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É difícil ganhar a batalha contra mosquito que transmite dengue e zika, mas inseto não é sinónimo de doença, afirmam os especialistas

Ora veja

2 Maio 2023
Sandra M. Pinto

A coordenadora da Rede Nacional de Vigilância de Vetores (REVIVE) admite que é difícil ganhar em Portugal a batalha contra o mosquito, que pode transmitir dengue e zika, mas insiste que haver inseto não é sinónimo de doença, avança a Lusa.

“É provável que não se ganhe a guerra, porque este mosquito é mesmo invasor. O que queremos é que mantenha o seu número de espécimes o mais baixo possível para que não haja possibilidade de transmissão de agentes infeciosos”, disse à Lusa Maria João Alves.

Referindo-se à espécie (aedes albopictus) detetada já no Norte, Alentejo e Algarve, a investigadora do Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) lembra que “toda a Europa é terreno fértil” tendo em conta as “condições ideais” para o mosquito eclodir, mas sublinha: “Por enquanto, ainda estamos numa fase muito inicial da ocupação.”

Lembra que o facto de haver o mosquito não quer dizer que haja doença e que, até hoje, nenhum exemplar desta espécie colhido em território continental estava contaminado.

Para isso, explica, “tem que vir gente infetada de zonas com dengue, por exemplo, depois, naquele período em que ficam com o vírus a circular no sangue [cinco dias], entram em contacto com os outros mosquitos e depois esses é que transmitem às pessoas”.

“Se continuarmos a atuar como temos atuado reduzimos ao mínimo a probabilidade de haver transmissão autóctone”, diz a especialista, lembrando, contudo, que não se pode dizer que há risco zero. “O que é preciso, sem dúvida, é a abundância do mosquito”.

A este nível, Maria João Alves dá o exemplo de França, onde o mosquito foi detetado pela primeira vez em 1999, mas os primeiros casos autóctones de dengue aconteceram apenas em 2010. Na Europa já houve 144 casos de autóctones de dengue, 65 foram o ano passado, em França.

“É preciso uns anos e é nesses anos que nós devemos atuar, em que devemos reduzir a população dos mosquitos, informar a população”, explica a responsável, insistindo: “É nessa altura que podemos fazer alguma diferença.”

Em Portugal Continental, desde a criação da REVIVE, em 2008, passaram alguns anos até o mosquito (‘aedes albopictus’) ser encontrado pela primeira vez. A espécie presente na Madeira desde 2004 e responsável por um surto de dengue em 2012, com mais de 2.000 casos, é diferente (‘aedes aegypti’).

Com a temperatura média a rondar os 20º e a presença de água como condições ideais para eclodir. O ‘aedes albopictus’ foi detetado em Penafiel (Norte) em 2017. No ano a seguir surgiu no Algarve (Loulé) e em 2022 no Alentejo (Mértola).

“Já sabíamos que ia chegar aqui, pois estava no Algarve e em Espanha, na fronteira. Só não sabíamos quando”, disse.

De cada vez que há uma nova introdução, descreveu, este mosquito “substitui muito rapidamente os outros”, pois distribui os ovos em vários criadores, apresentando “toda a estratégia de um mosquito que chega e se instala”.

Sempre que foi identificado em Portugal, as Administrações Regionais de Saúde criaram, no âmbito do REVIVE, programas de monitorização específicos, que além da vigilância e colheitas de mosquitos, incluem a sensibilização da população, pensando na importância de controlar a população desta espécie invasora.

A rede de vigilância inclui colheitas sazonais de mosquitos (de maio e outubro e, nalguns casos, até dezembro, como acontece com o ‘aedes albopictus’), e abrange pontos de entrada como portos e aeroportos, onde as “armadilhas táticas” estão durante todo o ano. Foi alargada às carraças, em 2011, e aos flebótomos, em 2016.

Quando o ‘aedes albopictus’ apareceu em Mértola (apenas ovos), no ano passado, “o Alentejo já tinha, numa colaboração com as câmaras municipais, armadilhas no local há muito tempo, à espera de detetar a primeira introdução”, contou a investigadora.

No total, estão envolvidos nas colheitas da REVIVE mais de 300 técnicos de saúde ambiental.

Questionada sobre como tem evoluído a ocupação do espaço nacional pelo ‘aedes albopictus’, Maria João Alves explicou: “No Norte foi encontrado nas instalações industriais de uma empresa de recauchutagem e, logo no ano a seguir já estava fora dos muros da empresa, mas ainda num perímetro de menos de um quilómetro [onde se te mantido]”.

No Algarve foi detetado em 2018, em Loulé, mas agora já foi encontrado em Faro, incluindo o porto e aeroporto, em Olhão, em Tavira e em Albufeira: “Alguns destes locais foram apenas um ou dois mosquitos, como, por exemplo, em Albufeira, mas já sabemos que está lá, que se vai instalar depois”.

Em Mértola, explica que apenas foram encontrados 11 ovos, numa mesma armadilha que estava no local há anos: “Só para o ano, ou no fim do ano, é que vamos saber onde está exatamente.”

Diz ainda que o facto de terem sido encontrados numa armadilha que estava no mesmo local há vários é a prova que “só agora foi introduzido” nesta região.

Lembra que o mosquito, uma vez infetado, fica sempre com a doença, mas sublinha que – “se tudo lhe correr bem” – só vive um mês.

“E só elas é que fazem refeição de sangue”, explica a coordenadora da REVIVE, lembrando alguns estudos, incluindo em Portugal, que usam inclusive machos estéreis – que procriam mas os ovos não eclodem -, para tentar reduzir a possibilidade de transmissão.

Apesar de tudo, diz que nunca se poderá falar em risco zero.

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