada, sem colo — e agora procura, através do cuidado simbólico, um gesto de reparação?

Que vazio emocional é este que tenta ser preenchido com uma parentalidade sem vida? Que ausência de rumo, de pertença, ou até de propósito existencial leva alguém a investir tanto afeto numa ligação que, por mais terna que pareça, é unidirecional e sem reciprocidade?

Cuidar de um boneco pode parecer inofensivo, até terno. Mas quando esse gesto substitui o cuidado de si, ou se transforma num simulacro de vida, torna-se urgente perguntar: estamos a curar uma ferida… ou apenas a disfarçá-la com fantasia?

Talvez o maior desafio da nossa era seja este: voltar a ligar-nos ao outro, ao humano, ao imperfeito — em vez de nos refugiarmos em fantasias perfeitas feitas de vinil.

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