Assinala-se hoje o Dia Mundial da DPOC. Mas porquê assinalar o Dia Mundial da DPOC? A DPOC representa um desafio de saúde pública importante, pois afeta 800 mil portugueses, o que significa que um em cada 7 portugueses com mais de 40 anos sofre de DPOC. A DPOC representa uma das 3 causas principais de morte a nível mundial, e prevê-se que aumente nas próximas décadas, decorrente da exposição continuada aos fatores de risco e do envelhecimento da população. É uma doença que causa importante morbilidade crónica e mortalidade em várias regiões do globo, mas apesar disso, é uma doença que se pode prevenir e tratar. Por ser uma doença sub diagnosticada, os doentes não recebem o tratamento adequado nem atempado, e por isso é importante neste dia lembrar esta doença que condiciona a qualidade de vida e leva à morte precoce.
O que é a DPOC?
A DPOC, ou doença pulmonar obstrutiva crónica, é uma doença pulmonar heterogénea caracterizada por sintomas respiratórios crónicos, como a falta de ar (ou dispneia), tosse, expetoração e/ou exacerbações destes sintomas. Esta doença aparece devido a alterações nas vias aéreas (bronquite, bronquiolite) e/ou nos alvéolos (enfisema) e que causa obstrução persistente, e frequentemente progressiva, do fluxo aéreo nos pulmões.
O que causa a DPOC?
A DPOC é causada pela exposição continuada de indivíduos suscetíveis a determinados fatores, o que causa dano pulmonar e/ou alteração do normal processo de desenvolvimento/envelhecimento pulmonar. Os fatores responsáveis pela DPOC são o tabaco, a inalação de partículas tóxicas e gases a partir das habitações (fumos da cozinha ou de aquecimento), a poluição aérea, a exposição a substâncias ocupacionais (pó, vapor, fumos, gases, químicos). Também pode ter uma causa genética (deficiência de uma proteína, a alfa 1 antitripsina), mas estes casos são raros, ou decorrente de fatores do próprio indivíduo, como baixo peso ao nascer, prematuridade ou infeções respiratórias da infância.
Quais são os sintomas característicos da DPOC?
Os doentes com DPOC tipicamente queixam-se de falta de ar, limitação na realização das atividades diárias e/ou tosse com ou sem expetoração, e podem apresentar eventos agudos com agravamento destes sintomas e que são designados de exacerbações. No doente com DPOC a falta de ar é geralmente progressiva, piora com o exercício físico e torna-se persistente.
Como se manifesta os casos graves de DPOC?
Estes doentes geralmente apresentam, também, perda de peso, perda da massa muscular, falta de apetite (ou anorexia), edema dos tornozelos e sintomas de ansiedade ou depressão. Os casos graves ou muito graves estão associados a pior estado de saúde, aumento do risco de exacerbações e idas ao serviço de urgência. Podem ainda condicionar insuficiência respiratória com compromisso das trocas gasosas a nível pulmonar.
Como se diagnostica a DPOC?
Quando há suspeita clínica, pela presença de sintomas sugestivos, e uma história pessoal de exposição a fatores de risco, o doente deve fazer um estudo funcional respiratório (espirometria ou pletismografia). Neste contexto, e se este exame revelar obstrução do fluxo aéreo não completamente reversível, então confirma-se o diagnóstico de DPOC. Este exame permite também determinar a gravidade da doença e o risco de exacerbações futuras. Outros exames, como exames de imagem (radiografia ou tomografia computorizada pulmonar) podem também ser solicitados.
Que outras doenças podem apresentar os doentes com DPOC? Os doentes com DPOC podem apresentar várias doenças concomitantes, como as doenças cardiovasculares, a disfunção dos músculos esqueléticos, a síndrome metabólica, a osteoporose, a depressão, a ansiedade, a apneia obstrutiva do sono e o cancro pulmonar. Estas doenças concomitantes podem influenciar o estado de saúde do doente com DPOC, ser motivo de hospitalizações e de morte, independentemente da gravidade da própria DPOC.
Porquê tratar a DPOC?
O diagnóstico precoce desta doença pode ter um impacto considerável em saúde pública, pois leva à redução dos sintomas e do risco de futuras exacerbações, com melhoria no estado de saúde e na tolerância ao exercício. O tratamento também melhora a função pulmonar e diminui a mortalidade.
Qual é o tratamento farmacológico da DPOC?
O tratamento da DPOC deve ser individualizado com base na gravidade dos sintomas, no risco das exacerbações, nos efeitos colaterais dos fármacos, nas comorbilidades, no custo e até nas preferências individuais. Os principais fármacos são inalados, podendo o doente com DPOC ter de fazer uma ou mais substâncias inaladas (broncodiladores e corticoides inalados), e nos casos mais graves associação de fármacos inalados e, ainda, de fármacos orais (como o roflumilast e a azitromicina). Os fármacos inalados para serem eficazes precisam de ser inalados mediante uma técnica adequada e usando corretamente o dispositivo de inalação. Alguns doentes com DPOC podem, também, necessitar adicionalmente de agentes mucolíticos e de metilxantinas.
Qual é o tratamento não farmacológico da DPOC?
Nalguns casos, para além dos fármacos, os doentes também devem fazer reabilitação pulmonar, com melhoria dos sintomas, tolerância ao esforço e da qualidade de vida. Os casos graves podem ter, ainda, indicação para apoio nutricional, oxigenoterapia, ventiloterapia, intervenção cirúrgica, broncoscópica ou mesmo paliativa (cuidados de fim de vida).
O que são exacerbações e como tratar?
A exacerbação é um episódio caracterizado por dificuldade em respirar, tosse e/ou expetoração com agravamento em menos de 2 semanas. O tratamento deve ser atempado para minimizar o impacto negativo na saúde e na progressão da doença. Como tal, durante uma exacerbação da DPOC, o doente deve ser avaliado pelo médico para ajuste da terapêutica broncodilatadora, acrescentar eventualmente antibiótico (em caso de infeção respiratória) e outros fármacos que possam ser necessários, como os corticoides orais, ou encaminhar para um serviço de urgência.
Como prevenir a DPOC?
Todos os fumadores devem deixar de fumar, e o seu acompanhamento na Consulta de Cessação Tabágica com a prescrição de farmacoterapia são passos chave para o sucesso. Neste momento não há evidencia científica de que os cigarros eletrónicos sejam uma ajuda no processo de cessação tabágica. Nos doentes com DPOC as vacinas estão indicadas, como a do COVID-19, da gripe, as pneumocócicas, do vírus sincicial respiratório e do vírus zoster, pois reduzem risco de infeções respiratórias e consequentemente o risco das exacerbações da DPOC. Por fim, o doente com DPOC deve adotar um estilo de vida saudável, o que passa por uma dieta equilibrada e hábitos regulares e saudáveis de sono, e, ainda, fazer regularmente exercício físico adaptado à sua condição, pois todos são meios eficazes de prevenção da progressão da doença.
Caso possa ter DPOC, não descure da sua saúde e marque uma Consulta de Pneumologia!