A obesidade é uma doença crónica e complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, associando-se a diversas doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, apneia do sono, vários tipos de cancro, entre outras. Contudo, nos últimos anos, tem emergido uma tendência preocupante: a romantização da obesidade. Este fenómeno, em que o excesso de peso é retratado de forma idealizada e sem consideração pelos riscos reais, surge como uma tentativa de promover a aceitação corporal e combater o preconceito, mas pode, inadvertidamente, minimizar os riscos associados à obesidade, trazendo consequências negativas para a saúde pública.
Num mundo onde o preconceito e a discriminação contra pessoas com obesidade ainda são uma realidade, o movimento de aceitação corporal é necessário e traz benefícios importantes, como o fortalecimento da autoestima e o incentivo à saúde mental. Questionar padrões de beleza irrealistas permite que as pessoas vivam com mais confiança e dignidade, independentemente do tamanho dos seus corpos. No entanto, em alguns casos, esta tendência de aceitação ultrapassa o limite e acaba por promover uma visão distorcida da obesidade, tratando-a como uma condição neutra ou, até mesmo, desejável. É aqui que a romantização se torna seriamente inquietante.
A obesidade não é apenas uma questão de aparência; é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença, devido às suas graves consequências para a saúde. O peso corporal e a distribuição de gordura são regulados por uma série de mecanismos neurológicos e hormonais que mantêm o equilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético. Quando existe uma desregulação deste sistema, ocorre um armazenamento do excedente energético sobre a forma de gordura. Por sua vez, o excesso de gordura corporal interfere no normal funcionamento do organismo, levando a uma inflamação crónica que aumenta o risco de diversas doenças.
Romantizar a obesidade pode levar a uma desvalorização desses riscos. Se a obesidade é apresentada como algo “normal” ou “saudável”, deixa de existir estímulo para que as pessoas procurem apoio médico ou adotem hábitos de vida mais saudáveis.
É também importante considerar o impacto da romantização da obesidade em crianças e adolescentes. Estes grupos estão numa fase vulnerável de desenvolvimento físico e emocional e, ao serem influenciados por exemplos distorcidos, podem crescer com a ideia de que a obesidade é uma condição inócua. Sem o conhecimento dos riscos e complicações associados, muitos jovens podem crescer sem adotar hábitos preventivos, como a prática regular de exercício físico e uma alimentação equilibrada.
E como em muitas áreas da vida, prevenir é o melhor remédio!
Da mesma forma que o objetivo não é promover o estigma contra quem vive com obesidade, também não pode ser o de promover a obesidade como uma condição saudável. A aceitação corporal é essencial para combater a discriminação e a vergonha, mas é necessário distinguir a ideia de que “todos os corpos são belos” e a noção de que todos os corpos estão saudáveis.
A luta pela aceitação e contra o preconceito é necessária, mas é essencial que estes esforços caminhem lado a lado com uma consciencialização dos riscos da obesidade. Só assim será possível construir uma sociedade que respeite a diversidade e, simultaneamente, promova o bem-estar e a saúde de todos.