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Opinião: «Será o riso apenas uma expressão de felicidade?», Andreia Filipe Vieira, psicóloga clínica

19 Maio 2025
Andreia Filipe Vieira, psicóloga clínica, especializada em Psicoterapia Psicodinâmica

Artigo de opinião de Andreia Filipe Vieira, psicóloga clínica, especializada em Psicoterapia Psicodinâmica

O riso, fenómeno humano aparentemente simples, é, na verdade, uma expressão multifacetada do funcionamento psíquico. Pode surgir como manifestação de prazer genuíno, mas também como um mecanismo de defesa. Compreender o riso nas suas diferentes dimensões permite-nos aceder a camadas profundas da experiência emocional e relacional.

Na perspectiva psicodinâmica, o riso pode ser interpretado como uma defesa psíquica (um modo inconsciente de lidar com conteúdos internos conflituosos ou emoções difíceis de tolerar, como a ansiedade, a tristeza ou a raiva). Ao rirmo-nos de algo doloroso ou desconfortável, podemos estar a afastar temporariamente o sofrimento, transformando a angústia em algo mais suportável. O humor, neste contexto, funciona como uma sublimação, permitindo que conteúdos reprimidos sejam expressos de forma socialmente aceitável e até valorizada… ou até, uma forma de relativizar a situação.

Por exemplo, pacientes que recorrem ao riso em momentos de vulnerabilidade na sessão podem estar a evitar o contacto directo com afetos intensos. Em vez de chorarem ao partilhar uma perda, riem, talvez como forma de proteger-se da dor ou de manter o controlo sobre emoções sentidas como angustiantes. É importante, nestes casos, que o terapeuta reconheça e acolha esta defesa com empatia, ajudando o paciente a explorar o que o riso está, silenciosamente, a dizer.

Contudo, o riso não é apenas defesa. É também, e de forma poderosa, uma expressão autêntica de alegria, liberdade e conexão. Rir com alguém pode representar uma abertura emocional, um momento de intimidade partilhada. O riso liberta tensões, reforça vínculos e promove o bem-estar físico e psicológico, estimulando a libertação de neurotransmissores como a dopamina e as endorfinas.

Num mundo marcado pelo stress e pelo sofrimento psíquico, rir tornou-se também um acto de resistência e de saúde. Não por negar a dor, mas por encontrar espaços onde a leveza pode coexistir com a complexidade da vida emocional. O riso, quando espontâneo e vivido plenamente, pode ser sinal de um ego saudável e de uma capacidade de brincar com a realidade, uma função essencial no desenvolvimento emocional.

Na clínica, é fundamental escutar o riso com atenção. Nem todo riso é igual, e o seu contexto, intensidade e frequência dizem-nos muito sobre o funcionamento interno de cada um. Rir pode ser um modo de pedir ajuda, de desviar o olhar do que dói, ou de celebrar um momento de insight e crescimento.

Neste dia, propomos que se pense no riso não apenas como sinal de felicidade, mas como um espelho do mundo interno, uma via de expressão, de contacto e de transformação. Que possamos rir de forma consciente e sensível, promovendo tanto a leveza como a profundidade da experiência humana.