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Já ouviu falar na doença da língua azul? Está em Portugal, predominantemente nesta região

A febre catarral ovina, conhecida como doença da língua azul, está a ‘ganhar terreno’ no Alentejo e a dizimar rebanhos, já com milhares de animais mortos, provocando prejuízos aos criadores, que se queixam de falta de apoios.

29 Outubro 2024
Forever Young com Lusa

“Eu tenho 20 anos de agricultura e nunca na vida assisti a uma situação destas, nem parecida”, confessa à agência Lusa o presidente da Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL), Diogo Vasconcelos, que também é criador de ovinos.

O novo serotipo 3 do vírus que provoca a doença é transmitido através de insetos, afetando sobretudo os ovinos, e foi detetado, pela primeira vez, em meados de setembro, no distrito de Évora, tendo alastrado, desde então, a todo o Alentejo.

Com a expansão do vírus, os rebanhos estão diariamente a sofrer baixas e o Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), gerido pela associação ACOS – Agricultores do Sul, com sede em Beja, ‘não tem mãos a medir’.

“O nosso pico [de recolha] normalmente é depois de agosto, quando recolhemos cerca de 400 num dia, que é o que tem acontecido em anos anteriores, mas hoje tivemos mais de 2.000 animais para recolher”, exemplifica à Lusa o presidente da ACOS, Rui Garrido.

O dirigente agrícola assinala que este número de cadáveres de animais recolhidos representa “cinco vezes mais do que em igual período do ano passado” e alertou para as proporções que a situação está a ganhar no Alentejo.

No distrito de Évora, onde a AJASUL tem a maioria dos associados, a situação é “desastrosa a todos os níveis”, com “a morte de muitos animais e perdas enormes de produtividade” nas explorações, segundo o presidente desta associação.

Sem dispor de dados oficiais, Diogo Vasconcelos diz que será “difícil de apurar” a dimensão do problema, pois há “agricultores que não declaram [a doença] e os serviços não têm capacidade para analisar”, mas arrisca que “80% a 90% das explorações foram afetadas”.

“Todos os rebanhos estão a fazer a sua maior parição anual e as perdas têm sido enormes”, afirma, salientando que, além da morte de ovelhas, a doença da língua azul também provoca o aborto e o nascimento prematuro de borregos.

Com um efetivo de cerca de 650 ovinos, este criador alentejano, em pouco tempo, viu morrerem 30 ovelhas e mais de 100 borregos, que já nasceram mortos ou acabaram por morrer após a nascença, prevendo que ainda morram mais animais.

“As ovelhas [que têm a doença], mesmo parindo, parem borregos prematuros, que não conseguem mamar e não estão desenvolvidos”, pelo que “grande parte deles acaba, infelizmente, por morrer”, salienta.

Criticando o que diz ser “um problema grave de inação por parte do Estado”, pois “a doença já está declarada há muito tempo na Europa”, o presidente da AJASUL lamenta que não tenha sido disponibilizada em tempo útil a vacina que previne a doença.

“Não vacinámos para prevenir, não temos vacina agora e, a somar a estes prejuízos todos incalculáveis, ainda tem que ser o produtor a pagar as vacinas, porque o Estado não financia”, critica.

Mas, mesmo “aqui ao lado”, em Espanha, os produtores de ovinos “já têm a vacina paga pelo Estado e em quantidade”, compara.

O dirigente agrícola reclama do Estado o pagamento da vacina e uma compensação aos criadores pelas perdas de produtividade provocadas pela doença.

Também os rebanhos do distrito de Portalegre não escapam à doença e, de acordo com o Agrupamento de Produtores Pecuários do Norte Alentejano – Natur-al-Carnes, estão a surgir diariamente novos casos da doença na região.

Há casas agrícolas que já registaram “uma quantidade enorme de baixas” nos últimos dias, relata à Lusa o presidente do conselho de administração da Natur-al-Carnes, Manuel Goes.

Lembrando que a época do Natal é propícia à venda de borregos, o responsável deste agrupamento de produtores admite que, este ano, o negócio seja prejudicado, devido ao surto de língua azul.

“Podíamos ter uma ajudinha do tempo, se começar a mudar”, já que “o frio vai contra o ciclo do mosquito” mas, para já, o que há a fazer “é desinfetar os rebanhos”, acrescenta.

Na última sexta-feira, em comunicado, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou para a “grave crise financeira e económica” em Portugal provocada pela febre catarral ovina e reclamou a intervenção urgente do Governo.

“É da maior urgência que a tutela intervenha de forma célere, minimizando os custos para os produtores e assegurando a continuidade das explorações e a sua sustentabilidade económica”, defendeu a CAP, indicando que a doença já afeta todo o Alentejo e chegou aos “distritos de Santarém e Castelo Branco”.

SM/CYMP/HYT // RRL

Lusa/Fim

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