A NASA quer regressar à Lua até 2028 e desta vez para ficar. A missão Artemis III deverá levar “a primeira mulher e a primeira pessoa não branca” até ao solo lunar, numa nova era de exploração que poderá culminar com a construção de habitats permanentes fora da Terra. Mas como construir casas num local onde nada existe, onde tudo tem de ser enviado num foguetão? A resposta pode estar mesmo debaixo dos nossos pés… Ou, neste caso, do pó da Lua.
Casas feitas com pó lunar
Na ausência de cimento, água e tijolos, os astronautas terão de recorrer ao regolito lunar, uma espécie de pó fino e rochoso que cobre a superfície da Lua, como matéria-prima para a construção de bases espaciais. A técnica chama-se utilização de recursos in situ (ISRU) e está a ser estudada com afinco por cientistas de vários países.
Uma das soluções mais promissoras passa pela manufatura aditiva, ou seja, impressão 3D com materiais disponíveis localmente. No entanto, os métodos tradicionais têm-se revelado inviáveis devido às condições extremas da Lua, onde a gravidade é apenas 16,5% da terrestre e as temperaturas podem oscilar entre os -246 °C e os 54 °C.
Foi nesse contexto que uma equipa liderada pela Universidade do Arkansas, nos Estados Unidos, testou uma alternativa inovadora: a sinterização com luz solar. O estudo, publicado na plataforma científica arXiv, explora a possibilidade de usar energia solar concentrada para fundir o regolito e criar blocos de construção reutilizáveis.
A sinterização é um processo onde o pó (neste caso, regolito) é fundido através de calor intenso para formar um material sólido, semelhante à cerâmica. Em vez de usarem lasers ou micro-ondas, que requerem muita energia e tecnologia sofisticada, os investigadores propõem usar um recurso gratuito e abundante na Lua: o Sol.
Com a ajuda de espelhos e lentes especiais, a luz solar seria concentrada e direcionada para o regolito, fundindo-o camada a camada até formar blocos ou estruturas. Esta abordagem já foi testada com sucesso na Terra, utilizando simuladores do solo lunar, e permitiu criar peças de vidro e espelhos a partir de pó.
Contudo, construir uma casa completa ainda está fora de alcance. Por isso, os cientistas estão a trabalhar na produção de componentes de construção mais simples, como tijolos e placas, que no futuro poderão ser montados diretamente no local.
Apesar das promessas, a tecnologia ainda está em fase experimental. Tal como reconhecem os autores do estudo: «Additive Manufacturing of Lunar Regolith for Reconfigurable Building Blocks toward Lunar Habitation», liderado por Cole McCallum, é preciso afinar os parâmetros do processo, perceber melhor o comportamento dos materiais e, eventualmente, construir um protótipo funcional para testar em ambiente simulado.
O objetivo é claro: garantir que, quando os astronautas pisarem novamente a Lua, não tragam apenas bandeiras ou câmaras, mas também ferramentas para começar a erguer um novo capítulo da presença humana no espaço.