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Perturbação de Stress Pós-Traumático: especialista explica a condição que levou ao suicídio do guarda-costas de David Beckham

Craig Ainsworth, sofria de stress pós-traumático. Falámos com especialista para perceber melhor esta situação e consequências.

9 Abril 2025
Sandra M. Pinto

Craig Ainsworth, antigo guarda-costas de Victoria e David Beckham, foi encontrado morto em Espanha depois de ter sido dado como desaparecido. O ex-fuzileiro naval de 40 anos, que trabalhou para o casal Beckham entre 2013 e 2015, «sofria de perturbação de stress pós-traumático depois de ter prestado serviço no Afeganistão», revelou a sua mãe, Sally Ainsworth, no dia 05 de abril nas redes sociais.

Para além dos Beckham, Ainsworth também foi guarda-costas de estrelas de Hollywood como Johnny Depp, Jennifer Lawrence, Chris Hemsworth, Henry Cavill, Zendaya, Tom Holland, Jason Momoa e Arnold Schwarzenegger.

Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT): quando o trauma não termina com o fim do evento

Estivemos à conversa com Cátia Silva, psicóloga, que começou por explicar que a Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) é uma perturbação de saúde mental que pode surgir após a exposição a eventos traumáticos significativos, como acidentes de viação, guerra ou abuso sexual. «Embora a maioria das pessoas consiga recuperar com o tempo, algumas podem desenvolver sintomas persistentes e incapacitantes com prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. Para muitas pessoas, o trauma não termina com o fim do evento – prolonga-se nos pensamentos, emoções e comportamentos do dia a dia».

«Importa referir», faz questão de sublinhar a especialista, que a PSPT «é uma perturbação psiquiátrica caracterizada por sintomas que surgem após a vivência ou testemunho de um evento traumático, como violência, acidentes, catástrofes naturais ou experiências de guerra. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais (DSM-5), o diagnóstico requer a presença de sintomas em quatro domínios: reexperiência, evitação, alterações negativas nas cognições e humor, e hiperativação fisiológica. Estes sintomas devem persistir por mais de um mês e causar sofrimento clinicamente significativo».

Nos casos em que a PSPT se manifesta, os sintomas mais comuns incluem flashbacks, pesadelos, pensamentos intrusivos, evitamento de situações associadas ao trauma, sentimentos de culpa, distanciamento emocional, hipervigilância, insónias e irritabilidade. «A evidência demonstra que os eventos precipitantes mais comuns incluem situações de abuso físico ou sexual, acidentes graves, catástrofes naturais, exposição à violência doméstica, experiências de combate e traumas na infância».

«A ausência de suporte emocional e a intensidade do evento aumentam o risco de desenvolvimento desta perturbação», refere a psicóloga, pelo que «é relevante destacar que o impacto da PSPT é transversal e afeta várias áreas do quotidiano, nomeadamente ao nível do sono, desempenho profissional, relações interpessoais e bem-estar emocional: a pessoa pode tornar-se evitante, emocionalmente desligada, hipervigilante e incapaz de usufruir de atividades anteriormente prazerosas».

Questionada sobre qual é a diferença entre PSPT e uma reação de stress normal após um evento traumático, Cátia Silva responde que «enquanto uma resposta de stress agudo é comum após um evento traumático e tende a ser temporária, a PSPT distingue-se pela duração superior a um mês, pela intensidade dos sintomas e pelo impacto significativo no funcionamento diário do indivíduo».

Diversos estudos apontam que o histórico prévio de trauma, a ausência de suporte social, a existência de perturbações mentais preexistentes, a exposição repetida a traumas são fatores que aumentam a vulnerabilidade ao desenvolvimento da PSPT, a qual se manifestar de forma diferente em pessoas com diferentes contextos culturais. «A forma como o trauma é percebido, expresso e tratado varia entre culturas e indivíduos», afirma a especialista, «em algumas populações, os sintomas podem manifestar-se sob forma de queixas físicas (somatização), enquanto outras podem interpretar o trauma numa perspetiva mais espiritual, a forma como este se manifesta influencia o diagnóstico e consequentemente a intervenção».

No que diz respeito aos tratamentos mais eficazes para a PSPT, Cátia Silva começa por destacar que «a psicoterapia é a abordagem de primeira linha, com ênfase na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) focada no trauma, uma vez que permite trabalhar a forma como a pessoa interpreta e reage ao evento; em alguns casos, o uso de medicação antidepressiva ou ansiolítica pode ser indicada como complemento». Já a terapia cognitivo-comportamental no tratamento da PSPT «ajuda a reestruturar pensamentos disfuncionais relacionados com o trauma, reduz comportamentos de evitamento e permite uma exposição gradual e segura às memórias traumáticas, facilitando o controlo dos sintomas e a recuperação», acrescenta.

Sabendo que a medicação tem um papel importante no tratamento da PSPT, «especialmente em casos moderados a graves ou quando existem comorbilidades, como depressão», Cátia Silva reforça que, nestes casos, «é essencial a avaliação por um médico psiquiatra».

A instabilidade emocional, o distanciamento afetivo e a irritabilidade de uma pessoa com PSPT podem prejudicar os vínculos afetivos e familiares: «a dificuldade em confiar e comunicar pode gerar tensões e levar ao isolamento social», alerta a especialista, que acrescenta que a realidade desta condição poder afetar o desempenho no trabalho ou na escola, uma vez que «os sintomas podem comprometer a concentração, aumentar o absentismo e reduzir a produtividade. Em crianças e adolescentes, podem surgir dificuldades de aprendizagem e comportamentos regressivos ou disruptivos».

Perguntámos a Cátia Silva quais são as consequências a longo prazo da PSPT se não for tratada adequadamente, sendo que a epecialista refere que «a ausência de tratamento pode levar ao desenvolvimento de depressão crónica, abuso de substâncias, isolamento social e, em casos mais graves, ideação suicida. O sofrimento prolongado está também associado a problemas físicos, como doenças cardiovasculares e imunológicas». Desta forma, importa perceber se é possível prevenir o desenvolvimento desta condição: «embora nem todos os casos possam ser prevenidos, apoio emocional, psicoeducação e acompanhamento clínico são estratégias eficazes na redução do risco e dos sintomas», refere, «a existência de redes de suporte social e familiar são igualmente importantes para este processo».

São várias as estratégias podem ser adotadas para reduzir os impactos do stress pós-traumático em pessoas que passaram por traumas, pois como esclarece a psicóloga «a estabilização emocional, o reforço da rede de apoio, técnicas de regulação emocional tais como respiração e mindfulness, bem como a psicoterapia, são essenciais para o alivio da sintomatologia. A criação de rotinas estruturadas e a validação da experiência da vítima também contribuem para a sua recuperação».

Às vítimas de traumas que enfrentarem os primeiros sinais de PSPT é recomendado procurar apoio psicológico ou psiquiatra com experiência em trauma no sentido de auxiliar a intervenção. «A intervenção precoce é crucial para evitar a evolução do quadro clínico», diz Cátia Silva, acrescentando que «o apoio familiar e comunitário também desempenha um papel relevante na recuperação».

Já os grupos de apoio ou redes de pessoas com experiências semelhantes no processo de recuperação oferecem empatia, partilha de experiências, redução do sentimento de isolamento e reforço da resiliência, «pelo que são um complemento valioso ao tratamento psicológico individual», reforça a especialista, para quem «reconhecer os sinais da PSPT e procurar ajuda especializada é o primeiro passo para a recuperação».

«O trauma pode deixar marcas profundas, mas com acompanhamento adequado e apoio contínuo, é possível reconstruir uma vida com sentido, segurança e bem-estar», conclui Cátia Silva.

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