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Opinião: «Papel da endoscopia digestiva na prevenção e tratamento do cancro colorretal», Diogo Libânio, Médico Gastrenterologista

Artigo de opinião de Diogo Libânio, Médico Gastrenterologista, IPO do Porto

7 Abril 2025
Diogo Libânio, Médico Gastrenterologista, IPO do Porto

O cancro colorretal é uma das neoplasias mais comuns em Portugal e no mundo, sendo o segundo tipo de cancro mais frequente. O mês de março é internacionalmente reconhecido como o período de sensibilização para esta doença, reforçando a importância do rastreio e da adoção de estratégias de prevenção e de tratamento. A evolução da endoscopia digestiva tem permitido avanços significativos na deteção e na remoção de lesões precursoras de cancro e mesmo de lesões malignas em fase inicial, reduzindo assim a necessidade de tratamentos cirúrgicos mais invasivos.

O cancro do cólon e do recto tem uma origem multifatorial, resultante da interação entre fatores genéticos e ambientais / comportamentais. O envelhecimento é um dos principais fatores de risco, assim como a história familiar de cancro colorretal. Há, contudo, outros elementos, como o tabagismo, a obesidade, o sedentarismo e uma alimentação pobre em fibras e rica em carnes vermelhas, que são fatores de risco estabelecidos para esta doença e que podem aumentar a sua incidência. Assim, uma das estratégias para a prevenção do cancro colo-rectal é a adopção de estilos de vida saudáveis, sendo a outra estratégia mais importante a realização do rastreio.

A maioria dos cancros colorretais desenvolve-se a partir de pólipos adenomatosos, que são formações benignas que surgem na mucosa intestinal. Estes pólipos podem crescer ao longo dos anos, acumulando mutações genéticas que favorecem a sua transformação maligna. Devido a este potencial de malignidade, a remoção precoce dos pólipos, através da colonoscopia, representa uma estratégia eficaz na prevenção do cancro colorretal.

A importância do rastreio

A deteção precoce do cancro colorretal é fundamental para melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade associada à doença. O rastreio por colonoscopia é recomendado a partir dos 45-50 anos para indivíduos sem antecedentes familiares e, mais precocemente, para aqueles com um histórico de cancro colorretal em parentes de primeiro grau. A colonoscopia permite não só a deteção de pólipos e lesões suspeitas, mas também a sua remoção imediata, prevenindo assim a progressão para cancro invasivo.

Tratamento endoscópico dos pólipos colorretais

A maioria dos pólipos encontrados durante a colonoscopia são pequenos e benignos, podendo ser removidos de forma simples por polipectomia. Esta técnica consiste na utilização de um fio metálico (laço / ansa) que remove o pólipo, sendo este depois recolhido pelo canal de aspiração e permitindo a sua posterior análise histopatológica. Contudo, alguns doentes apresentam na colonoscopia lesões maiores ou com características morfológicas mais complexas que exigem técnicas avançadas, como a mucosectomia (resseção endoscópica da mucosa) e a dissecção endoscópica da submucosa.

A mucosectomia permite a remoção de lesões de maior dimensão através da injeção de uma solução submucosa que eleva a lesão, facilitando a sua remoção. Já a dissecção endoscópica da submucosa é um método mais avançado, que envolve a separação meticulosa (disseção) dos tecidos para extrair lesões mais extensas, reduzindo o risco de recorrência e aumentando a probabilidade de resseção endoscópica curativa. Estas abordagens minimamente invasivas, embora com maiores riscos do que a polipectomia convencional, têm permitido evitar cirurgias em muitos casos, proporcionando uma recuperação mais rápida e com menor impacto na qualidade de vida dos doentes.

A relevância da análise histopatológica

Após a remoção endoscópica destas lesões, a sua análise histopatológica é essencial para determinar a sua natureza e orientar o seguimento clínico do doente. A presença de displasia de baixo grau num pólipo pequeno (<1cm) geralmente implica apenas a continuação do rastreio habitual, desde que a colonoscopia inicial tenha sido uma colonoscopia cumprindo os parâmetros de qualidade (nomeadamente boa preparação intestinal). Já os doentes com lesões com displasia de alto grau ou com lesões com mais de 1cm ou com vários pólipos (≥4) requerem uma vigilância mais apertada, com a realização de uma nova colonoscopia ao fim de três anos (após o primeiro procedimento).

Nos casos em que a lesão removida já apresenta invasão da camada mucosa ou da submucosa superficial a resseção endoscópica pode ser considerada curativa desde que não haja outros fatores de prognóstico adverso. No entanto, se houver evidência de invasão profunda da submucosa ou presença de invasão linfovascular ou alto grau histológico, pode ser necessário um tratamento complementar, incluindo a cirurgia para a remoção do segmento afetado e dos gânglios linfáticos adjacentes.

O papel da abordagem multidisciplinar

A decisão terapêutica para os doentes com cancro colorretal deve ser individualizada e discutida em equipas multidisciplinares que devem incluir gastrenterologistas, oncologistas, cirurgiões, radiooncologistas, radiologistas e anatomopatologistas. Esta abordagem garante que cada doente recebe o tratamento mais adequado, considerando não apenas as características da lesão, mas também a sua idade, comorbilidades e dados relevantes da história clínica do doente.

Endoscopia terapêutica para outras neoplasias gastrointestinais

Embora o foco principal deste mês seja o cancro colorretal, estas técnicas de exérese endoscópica também têm um papel crucial no tratamento de lesões esofágicas e gástricas. Estas lesões esófago-gástricas, ao contrário dos pólipos do cólon, tendem a ser planas e, por isso, podem ser de difícil deteção. O uso de tecnologias avançadas, como a cromoendoscopia virtual, tem permitido uma melhor identificação dessas lesões. Dado que estas lesões têm maioritariamente morfologia plana, a sua remoção por polipectomia não na maioria das vezes possível, sendo a mucosectomia e a dissecção endoscópica da submucosa as terapêuticas endoscópicas de escolha nas lesões precursoras e nas lesões malignas iniciais do esófago e do estômago, evitando cirurgias extensas e preservando a função digestiva dos doentes, com resultados oncológicos similares.

 

Conclusão

O tratamento endoscópico do cancro colorretal e das suas lesões precursoras tem evoluído significativamente, permitindo uma abordagem cada vez mais precisa e menos invasiva. A adoção de técnicas avançadas de resseção tem reduzido a necessidade de cirurgias, melhorando os resultados clínicos e a qualidade de vida dos doentes. No entanto, a eficácia destas estratégias depende do rastreio precoce e do acesso a equipas especializadas.

O compromisso com a prevenção, a inovação tecnológica e a abordagem multidisciplinar são fundamentais para otimizar a gestão da luta contra o cancro colorretal e de outras neoplasias gastrointestinais.

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