O Halloween, sobretudo nos EUA (de onde esta tradição é originária), sempre foi habitualmente uma brincadeira mais pensada para as crianças. Deixarem de se mascarar era um importante ritual de passagem para esta crianças; era algo que significava que se estavam a tornar finalmente adultos.
Ora isso simplesmente já não corresponde à verdade. Atualmente os adultos parecem tão (ou mais) interessados em celebrar este dia do que os miúdos.
Em 2005 os dados indicavam que apenas metade dos adultos nos EUA celebravam o Halloween. Hoje em dia, este número subiu para os 70%. Adultos entre os 18-34 anos são os que participam mais ativamente, sendo igualmente os que gastam mais dinheiro em máscaras e fatos.
As próprias formas de celebrar o Halloween mudaram ao longo das últimas décadas. Atualmente verificam-se menos atividades relacionadas com a tradição de pedir doces aos vizinhos e cada vez mais idas a festas, eventos e bares. De facto, o álcool tornou-se tão importante quanto os doces para os orçamentos e economia de Halloween.
Mas afinal o que motivou toda esta alteração?
Segundo Linus Owens, um professor de Sociologia da Middlebury College, muitos gostam de justificar esta situação com a recusa da geração Millenials em crescer e entrar no Mundo real. Mas a verdade é que esta acaba por ser uma explicação demasiado simplista.
Para este especialista, uma maior participação dos mais velhos na celebração de Halloween, está mais relacionada com o facto de que o próprio significado da vida adulta e da maioridade se ter modificado nas últimas décadas.
A segmentação habitual da faixa etária +18 está a tornar-se cada vez menos clara e atingível. Os marcos habituais que sempre se associaram a esta maioridade – família, carreira, propriedade de casa e carro – estão em declínio. Cada vez atrasamos mais este tipo de decisões ou simplesmente as recusamos.
A transição para a fase adulta tornou-se assim mais difusa, incerta e complicada. É, como tal, natural que os hábitos e estilos de vida deste tipo de pessoas seja também radicalmente diferente.
O Halloween é uma oportunidade para muitos jovens adultos experimentarem diferentes facetas das suas personalidades e identidades. É a possibilidade transformadora de (pelo menos) numa noite poderem ser aquilo que quiserem. Sem preocupações ou constrangimentos relacionados com o seu futuro, segurança ou estabilidade.
Num mercado de trabalho algo cruel para os mais jovens, onde predominam os empregos precários, temporários e pouco estimulante, o Halloween é uma oportunidade de se dedicarem a concepção e criação de uma máscara que expresse a sua personalidade e sobretudo a sua criatividade. É algo que exige uma certa dedicação e esforço, mas que também oferece uma enorme gratificação – algo cada vez mais difícil de encontrar para estes jovens adultos nos seus habituais empregos de escritório.
O Halloween sempre “prometeu” ser uma forma de expressar a criatividade, funcionando como um escape das habituais regras e convenções da Sociedade. Ao acolherem cada vez mais esta celebração os “novos” adultos não estão apenas a rejeitar a concepção tradicional do que significa ser adulto. Estão sobretudo a brincar com a sua identidade de uma forma que os obriga a usar os seus skills e competências criativas/culturais.
No fundo, esta geração está a definir novas fórmulas para o conceito de maioridade e nesse processo, inevitavelmente, mudou a forma como o Halloween é celebrado e percepcionado.
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