Em declarações ao jornal britânico, The Guardian, o cientista Paul Workman disse que a instituição a que preside, o Institute of Cancer Research (ICR), está a lançar um programa inovador, que pretende mudar o chip do seu trabalho «de encontrar uma cura, para tornar o cancro numa doença crónica». Ou seja, se a cura não é possível, o objetivo agora é que «as pessoas não tenham as suas vidas encurtadas ou sem qualidade».
Para evitar que esses cenários aconteçam e esse medo se instale na cabeça de quem acabou de derrotar um cancro, o ICR quer reorientar o seu trabalho. Além de matar as células cancerígenas, ambiciona destruir a sua capacidade de evoluir.
Assim como os antibióticos, os cancros podem evoluir para se tornarem resistentes aos medicamentos, que supostamente os deveriam combater. As células cancerígenas que não são mortas pela quimioterapia ou mesmo pela imunoterapia podem sofrer mutações e adaptações para formar novos tumores. O cancro volta numa forma avançada ou de metástases. O mais comum é surgirem em outras partes do corpo e geralmente são fatais.
Paul Workman diz que este é «o maior desafio que enfrentamos no tratamento e na biologia do cancro, que é a sua resistência aos medicamentos». O diretor executivo do ICR avança que «a primeira droga que retarde ou impeça a evolução das células cancerígenas pode estar disponível em 10 anos». Ela vai ter como alvo uma molécula (APOBEC), que é «crucial no funcionamento do sistema imunológico, mas também é sequestrada por mais da metade dos tipos de cancro». Isso é o que faz «acelerar nas células cancerígenas a sua resistência aos medicamentos», acrescenta o especialista.
De acordo com Paul Workman, esta «abordagem inovadora significa uma mudança cultural entre investigadores, clínicos e também pacientes». Pois, apesar de «sempre nos esforçarmos para curar o cancro», numa doença avançada, onde isso pode não ser possível, a nova prioridade revolucionária «abre a perspetiva de um controlo a longo prazo com boa qualidade de vida», acrescenta o cientista.