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Bernardino Silva, o médico que há 40 anos criou raízes em Alvaiázere

No interior do distrito de Leiria, num território que parece mirrar devido ao despovoamento e envelhecimento da população, um médico de família criou raízes no concelho de Alvaiázere há 40 anos e só sai para a reforma.

16 Fevereiro 2025
Forever Young com Lusa

 

“A situação familiar e a estabilidade que [esta] exigia, exigia que eu não andasse a saltar muito de um lado para o outro ou a tentar concorrer para outros lados. E, no fundo, fui criando aqui, realmente, raízes”, conta Bernardino Ramos Silva, de 69 anos, à agência Lusa.

Desde 1985, as raízes foram crescendo, regadas por uma “certa afetividade às pessoas” e envolvimento em instituições locais.

“Tudo isto são raízes que nos criam, que depois nos prendem, de certa maneira, quer profissionalmente, quer até emocionalmente”, declara o médico, filho de agricultores de Alfaiates, no concelho de Sabugal (Guarda).

Após estudar Medicina em Coimbra, cidade onde reside, o médico trabalhou nos Hospitais da Universidade de Coimbra e, há quatro décadas, iniciou atividade em Alvaiázere, num tempo em que, por estradas nacionais, o trajeto tinha a duração de uma hora e 10 minutos. Agora, são cerca de 40 minutos, por autoestrada.

Outros caminhos, o mesmo é dizer outras oportunidades, “nomeadamente para perto de Coimbra”, surgiram, mas o médico insistiu e persistiu neste concelho.

“Agarrei-me a esta gente”, resume, perguntando: “Ir adaptar-me a outra gente, passar para outro lado para fazer a mesma coisa, o que é que eu beneficiava?”. Na poupança em deslocações, caso ficasse perto de casa, admite.

Reconhecendo que “o enriquecimento profissional passa também por mudanças, quer de lugar de trabalho, quer até de atividades dentro da própria profissão”, o médico nota que também o fez em Alvaiázere, no privado ou em instituições particulares de solidariedade social.

“Se daqui saísse, onde é que eu ia criar outra vez raízes?”, questiona.

Considerando que numa grande cidade ou no meio rural o exercício da prática clínica é o mesmo, o médico assinala, contudo, que “não será a mesma coisa socialmente”, para explicar que isto também pesa nos 40 anos (que se completam em agosto) que leva como médico de família no concelho.

Quando chegou a Alvaiázere, os censos de 1981 indicavam 10.510 residentes. Em 2021, eram 6.238 os habitantes, segundo o Instituto Nacional de Estatística.

Outras contas: em 1985, eram oito os médicos de família, contando com Bernardino Ramos Silva. Hoje, são três, também com o clínico. Acrescem dois tarefeiros.

Sobre o facto de haver desinteresse dos médicos em fixar-se nos meios rurais ou, como designou, na periferia, o clínico reconhece que “a cidade é muito mais atrativa”, desfiando ofertas que os grandes centros urbanos apresentam.

Mas expõe outra realidade: “Neste concelho, temos acesso rápido, neste momento, a Coimbra, Leiria, Lisboa e Porto, pelas autoestradas. Essa limitação que eu tive noutros tempos, com estradas em que eu ia daqui para Coimbra e saía de um buraco e metia-me em três”, já não existe, relata.

Por outro lado, Bernardino Ramos Silva refere ser necessário “haver mais espírito de doação ao serviço dos doentes” mesmo no meio das dificuldades que surjam.

“É preciso ter também um espírito de solidariedade, um espírito de abnegação para trabalhar na saúde. (…) É preciso ter um bocadinho de coragem e de amor ao próximo para vir para estes meios”, defende o também coordenador do Centro de Saúde de Alvaiázere, a única unidade de saúde no concelho.

As extensões de saúde fecharam e a prestação de cuidados de saúde ficou centralizada na sede do concelho.

“Decidi, juntamente com a Câmara, fechar as extensões locais todas, até porque eu estava a prever que o número de médicos ia falhar”, relata.

Em setembro de 2023, o município de Alvaiázere aprovou incentivos para a fixação de médicos de família que podem chegar aos 1.250 euros/mensais.

“É positivo [os incentivos]. Para manter aqui médicos durante alguns anos, é capaz de ajudar um bocadinho e acho que é bom que isso aconteça”, diz, observando que “o sacrifício de vir para a periferia é grande, sobretudo para quem vem de longe”.

Do concelho, destaca, como vantagens, a serenidade e a pacatez, assim como “uma facilidade tremenda de trabalho” e as boas paisagens e produtos.

Em sentido inverso, o despovoamento da população portuguesa e um “certo isolamento social”, que são colmatados agora por população estrangeira.

Com ela, surgem novos desafios, que obrigam a usar o inglês ou o Google Tradutor em consultas.

“Veja, num sítio destes, eu nunca imaginei ter de dar consultas em inglês”, acrescenta o médico, que completa 70 anos no final de 2025 e deverá reformar-se.

*** Sílvia Reis (texto) e Paulo Novais (fotos), da agência Lusa ***

SR // SSS

Lusa/Fim

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