Cartas, fotografias de rodagem, biblioteca pessoal, guiões e documentação para a produção cinematográfica são alguns dos objetos do arquivo de Manoel Oliveira para descobrir na exposição “1.A Bem da Nação (1929-1969)”, em Serralves (Porto), até 17 de setembro, avança a Lusa.
“Esta exposição é um primeiro momento de um ciclo de exposições que incidirá sobre o arquivo do Manoel de Oliveira, integralmente depositado na Casa do Cinema Manoel de Oliveira em Serralves. Prevê-se que seja o primeiro de três momentos. Haverá ainda mais duas exposições que darão continuidade a este primeiro momento”, explicou hoje o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira, António Preto, em conferência de imprensa, para apresentar oficialmente a exposição “1. A Bem da Nação (1929-1969)”.
A exposição, que é inaugurada hoje, ao final da tarde, incide sobre os primeiros 40 anos da produção cinematográfica de Manoel de Oliveira – ou seja, situa-se entre 1929, o ano em que se inicia a rodagem do seu primeiro filme, “Douro Faina Fluvial” (1931), e o ano de 1969, que corresponde à época em que Manoel de Oliveira realizou “As Pinturas do Meu irmão Júlio” (1965) e à criação do Centro Português de Cinema, a cooperativa “responsável por um novo fôlego do cinema português e especificamente da produção de Manoel de Oliveira, que obteve o primeiro financiamento”, explicou António Preto, cocurador da exposição, com o cineasta João Mário Grilo.
O primeiro objetivo desta exposição é dar a conhecer o “fragmento póstumo”, acrescentou, por seu turno, João Mário Grilo, declarando que a mostra é “uma espécie de filme não filmado que Manoel Oliveira deixou” através do arquivo que o realizador fez em vida.
Sob o título “A Bem da Nação”, expressão conhecida durante o fascismo português e usado em centenas de documentos oficiais de que Manoel de Oliveira foi destinatário durante a ditadura de Oliveira Salazar, tal como milhões de portugueses, a exposição revela igualmente a totalidade da biblioteca do realizador.
Entre as centenas de livros de Manoel de Oliveira destacam-se obras de literatura portuguesa, como as de Camilo Castelo Branco, Jose Régio e Agustina Bessa-Luís, escritores de referência para a sua cinematografia, a par de obras de literatura estrangeira de autores como Alexander Soljenítsin, e o seu “Arquipélago de Gulag”, a Leon Tolstoi e Fiódor Dostoiévski.
Para João Mário Grilo, esta exposição é um tributo que se presta a uma “figura histórica que é incomensurável em Portugal”.
Em “A Bem da Nação”, a mostra, acede-se à “intimidade” dos processos criativos do realizador, reavaliando as suas dúvidas e as suas convicções, as persistências e inversões de percurso que fazem dele um dos artistas mais irreverentemente inventivos dos últimos 100 anos.
A exposição é um verdadeiro “desarquivar do arquivo”, de “ouvir o que ele nos diz e de mostrar o que ele nos mostra”, esta exposição “é tanto um estaleiro como uma chamada de trabalhos, um ‘work in progess’”, lê-se no dossiê de imprensa entregue aos jornalistas