Chiquinho conta a história de um cabo-verdiano cuja vida atravessa a primeira metade do século XX: a infância, vivida no pequeno povoado de Caleijão, na ilha de São Nicolau, onde a sua família, apesar de pobre, era a mais rica da aldeia graças às ajudas do pai, emigrado nos Estados Unidos da América; a juventude, vivida no Mindelo, ilha de São Vicente, para onde se desloca para frequentar os dois anos que lhe faltam do ensino secundário e onde ganha consciência da terrível situação social da sua pátria, onde toma contacto com a literatura universal e se apaixona pela primeira vez; e o regresso a São Nicolau, sendo colocado como professor primário numa remota aldeia.
É neste último período que o arquipélago é assolado pela seca. Com ela a produção agrícola é arrasada e o pouco que resta é devorado pelos gafanhotos.
A fome instala-se e a morte reina, levando consigo homens, mulheres e crianças. Chiquinho vê-se confrontado com um destino mais forte que as suas esperanças.
Chiquinho é um dos mais notáveis romances em língua portuguesa publicados no século XX, e o nome do seu autor, Baltasar Lopes, é comparável ao de Soeiro Pereira Gomes ou Jorge Amado.
A presente edição segue a primeira edição, de 1947, com uma atualização ortográfica de acordo com as regras atualmente em vigor.
Baltasar Lopes nasceu na ilha de São Nicolau, Cabo Verde, em 1907. No Seminário da ilha natal completou o ensino secundário. Na Universidade de Lisboa formou-se em Direito e Filologia Românica.
Foi professor, e depois reitor, do liceu Gil Eanes na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente. Nesta cidade exerceu também como advogado. Participou ativamente na vida cívica e literária, dentro do que era possível naquela colónia portuguesa, especialmente vigiada e reprimida sob o regime de Salazar, situação que aparece denunciada em Chiquinho.
Foi uma das figuras mais destacadas do movimento chamado «dos claridosos» porque se reuniam em torno da revista Claridade, que criaram.
Em 1947 publicou a sua obra mais conhecida, o romance Chiquinho, que haveria de marcar toda uma geração de escritores de Cabo Verde e permanecer como obra-prima da literatura em língua portuguesa. Baltasar Lopes morreu em Lisboa em 1989, com 82 anos