Muitas pessoas ocupam cargos de liderança em empresas. Além dos mais óbvios – os presidentes – existem diretores de departamentos, chefes de equipas, pessoas que ao longo de uma vida se habituaram a lidar com um elevado grau de responsabilidade no seu trabalho e no trabalho de outros e que, a determinada altura, chegam à reforma e têm uma total rutura com a realidade que sempre conheceram.
Quando esta responsabilidade termina, quais os passos que se seguem? Fará sentido às empresas manter a ligação a estas pessoas durante mais algum tempo, aproveitando o expertise adquirido e assegurando um período de transição para todos, ou será melhor solução que o profissional abandone por completo a organização e inicie um novo trajeto noutra direção?
A revista “Fortune” abordou este tema e sublinha que é bastante frequente que os CEO, por exemplo, assumam novos papéis executivos ou lugares na administração das empresas que antes lideraram. Aconteceu, no ano passado, com grandes empresas como a Constellation Brands, a Intuit, a Kimberley-Clark ou a Pfizer. Aconteceu muito recentemente, em março, com a DuPont, e está a acontecer em abril, com a saída de Ginni Rometty, até agora CEO da IBM.
A mesma publicação lembra que garantir uma transição sem percalços é de extrema importância, especialmente numa altura em que a saída de CEO apresenta níveis recorde: no passado mês de janeiro, a Challenger Gray & Christmas registou 160 casos, tanto no setor privado como no público, só nos Estados Unidos da América. Trata-se de um salto de 37% em relação a dezembro de 2019.
Charles Elson, especialista da Universidade de Delaware, explica que, atualmente, um chairman executivo é, na verdade, o CEO da empresa. O CEO, por seu turno, é o Chief Operating Officer, pelo que a sua mudança para um cargo executivo não significa obrigatoriamente que exista um novo responsável pelos destinos da organização.
«É uma má ideia», resume o especialista. Citado pela “Fortune”, explica que «um bom CEO reconhece que não é justo para a nova pessoa». Marc Feigen, consultor que aconselha empresas em matéria de sucessão, concorda: «Não é uma prática que eu aprove. (…) Quando Barack Obama entra na sua primeira reunião de gabinete, não deve ver George W. Bush lá sentado.»
Noel Tichy, professor na Ross School of Business da Universidade de Michigan, acrescenta que é «uma ideia estúpida». Segundo o docente, esta prática envolve um conjunto de fatores psicológicos que pode atrapalhar mais do que ajudar. «Talvez o novo CEO deva o seu trabalho ao predecessor. Ou talvez o novo CEO não suporte o anterior. Talvez o antigo CEO tenha trazido todos os outros diretores para a administração, contando com a sua lealdade. Isto coloca obstáculos ao trabalho do novo CEO», explica.
Resumidamente, continuar na empresa depois de deixar o cargo pode fazer com que o novo responsável não se sinta à vontade para questionar decisões mais antigas ou alterar o caminho traçado.
Um estudo da Universidade de Georgetown mostra que, a menos que o CEO de saída seja um dos fundadores da companhia, as empresas cujos ex-CEO permanecem na administração sofrem perdas na bolsa nos dois anos após a mudança. O mesmo estudo indica, porém, que esta prática poderá começar a cair em desuso. Algumas das maiores empresas do outro lado do Atlântico (com receita superior a 20 mil milhões de dólares), requerem explicitamente que o CEO deixe também a administração.