Há tumores que passam despercebidos até metastatizarem para outros órgãos. Uma ferramenta informática baseada em Inteligência Artificial, que está a ser desenvolvida na China, poderia ajudar a responder a este enigma: os resultados preliminares superam os dos patologistas na identificação da origem das células cancerígenas metastáticas que circulam pelo corpo nos doentes oncológicos.
Se os resultados preliminares, publicados na revista Nature Medicine, se confirmarem, a ferramenta poderá ser útil aos oncologistas tanto para melhorar o diagnóstico e tratamento do cancro metastático como para prolongar a vida dos doentes.
Faisal Mahmood, especialista em aplicações de Inteligência Artificial na saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, destacou em declarações à Nature que se trata de uma «descoberta bastante significativa que pode ser usada como ferramenta de assistência».
Três em cada 100 tumores são de origem desconhecida. Essa percentagem aumenta até 5% segundo diversos investigadores. O prognóstico dos doentes com esse tipo de tumor costuma ser mau.
Além das biópsias, uma das formas utilizadas atualmente para diagnosticar o cancro metastático é o Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que analisa um grande número de segmentos de DNA do doentes de forma massiva e paralela.
Outro método de análise baseia-se na análise das células tumorais do corpo do paciente , no líquido abdominal ou pulmonar, e na tentativa de determinar a sua origem.
No Hospital Universitário Médico de Tianjin, na China, cerca de 300 mil doentes recebem tratamento contra o cancro a cada ano. E, deles, cerca de 4 mil são diagnosticados através da análise de células tumorais. Mesmo assim, em cerca de 300 pessoas é impossível determinar a origem do cancro metastático, diz Tian Fei, cirurgião especializado em cancro colorretal deste centro médico.
Por esta razão, Li Xiangchun, investigador de bioinformática na Universidade Médica de Tianjin, decidiu desenvolver um algoritmo de aprendizagem profunda com a sua equipa. O objetivo era que a ferramenta pudesse analisar as imagens e prever a origem dos cancro. Este algoritmo de Inteligência Artificial foi treinado com cerca de 30 mil imagens de células de 21 mil doentes com tumores de origem desconhecida.
Depois, eles testaram o seu modelo em 27 mil imagens. O resultado foi que havia 83% de possibilidade de a Inteligência Artificial prever com precisão a origem do tumor.
Além disso, havia 99% de possibilidades de a origem do tumor ter sido incluída nas três primeiras previsões do modelo.
Essa redução para três possíveis origens poderia ser útil, segundo Mahmood, pois reduz o número de exames complementares, que costumam ser intrusivos para o doentes. As previsões foram limitadas a doze fontes comuns de cancro, como pulmões, ovários, mama e estômago.