Os Perfis de Saúde dos países da UE, que resultam de uma parceria entre a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e o Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, são publicados bienalmente, incluindo a edição de 2023 pela primeira vez uma parte dedicada à saúde mental, avança a Lusa.
Citando dados do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, o estudo divulgado pela OCDE precisa que os 22% da população representavam 2,25 milhões de indivíduos e que a média da UE era de 16,7%.
“Os transtornos de ansiedade foram os mais prevalentes, afetando aproximadamente 9% da população, seguidos dos transtornos depressivos (6%) e dos relacionados com o consumo de álcool e drogas (4%)”.
Em relação à depressão, as mulheres portuguesas apresentam taxas mais altas do que os homens, tal como noutros países da UE.
No entanto, os dados de Portugal mostram “a maior disparidade de género na prevalência da depressão” em toda a União, com 2,2 mulheres que dizem sofrer de depressão por cada homem, quando o rácio médio do bloco é de 1,6 mulheres para cada homem.
Por outro lado, os homens têm quase quatro vezes mais probabilidades de se suicidarem, indica o estudo, assinalando que a taxa de suicídio em Portugal é inferior à média da UE e que desceu mais de 10% na última década.
Ainda assim, o suicídio em Portugal “continua a ser um problema de saúde pública, especialmente nas regiões do sul” e constituiu 0,76% de todas as mortes em 2020, indicando a investigação e a prática clínica que os problemas de saúde mental são fatores de risco significativos.
O perfil do país revela ainda que os serviços especializados para o tratamento dos transtornos mentais enfrentam dificuldades devido à “escassez de pessoal e à falta de critérios de referência padronizados”, o que leva a longas listas de espera.
Adianta que o Programa Nacional para a Saúde Mental deverá melhorar a disponibilidade dos serviços de saúde mental e atenuar as suas disparidades regionais nos próximos anos.
O Perfil de Saúde de Portugal refere também que, em 2022, a “esperança de vida à nascença excedeu num ano a média da UE, refletindo grandes avanços nas duas décadas anteriores à pandemia de covid-19 e uma recuperação quase total dos perto de 10 meses de declínio durante o primeiro ano da pandemia”.
As principais causas de mortalidade em 2020, responsáveis por metade de todas as mortes, foram as doenças circulatórias e o cancro, indicando dados de 2019 que quase um terço das mortes em Portugal estavam ligadas a fatores de risco comportamentais, “uma proporção mais baixa do que na maioria dos outros países da UE”.
A propósito, o estudo revela que houve uma diminuição da taxa de tabagismo nos últimos anos, enquanto o consumo excessivo de álcool se tornou mais comum.
A preocupação com a obesidade tem vindo a crescer, sendo mais de 17% dos adultos considerados obesos. Além disso, a taxa de atividade física regular tanto dos adultos como dos adolescentes está entre as mais baixas da UE.
De acordo com o estudo, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta desafios na contratação de médicos e enfermeiros, “afetando a atratividade do trabalho no setor público os relativamente baixos salários e as condições de trabalho stressantes”.
O resultado é uma “diminuição da cobertura” do SNS, variando as dificuldades de acesso aos cuidados entre os serviços e as regiões.
“As despesas de saúde de Portugal ascenderam a 11,1% do PIB (produto interno bruto) em 2021 – uma percentagem em linha com a média da UE, mas mais de um terço abaixo da média do bloco em termos ‘per capita’”, indica, adiantando que “entre 2019 e 2021, os gastos com saúde aumentaram 14% em termos reais, impulsionados por um aumento de 18,5% da despesa pública para responder à covid-19 e minimizar atrasos no atendimento”.
Apesar deste aumento, as despesas privadas com a saúde (a cargo dos utentes, incluindo seguros e associações mutualistas) representaram “mais de um terço” do total dos gastos, quase o dobro da média da UE.
É referido ainda que Portugal está a tomar medidas para expandir a rede de cuidados de saúde primários, para resolver atrasos no rastreio do cancro e nas cirurgias e para “melhorar a eficiência e integração dos serviços de saúde a todos os níveis”.