A DECO PROteste desafiou Marlene Marques, do blogue Marlene On The Move para guiar os consumidores nos programas de Natal e passagem de ano na Madeira. Dezembro é sinónimo de festa, mas, na Madeira, ganha toda uma outra dimensão. Os madeirenses chamam-lhe o “mês da festa”, e o rótulo não é descabido. Das celebrações natalícias ao céu iluminado com um dos maiores fogos-de-artifício do mundo, a Madeira enche-se de razões para ser visitada.
Podem juntar-se-lhes as temperaturas mais amenas, comparativamente ao frio que se sente no Continente, tornando a Madeira no destino perfeito para fechar o ano.
Tradições natalícias na Madeira
Se, por um lado, a Madeira é internacionalmente conhecida pela passagem de ano, por outro, o Natal ocupa um lugar especial no coração dos madeirenses. Esta é a altura para celebrar a família e os amigos, e agradecer os bons momentos do ano. É assim em todo o lado, mas a Madeira fá-lo de uma forma muito própria, introduzindo a identidade cultural nas celebrações, e distinguindo-as das das outras regiões do País. A começar pelo presépio. Chamado “presépio-lapinha” ou apenas “lapinha”, o presépio madeirense tem a sua construção peculiar.
A “lapinha em escadinha” é um pequeno altar construído em três patamares (daí a “escadinha”), colocado numa mesa coberta com uma toalha, de preferência, com bordado da Madeira. No topo, surge a imagem do Menino Jesus, e os restantes degraus são preenchidos com as outras imagens do presépio. A estes, acrescentam-se frutas, como laranjas, maçãs, castanhas e nozes, e ainda as “searinhas”, que são pequenos vasos com trigo germinado, plantado umas semanas antes do Natal, para decorar os presépios e obter a bênção para as boas colheitas na ilha.
Já a “rochinha” é um tipo de presépio maior, que vai buscar as raízes da ilha, imitando as montanhas, os vales e as grutas. Neste cenário, são colocadas as figuras do presépio (o Menino Jesus surge na manjedoura numa gruta), bem como casas, igrejas, riachos, cascatas e até levadas. Há quem vista as figuras com trajes tradicionais da Madeira.
Se a maioria das casas madeirenses tem um pequeno presépio para assinalar a data, existem alguns que, pela sua dimensão ou antiguidade, merecem a visita. É o caso do presépio do Curral das Freiras. Com mais de duas décadas, é montado, todos os anos, pelos reformados da Associação Refúgio da Freira, e fica no centro cívico até meados de janeiro.
Também o centro cívico do Jardim da Serra tem sido o sítio escolhido para montar um grande presépio todos os anos. Por sua vez, a Lapinha do Galeão, em São Roque, distribui-se por dois pisos, num total de 600 metros quadrados, com centenas de figuras alusivas à quadra e à Madeira.
O Funchal também assinala a época com o seu presépio. Instalado perto da Sé, é decorado com as flores da ilha e os bordados da Madeira.
As Missas do Parto
Além de presépios montados, casas e ruas iluminadas, outra tradição se vive na Madeira: as Missas do Parto. Este costume data do século XVIII e dá o pontapé de saída para as celebrações natalícias na ilha, consistindo em nove missas de 16 a 24 de dezembro. A celebração religiosa realiza-se diariamente, entre as 5 e as 7 da manhã, em todas as freguesias madeirenses. Para lá do cariz católico, este é um momento de partilha e união entre a comunidade.
Após cada missa, a população reúne-se no adro da igreja, com comes e bebes que cada um traz. Por vezes, há até música tradicional para animar o início do dia. Há mesmo quem leve a tradição um pouco mais longe, e transporte ovelhas até à igreja, como na freguesia de Santo António, no Funchal.
Todos ao Mercado
Já em vésperas do Natal, a 23 de dezembro, acontece outra das grandes tradições. A Noite do Mercado enche as ruas em torno do Mercado dos Lavradores, no Funchal, e já se tornou numa das imagens de marca das celebrações natalícias.
Além de dezenas de bancas a vender todo o tipo de produtos regionais, das frutas aos legumes, passando por doces e bebidas típicas, existem inúmeras barraquinhas de comida e bebida, onde não faltam as sandes de carne em vinha-d’alhos e a tradicional poncha.
Nesta noite, a animação de rua inclui despiques e cantares de Natal, por grupos tradicionais que percorrem as ruas do centro, passando pela Rua Dr. Fernão Ornelas, a Rua Brigadeiro Oudinot, a Rua do Hospital Velho, a Rua Latino Coelho e a Rua D. Carlos I.
A Noite do Mercado do Funchal começou no antigo Mercado D. Pedro V, hoje Alfândega do Funchal, em 1890. Mas há registos que mostram que a população já se reunia na baixa da cidade antes disso.
A 23 de dezembro, as ruas eram invadidas por madeirenses que procuravam comprar as prendas de Natal, bem como os produtos hortícolas para a ceia e as flores para decorar a mesa. Não havia distinção entre classes. Mais ricos e mais pobres, todos se juntavam para conviver e deliciarem-se com as iguarias madeirenses.
Com a passagem do antigo mercado para o Mercado dos Lavradores, em 1940, a tradição manteve-se até hoje, sendo das festas da Madeira que juntam mais pessoas e envolvem várias zonas da ilha.
De facto, a Noite do Mercado é celebrada noutras partes da Madeira, como Santa Cruz, Santana, São Vicente, Calheta e Câmara de Lobos.
A noite vira dia
Do Natal ao fim do ano, são apenas alguns dias e, depois do 25, os madeirenses mudam a atenção para a última noite do calendário. O espetáculo de fogo-de-artifício é o culminar dos festejos. Durante oito minutos, o céu da noite transforma-se em dia, com milhares de explosões coloridas provocadas por foguetes atirados de 59 postos entre o Cais 8 e a Praia Almirante Reis, mas também do mar e da ilha de Porto Santo.
A história do espetáculo pirotécnico da Madeira terá começado em 1921, mas as referências vão mais atrás, ao século XVII, quando a comunidade madeirense celebrava a passagem de ano com o acender de fogueiras. Um século depois, também a comunidade inglesa que residia na ilha comemorava com o lançamento de fogo-de-artifício.
A tradição manteve-se, com as famílias abastadas da ilha a competirem para verem quem lançava o melhor fogo-de-artifício. Hoje, a Madeira investe mais de um milhão de euros (passagem de ano de 2023/2024) no espetáculo que cola todos os olhares ao céu do Funchal.
Onde ver o fogo-de-artifício
Pela sua dimensão, existem vários locais onde pode ver o fogo-de-artifício. Se não tiver um familiar, amigo ou conhecido dono de uma casa com vista privilegiada para o Funchal, pode ir até ao centro da cidade e parar na Avenida do Mar. É um dos lugares mais procurados.
Outras boas opções são o Parque de Santa Catarina, a Fortaleza do Pico, o Miradouro das Cruzes e o Monte. Um pouco mais longe, mas também boas alternativas, são o Garajau e o Miradouro do Cabo Girão. E quando terminar o fogo? A festa continua! Os principais hotéis oferecem festas de réveillon, assim como o Casino da Madeira. Já o Parque de Santa Catarina recebe o evento de passagem de ano organizado pela autarquia, com concertos e DJ.
Para dançar até de manhã, o Vespas Club é a discoteca mais antiga da Madeira e um dos lugares a ir depois da uma da manhã. Fora do Funchal, Porto Moniz (Porto de Abrigo do Porto Moniz), Machico (Largo da Praça da Cidade de Machico) e Porto Santo (Largo das Palmeiras) também fecham com chave de ouro o “mês da festa”.
Informações úteis
A viagem a dois de 23 a 26 de dezembro custa, no mínimo, 665 euros com alojamento no Funchal em hotel de quatro estrelas, pequeno-almoço e jantar de gala na ceia de Natal. O orçamento inclui voos de ida e de regresso (Lisboa/Funchal/Lisboa) e seguro de viagem. O pacote em regime de pensão completa começa nos 1089 euros.
E quanto custa a viagem a dois de passagem de ano na Madeira? O alojamento no Funchal, de 29 de dezembro a 2 de janeiro, em hotel de três estrelas, com pequeno-almoço e jantar de fim de ano, custa desde 1598 euros. O pacote inclui voos de ida e de regresso, transfers e seguro. O preço de 799 euros por pessoa depende do hotel e do regime escolhido. Este duplica facilmente para um hotel de categoria superior. Os preços foram recolhidos online a 28 de outubro de 2024.
Clima e vestuário
O clima é ameno nesta altura do ano, com as temperaturas a variarem entre os 17 e os 22°C. Leve roupa confortável e camadas leves, mas tenha um casaco para as noites, que podem ser frias. A chuva também nunca deve ser descartada. Por isso, um impermeável e um guarda-chuva podem ser úteis.
Transportes
Durante a época festiva, os transportes públicos podem estar mais lotados e o trânsito ser intenso. Se estiver pelo Funchal, o melhor será mesmo andar a pé, apreciando as ruas decoradas.
Atividades extra
No primeiro dia do ano, além de aproveitar as levadas, pode ver o nascer do sol no Pico do Areeiro, se estiver bom tempo, visitar o Jardim Botânico, explorar as Grutas de São Vicente ou fazer o percurso pedestre da Ponta de São Lourenço. Existem também empresas que organizam passeios de barco para ver golfinhos e baleias, quando o mar o permite.
Foto: site oficial do turismo da Madeira