Um ambiente estável e motivador no local de trabalho é meio caminho andado para aumentar a produtividade. O stress afeta os colaboradores das empresas em todas as idades, mas é a partir de um nível mais avançado de experiência e repetição que o stress se pode transformar num problema grave de saúde.
Na Europa, quatro em cada 10 trabalhadores sente que o stress não é um tema devidamente abordado nos seus locais de trabalho, e a causa do mesmo pode não ser tão linear como se julga. O stress relacionado com o trabalho é mesmo o segundo problema de saúde mais referido na Europa, segundo o inquérito EU-OSHA, e, por isso, a Associação Portuguesa de Segurança (APSEI) levou este tema a discussão na conferência Proteger 2018 com a mesa redonda “Riscos e Tendências Emergentes no Trabalho do Séc. XXI”.
Para melhor perceber as implicações deste problema nos colaboradores das empresas, nomeadamente os mais experientes, a Forever Young falou com António Gomes da Silva, diretor técnico da APSEI.
Onde se traça a fronteira entre um normal ritmo acelerado e um problema de stress no local de trabalho?
Existe uma série de modelos que procuram descrever quais os fatores que conduzem a stress no local de trabalho e quais os fatores que contribuem para a estimulação, bem- -estar e saúde. A fronteira entre um ritmo normal de trabalho e um problema de stress no local de trabalho é ténue e depende dos recursos de cada colaborador. Ou seja, quando o indivíduo perceciona equilíbrio entre os recursos que possui e as exigências a que está sujeito, então há um ritmo equilibrado, pois consegue dar resposta aos desafios apresentados. Por outro lado, quando o indivíduo perceciona que os seus recursos pessoais não são suficientes para lidar com as exigências apresentadas, o indivíduo começa a sentir stress relacionado com o trabalho. É importante notar que a perceção de falta de recursos poderá não ser real e ser apenas o reflexo de falta de confiança por parte do colaborador, e ainda que o stress poderá surgir quando os recursos são muito superiores às exigências.
É preciso entender que diferentes áreas ou profissões também revelam diferentes níveis de stress ocupacional, isto é, têm um caráter mais stressante e é necessário ter maiores recursos de forma a conseguir lidar com as exigências apresentadas para evitar o mesmo.
Quais são os fatores que tipicamente contribuem para um problema grave de stress?
São várias as causas do stress no local de trabalho, maioritariamente as más condições físicas de trabalho, sobrecarga e pressão de tempo elevada, ambiguidade de trabalho e conflito de papéis, desenvolvimento da carreira, falta de segurança no trabalho e de consistência nas promoções de carreira, relações com as chefias ou colegas e maltrato por parte de terceiros. Obviamente que a estrutura e clima da própria organização, incluindo o envolvimento no processo de tomada de decisão e políticas organizacionais, têm também uma grande influência.
Em que medida é que o stress no local de trabalho poderá ter consequências graves?
O stress ocupacional intenso e prolongado tem implicações significativas para a saúde dos colaboradores, e as principais consequências centram-se ao nível físico, como problemas cardíacos, dor de costas, dores de cabeça, e, ao nível psicológico, onde podemos considerar a ansiedade, depressão, burnout e alterações de humor, entre outras.
Além dos efeitos que provoca nas pessoas, este tipo de stress promove também comportamentos que prejudicam ainda mais a saúde física e mental dos colaboradores, entre eles o aumento do consumo de tabaco, maior consumo de bebidas alcoólicas, maior dependência da cafeína e a falta de apetite.
De que forma pode influenciar a produtividade do indivíduo?
O stress no local de trabalho é um fator que contribui para a ineficácia de uma organização, pois provoca o aumento da vontade de abandonar a empresa (turnover), o absentismo e a diminuição da qualidade de vida.
A verdade é que existe uma relação negativa provada entre stress ocupacional e produtividade por parte do colaborador e uma possível forma de combater o problema é através do apoio dado ao colaborador, por parte da chefia. Isto é, habitualmente o colaborador procura na chefia apoio/suporte e quando isso se verifica há uma melhoria na produtividade, pois o colaborador sente-se valorizado e apoiado pela organização.
Que formas existem de diagnosticar este problema nas empresas de forma sistemática?
As organizações enfrentam, dia após dia, a necessidade de identificar e resolver problemas que surgem. Existem diversas técnicas para se diagnosticar os problemas nas empresas, porém um dos mais eficazes é a técnica dos Incidentes Críticos, que permite identificar possíveis áreas de melhoria e desenvolvimento. As organizações que utilizem a técnica dos Incidentes Críticos poderão ter acesso ao cerne do problema, mas também identificar outros que possam estar a contribuir para stress ocupacional e não se saiba. Apenas a partir do momento em que identificam o problema é que podem agir e procurar soluções em conformidade, que tenham em vista o bem-estar do colaborador.
Que medidas podem ser implementadas para poder resolver um problema deste tipo dentro de uma empresa?
Existem medidas ao nível do stress ocupacional que são fundamentais, como criar o clima social apropriado para aprender através do que falhou, desenvolver intervenções com diversos níveis de participação e negociação, ter em atenção os comportamentos que podem ser causa e definir os papéis e responsabilidades antes e durante a intervenção.
Como referido anteriormente, para se intervir ao nível do stress ocupacional é fundamental fornecer aos colaboradores recursos que os façam conseguir lidar com as exigências com que se deparam e garantir que se sentem apoiados por parte dos superiores. Só assim promovemos a perceção de eficácia de cada um e promovemos um clima de suporte aos colaboradores.