O Natal chega como uma espécie de espetáculo com ruas inundadas de luzes, centros comerciais que transbordam músicas alegres e anúncios que insistem em vender felicidade como se ela estivesse em promoção. Para muitas pessoas, esta é uma época mágica, mas para outras, o Natal pode ser um presente camuflado de desconforto. Vivemos numa sociedade que prioriza a ideia de que temos de gostar desta época festiva.
Mas será que somos obrigados a entrar no espírito natalício?
A verdade é que o Natal, com toda a sua simbologia de união e amor, pode acentuar desigualdades emocionais. Enquanto uns sentem-se abraçados pelas memórias felizes e celebrações em família, outros podem experimentar o oposto, como por exemplo a ausência de quem já não está, a distância de quem nunca esteve, ou mesmo a sensação de não pertencer a esse espírito natalício, e isso não faz dessas pessoas menos humanas ou menos sensíveis.
Há ainda aquelas pessoas que não apreciam o Natal porque simplesmente não se identificam. Pode ser por uma questão cultural, religiosa, ou até mesmo uma escolha de vida de alguém que simplesmente sente-se incomodada com o excesso e consumismo que abraçou esta época.
Não precisamos forçar ninguém a sentir o que não sente ou a gostar do que não gosta. Pelo contrário, o Natal, com a sua promessa de generosidade, poderia ser um momento de ouvir quem não aprecia esta data e talvez perceber que dores existem escondidas, ou que histórias difíceis podem marcar cada uma dessas pessoas.
Na verdade, a questão não é o Natal em si, mas a pressão social que o acompanha. Vivemos numa época em que sentir o espírito natalício parece obrigatório, e quem não o sente corre o risco de ser visto como frio ou insensível. Essa leitura parece um pouco injusta, porque ninguém deveria ser medido pela capacidade de emocionar-se com luzes ou pela sua vontade de querer decorar e iluminar uma árvore.
Talvez seja a hora de repensar o que o Natal realmente significa. Não deveria ser sobre estereótipos, mas sobre humanidade. E a humanidade é diversa, há os que se emocionam e há os que não. Há os que se reúnem e há os que preferem o silêncio.
E respeitar isso talvez seja o maior presente que podemos oferecer uns aos outros. Afinal, o verdadeiro espírito natalício, talvez esteja mais na aceitação do que na imposição.