Em Portugal, metade da população residente em 2018 tinha mais do que 45,2 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. No mesmo relatório pode ler-se que o envelhecimento demográfico em Portugal continua a acentuar-se, visto que, quando comparada com 2017, a população com menos de 15 anos diminuiu para 1 407 566 (menos 16 330 pessoas) e a população com idade igual ou superior a 65 anos aumentou para 2 244 225 pessoas (mais 30 951).
Esta evolução demográfica, aliada ao aumento da esperança média de vida que temos vindo a registar desde os anos 60, provoca alterações significativas na nossa sociedade. Há dez ou vinte anos, a população com mais de 50 anos chegava a essa idade com a expetativa de se reformar e cessar definitivamente a sua vida profissional. Hoje os maiores de 50 não estão necessariamente com os olhos postos na reforma e nem sequer pensam em deixar de trabalhar.
No entanto, esta nova realidade entra em conflito com uma maior dificuldade em encontrar emprego à medida que a idade avança e também com o fim da ideia de que um trabalho é para a vida toda. Isto provoca um desequilíbrio entre uma maior disponibilidade das pessoas para trabalhar até mais tarde e uma menor abertura do mercado a uma população ativa mais envelhecida.
Estas alterações a que temos vindo a assistir nas nossas sociedades fazem com que não seja incomum as pessoas terem de mudar de vida ou quererem, de facto, fazê-lo, várias vezes ao longo dos anos e também depois dos 50.
Do ponto de vista profissional, uma das grandes mudanças que ocorrem nesta altura da vida surge através do empreendedorismo. A escassez de novas oportunidades, aliada à natural vontade de mudar ao fim de muitos anos a fazer as mesmas coisas, faz com que muitas pessoas decidam enveredar pelo desafio de criar o seu próprio negócio. Catarina Seco Matos (CSG/ ISEG e IN+/IST, Universidade de Lisboa), co-autora do livro “Empreendedorismo Após os 50 Anos – Um Estudo sobre Portugal”, explica que «com o aumento da esperança média de vida, a decisão de continuar a trabalhar por mais anos, seja por gosto ou por necessidade, acaba por surgir como uma questão. Entre outras possibilidades, o empreendedorismo – pela criação de um negócio, empresa ou associação (com ou sem trabalhadores) – pode ser uma opção. As razões que levam as pessoas a tornarem-se empreendedoras nesta faixa etária são variadas. A criação de um negócio pode ser um projeto antigo e que foi sistematicamente adiado ao longo da vida; pode revelar o desejo da pessoa se manter ativa através do trabalho; ou pode simplesmente ser uma forma de implementar as suas próprias ideias».
E uma mudança de vida nesta faixa etária pode ser bastante positiva e aliciante, como explica Catarina Seco Matos: «Os estudos revelam que as pessoas que optam por deixar um emprego e criar um negócio, mesmo implicando um rendimento menor, mostram, em média, conseguir melhor qualidade de vida do que aquelas que optam por ficar no mesmo emprego. A investigação revela também que a criação de um negócio, num setor de atividade onde há experiência profissional prévia, irá, posteriormente, contribuir para um maior nível de satisfação com a futura empresa. Empreender ou não empreender é, por isso, a questão! Como muitas outras coisas na vida, todas as opções têm potencial de sucesso. Se a informação ajuda a decidir, a preparação e o planeamento são úteis mesmo para os mais determinados e entusiastas.»
Outras mudanças
Mas mudar de vida não é só mudar de trabalho. Numa altura em que, muitas vezes, os filhos terminam os estudos e seguem a sua vida, é também muito comum mudar-se de casa, seja porque esta ficou grande de mais ou porque chegou a altura de mudar para um espaço melhor. Aliás, segundo o estudo “I Observatório do Mercado da Habitação em Portugal”, realizado pela Century 21 Portugal, a procura de uma casa nova, para comprar ou para arrendar, está na maioria das vezes associada a alterações na estrutura familiar, razão apontada por 50,1% dos inquiridos.
Por outro lado, o desejo de ter uma casa melhor ou maior motiva 15,1% dos inquiridos a mudar de casa, enquanto 13,6% mudam para uma habitação própria em detrimento do arrendamento. Também o trabalho é uma razão apontada para uma mudança de casa, sendo 7,2% os inquiridos que mudam por questões de mobilidade profissional ou para morar mais perto do trabalho.
Além das razões mais comuns e que podem aplicar-se a qualquer idade, o relatório da Century 21 indica expressamente que as motivações para a procura de casa são, muitas vezes, razões etárias. Nos mais jovens, com idades entre os 18 e os 40, o fator que mais impulsiona a procura de habitação é o início de uma vida em conjunto, por casamento ou união de facto. Já na faixa etária dos 30 aos 39 anos, 18,9% dos inquiridos apontam como razão o passar do arrendamento para casa própria e 18,3% referem a necessidade de uma casa maior para aumentar a família.
O mesmo estudo refere que «à medida que a idade avança – acima dos 40 anos –, a razão mais comum para procurar habitação prende-se com o desejo de mudar para uma zona ou para uma habitação melhor. Já a partir dos 50 anos, surge a necessidade de passar para uma casa menor, porque a família diminui. Por zona geográfica, destaca-se o Algarve, onde a razão mais frequente para comprar ou arrendar habitação é a necessidade de uma casa um pouco maior, associada ao aumento da família (16,5%)».
Muitas vezes quem compra casa vende a anterior e, por isso, não é de estranhar que, do lado da oferta, as motivações não sejam muito diferentes. 15,8% dos inquiridos indicam como razão para vender a casa o desejo de passar para uma zona ou habitação melhor, ao mesmo tempo que 11,1% indicam razões de mobilidade profissional. Alterações na vida famíliar – casamento, aumento ou redução do agregado familiar, início de vida a dois ou divórcio – representam 31,5% dos inquiridos que decidem vender ou arrendar a sua casa.