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Dia Mundial da Medicina Veterinária: «A cobardia do abandono», Nuno Paixão, médico veterinário

Artigo de opinião de Nuno Paixão, Médico Veterinário do Hospital VetCentral e Provedor dos Animais da CM Almada.

26 Abril 2025
Nuno Paixão, Médico Veterinário do Hospital VetCentral e Provedor dos Animais da CM Almada.

Todos os anos, chega ao verão e falamos de abandono de animais de companhia como se fosse uma tragédia desse ano e dessa época. No entanto por mais triste e revoltante que seja, o abandono de animais de companhia, acontece durante todo o ano e em todas as épocas. As justificações dadas para o abandono são variadas, tais como, problemas económicos por perda de emprego, aumento do custo de vida, mudança de residência para casas mais pequenas, para locais onde não aceitam animais, transferência de trabalho que implica mudar de casa, mudanças na estrutura familiar, tais como nascimento de um bebe, divorcio, doenças ou morte de alguém, expectativas irrealistas, em que quem adotou não compreendeu o compromisso necessário para cuidar de outra vida, questões de saúde tais como alergias, doenças do próprio animal, que o seu tratamento é dispendioso, por falhas na adoção responsável, que foi feita por impulso ou o animal foi dado como um “presente” e na realidade não era desejado, não passando de um capricho, problemas legais, que envolvem proibições de detenção de animais em determinados locais, problemas com raças especificas, litígios legais, etc.

Como vimos as “justificações” para se abandonar animais de companhia são variadas, sendo que algumas são de total irresponsabilidade e outras compreensivas até um certo ponto e essas pessoas devem ser ajudadas para que não abandonem o seu animal.

No entanto, podemos afirmar que abandonar um animal á sua sorte, é um ato de cobardia no mínimo e até pode ser um ato de crueldade criminoso. É uma fonte de sofrimento imensurável, disso também não há duvida. Causa sofrimento óbvio no próprio animal com consequências devastadoras a curto, medio e longo prazo. A sua saúde física fica em risco, risco de ma nutrição, pois muitas vezes não tem acesso a alimentação de forma regular, com perda de peso, sujeitos a doenças e infeções e ferimentos, quer por maldade de outras pessoas, atropelamentos, lutas contra outros animais, que podem levar a morte ou a uma morte lenta e em agonia na beira de uma estrada qualquer. O abandono, causa alterações na saúde emocional e comportamento dos animais abandonados. A perda do ambiente familiar e a incerteza sobre as suas necessidades básicas levam a stress e ansiedade constante. Focam com medo e desconfiança, o que vai dificultar a sua reabilitação e adoção futura. Leva a depressão pela solidão e falta de interação com pessoas e outros animais. Pode levar a comportamentos agressivos, destrutivos, automutilação, impossibilidade de virem a sociabilizar e desenvolvem medo de situações novas, o que levará a comportamentos indesejados no futuro.

Será fácil agora perceber que um cão abandonado á sua sorte, virá a ter problemas de saúde física e mental sérios que poderão impossibilitar a sua reabilitação e posterior adoção por uma família.

Além do sofrimento causado ao animal, que esse é o que realmente é imensurável, temos o sofrimento das pessoas que tentam ajudar a resolver o problema. O problema dos cuidadores informais de animais de rua, que todos os dias assistem ao sofrimento dos animais, ás suas doenças, aos seus traumas, aos atropelamentos e se vem impossibilitadas de os ajudar. Os tratadores que os ajudam em canis e associações que os recolhem na esperança de lhes conseguir uma boa família e que sofrem ao vê-los entrar, e sofrem ao verem os meses e anos a passar e ninguém os adota, não conseguindo uma casa, uma boa família que lhes de carinho. E

também acredito que as entidades, as pessoas que trabalham em instituições municipais e estatais que tentam e se veem impossibilitadas de resolver todos os problemas que estão á sua frente e que todos os dias são confrontados também sofrem horrores por não chegarem a todos os que precisam.

A culpa do abandono, é de todos nós, pois todos nós temos responsabilidades nisso. Achamos piada á cadelinha que teve uma ninhada e agora vamos dar os bebes aos vizinhos e amigos, ou porque deixamos os nossos animais irem dar uma “voltinha” sozinhos e passado uns tempos aparece uma cadela ou gata grávida e até a culpamos por isso. Porque vimos alguém a deixar um animal na rua e até ignoramos. Porque achamos que entre “homem e mulher, não se mete a colher” e fazemos o mesmo em relação a alguém e os seus animais.

Temos demasiados animais sem detentor responsável e isso só tende a piorar por falta de controlo no seu número. Durante décadas em Portugal, e não só, adotou se o abate de animais como forma de controlo do seu número. É obvio que o abate, não resolve o problema, caso contrário, não tínhamos problema que temos neste momento. Assim, temos que desenvolver estratégias, éticas, morais, científicas e eficazes para controlar a população de animais de companhia, assegurando a sua segurança, proteção e bem estar.

Os dois grandes pilares no controlo a médio e longo prazo, terá de passar pela identificação eletrónica (chip) de todos os animais de companhia e a esterilização massiva a nível nacional. A identificação eletrónica é obrigatória por lei no entanto o Estado deve investir na mesma, através de campanhas mais generalizadas, disponíveis todos os dias e em todas as épocas por todo o país. A identificação, até deveria ser grátis e coerciva. Ou seja, autoridades competentes deveriam identificar todos os animais com que se deparem em qualquer situação. Devem ser feiras fiscalizações diárias com identificação eletrónica coerciva e imediata. Só assim conseguiremos a tão desejada e chamada “detenção responsável”, em que conseguimos fazer a ligação de determinado animal com determinada pessoa ou instituição, podendo assim responsabilizar alguém e/ou ajuda la a resolver o seu problema com o seu animal. Não se pode aceitar que ainda existam animais de companhia “de ninguém”. Esse conceito não pode existir e terão de ser de alguém. Em ultimo caso, são sempre do município, mas isso não chega.

Outro pilar fundamental, passa pela esterilização de todos os animais de companhia, podendo haver exceções óbvias tais como animais de interesse genético, criadores registados e legais, impossibilidade por questões de saúde, etc. No entanto, a esmagadora maioria dos animais deviam ser esterilizados para impossibilitar seque o aparecimento de ninhadas por “acaso” que só contribuem para o mau estar de todos os animais. Sim há algum debate médico em torno da esterilização, mas estamos em estado de emergência, não são pormenores que podem impedir algo tão importante como o travar de imediato a reprodução de animais “em excesso”.

Qualquer euro que o Estado invista na identificação eletrónica e na esterilização, de cães e gatos, em Portugal, será recuperado em no máximo 5 anos, pois o número de animais irá reduzindo, os abrigos e centros de recolha oficial de animais ficaram com menos pressão, menos animais, levando a menores gastos e principalmente levará a menos sofrimento, sofrimento de animais e de pessoas envolvidas no processo.

A sociedade civil, os abrigos, as associações de proteção animal, estão exaustas, estão esgotadas e infelizmente não se vê a médio ou mesmo longo prazo, uma solução concertada, organizada e estrategicamente elaborada para todo o país, pois só assim se conseguirá ver uma luz ao fundo do túnel no acabar com o sofrimento generalizado.

Estamos numa fase em que a sensibilização, a consciencialização, apesar de importante, não chega. Precisamos de mão firme e eficaz no controlo da natalidade de novos animais e na responsabilização e detenção de animais de companhia. Ter um animal de companhia não é um capricho. Não é um direito, é sim um privilégio que temos de cuidar, proteger e acarinhar em todas as fases da sua e da nossa vida. Não são bonecos, são seres que sentem e que sofrem e o seu sofrimento é causado por nós, felizmente nem sempre de forma ativa, mas de forma passiva, pois não fazemos nada ou fechamos os olhos ao seu sofrimento.

Os animais de companhia, são isso mesmo, animais que devem viver na nossa casa, de forma segura, com bem-estar, com carinho e diria mesmo com amor. Se não o conseguimos, então devemos ter a coragem e responsabilidade de não os ter.

Termino pedindo a ajuda de todos na luta de uma identificação eletrónica e esterilização, generalizada, potencialmente gratuita e nacional de cães e gatos.

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