Na natureza, nem tudo é o que parece. No coração da floresta amazónica, uma das interações mais improváveis acontece quando borboletas coloridas se aproximam das tartarugas para lhes sugar as lágrimas. Esta cena peculiar, já captada por diversos fotógrafos e investigadores, tem uma explicação científica: as borboletas precisam de sal e encontram-no onde podem.
As lágrimas das tartarugas amazónicas contêm uma concentração elevada de sódio, essencial para a sobrevivência dos insetos, sobretudo num ambiente onde esse mineral é escasso. Ao pousarem sobre os olhos das tartarugas e absorverem o líquido salgado, as borboletas conseguem obter um nutriente crucial e, ao mesmo tempo, prestam um serviço de limpeza aos seus “hóspedes”.
Sódio com asas
Este comportamento, conhecido como lacrifagia, não se limita a tartarugas. As borboletas procuram frequentemente fontes alternativas de sal, como suor, urina ou mesmo carcaças em decomposição. Poças de água e solos húmidos ricos em minerais também são locais populares. Mas o que torna a cena com tartarugas tão especial é o seu contraste visual e simbiótico: um animal terrestre de movimentos lentos a ser delicadamente “beijado” por criaturas aladas e vibrantes.
De acordo com a NBC, que tem acompanhado o fenómeno com especialistas em biodiversidade tropical, estas interações são mais comuns durante a estação seca, quando a procura por minerais se intensifica. As tartarugas, por sua vez, não parecem importar-se, embora possam ficar temporariamente cegas enquanto são “acariciadas” pelas borboletas, permanecem imóveis, permitindo aos fotógrafos captar imagens raras e encantadoras.
Apesar de parecer uma relação puramente funcional, muitos investigadores defendem que esta interação demonstra como a sobrevivência pode gerar comportamentos inesperados e até belos. A imagem de uma borboleta a beber lágrimas de uma tartaruga é um lembrete poético de que, na natureza, tudo se aproveita, até a tristeza.