O Papa Francisco morreu na segunda-feira, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e de uma consequente paragem cardíaca irreversível. De acordo com certidão de óbito, assinada pelo diretor do departamento de saúde e higiene da Cidade do Vaticano, Andrea Arcangeli, Francisco sofreu um AVC que conduziu a um coma e a um “colapso cardiovascular irreversível”. Além das causas da morte, a certidão de óbito revela também as condições pré-existentes do Papa, nomeadamente o episódio “de insuficiência respiratória aguda em pneumonia multimicrobiana bilateral” que o levou a passar cinco semanas internado num hospital em Roma, em estado crítico.
A Forever Young falou com Manuel Ribeiro, Coordenador do Centro de Referência de Neuroradiologia de Intervenção da ULS Gaia e Espinho, para perceber melhor esta condição e as suas consequências, que no caso do papa Francisco se veio a revelar fatal.
O que exatamente é um AVC e quais são os tipos?
Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) resulta da lesão do parênquima cerebral de causa vascular, podendo ser isquémico, quando existe um bloqueio do fluxo de sangue, ou hemorrágico, quando existe uma rutura de um vaso sanguíneo e o parênquima cerebral é inundado pelo sangue.
Quais são os principais sintomas de um AVC?
Os sintomas mais comuns de AVC são os 3 “F”: dificuldade em falar, desvio da face (boca ao lado) e falta de força num dos lados do corpo (braço ou perna).
Que fatores de risco aumentam a chance de uma pessoa ter um AVC?
Os principais fatores de risco modificáveis de AVC são a hipertensão arterial (chamadas “tensões altas”), o tabagismo, a diabetes mal controlada, o colesterol elevado, o excesso de peso, o sedentarismo, o consumo excessivo de álcool, e doenças do coração, como a insuficiência cardíaca e a fibrilação auricular.
É mais comum pessoas idosas, como o Papa, sofrerem um AVC?
Sim. O risco de AVC aumenta com a idade, por isso, é mais comum em pessoas idosas.
Um AVC pode levar à morte de forma rápida? Em quanto tempo?
Sim, nos casos graves, designadamente nos AVCs hemorrágicos, pelo crescimento célere do hematoma cerebral ou nos AVCs isquémicos com envolvimento do tronco cerebral, área que controla funções vitais, como a respiração e os batimentos cardíacos, podendo a morte ser rápida.
Quais são as sequelas mais comuns em sobreviventes de AVC?
Depende da parte do cérebro afetada e a gravidade está relacionada, muitas vezes, com a celeridade com que é instituído o tratamento. As sequelas mais comuns são as dificuldades motoras (fraqueza num dos lados do corpo) e na comunicação (dificuldade em falar ou em compreender). São também frequentes alterações cognitivas, da deglutição ou do foro emocional.
Há sinais prévios que indicam risco de AVC iminente?
Sim, por vezes há sinais de alerta conhecido como Acidente Isquémico Transitório (AIT), que causam sintomas semelhantes aos de um AVC, mas que se podem resolver em minutos ou horas. São um aviso importante que obriga a procurar o médico.
Existe alguma forma de prevenir o AVC em pessoas idosas?
Sim. Essencialmente controlar os fatores de risco de que falamos e adotar um estilo de vida saudável, designadamente, com exercício físico regular e uma boa alimentação.
Como é apurada a causa de morte por AVC em alguém que acabou de falecer?
Geralmente, faz-se uma análise clínica com base nos sintomas, nos exames prévios e nos antecedentes patológicos do doente. Em alguns casos, pode ser necessária uma autópsia.
É possível saber se um AVC foi a causa da morte só com autópsia?
Sim, a autópsia, nos casos de dúvida, pode ser totalmente esclarecedora, confirmando se existiu AVC (hemorrágico/isquémico) e sua localização e extensão.
É possível confirmar publicamente se a morte de um papa foi causada por AVC?
De acordo com o que foi anunciado pelo Vaticano o Papa Francisco terá sido mesmo vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e consequente paragem cardíaca.
Papas geralmente têm acompanhamento médico constante. Mesmo assim, o AVC pode acontecer de forma inesperada?
Claro que sim. O bom acompanhamento médico e o controlo dos fatores de risco vasculares reduz de forma significativa o risco de ter um AVC, embora não o consiga evitar em absoluto, ainda mais com o avançar da idade e com a existência de outras patologias associadas.
Um AVC pode ser confundido com outra causa de morte em idosos?
Em termos teóricos sim, embora na maioria das situações o diagnóstico é puramente clínico, podendo ser complementado com a avaliação dos exames auxiliares de diagnóstico.