Otar Iosseliani formou-se na escola de cinema VGIK em Moscovo na década de 1950, onde já se distinguia pela fantasia, pelo inconformismo e pela distância divertida que marcaria a sua obra, avança a Lusa.
Os seus primeiros filmes na Geórgia soviética – “Folhas Caídas” (1966), “Era Uma Vez um Melro Cantor” (1970), “Pastoral” (1975) – renderam-lhe reconhecimento internacional. Duas ligações decisivas, René Clair e depois Jacques Tati, ligaram-no à França, onde se estabeleceu durante muitos anos.
Logo em 1968, “Folhas Caídas” – proibido pela censura soviética, como lembra a biografia disponível no ‘site’ do Festival de Cinema de Sofia – mereceu o prémio da Federação Internacional de Críticos no Festival de Cannes, um de vários títulos internacionais que viria a conquistar ao longo da carreira.
Filmou “Os Favoritos da Lua” (1984), premiado em Berlim e em Veneza, “E Fez-se Luz” (1989), “A Caça às Borboletas” (1992), “Bandidos” (1996), “Adeus, Terra Firme” (1999), “Segunda de Manhã”, distinguido com o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim, “Jardins de Outono” (2006) e “Chantrapas” (2010).
“O nosso trabalho é pesado e difícil o suficiente para ser leve”, disse Otar Iosseliani, citado pela agência France-Presse. “Gostaria que os meus filmes fossem um presente, um presente para alguém que não conheço, mas que inevitavelmente tem as mesmas ideias que eu”, acrescentou o cineasta, que teve várias passagens por Portugal.
“Felicidade para mim é se alguém consegue articular bem uma ideia, que eu também tinha em mente: você assiste a um filme, lê um livro e diz para si mesmo: que alegria, ele pensa como eu!”, admitiu Iosseliani.
A Cinemateca Portuguesa dedicou-lhe uma retrospetiva em 2006, que deu origem ao livro “Otar Iosseliani: O Mundo Visto da Geórgia: A Geórgia Vista do Mundo”, com organização literária, textos e tradução de Luís Miguel Oliveira, Maria João Madeira, e colaboração de Ana Isabel Strindberg e Pedro Borges.
O seu último filme, “Chant d’Hiver” (“Canção de Inverno”), de 2015, não teve estreia comercial em Portugal, mas foi distinguido no Lisbon & Estoril Film Festival.
O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Garibashvili, publicou na página oficial do Governo uma mensagem de condolências: “É com grande tristeza que tomei conhecimento do falecimento do grande cineasta georgiano Otar Iosseliani, Meritório Trabalhador de Arte e Artista do Povo da Geórgia”.
“Otar Iosseliani teve seu estilo próprio, característico apenas dos grandes diretores de cinema. Seus filmes ganharam reconhecimento internacional para o nosso país em inúmeras ocasiões”, referiu ainda o governante, que estendeu a sua “solidariedade a todos, seus familiares, espetadores de filmes, amigos e colegas”.
Foto: Norbert Kersten/Vida Press