Hoje em dia, vivemos num mundo em que todas as conversas se podem transformar em algo político, entrando em terrenos perigosos que, muitas vezes, não representam bem a nossa maneira de ser ou pensar. Assim, e porque temos cada vez mais medo de sermos mal interpretados, temos também cada vez mais receio de utilizar as palavras e até de conversar.
Contudo, isso só acontece não só porque o mundo é um lugar cada vez mais opinativo e polarizado, mas porque estamos cada vez mais aptos a comunicar com destreza e boa intenção.
És um conversador? Gostas de meter conversa com toda a gente? Óptimo! Para que haja boa comunicação entre as pessoas, o primeiro grande passo — e o mais essencial — é que haja abertura da parte dos intervenientes na conversa.
Mas, sim, é verdade: há que saber conversar!
Para que não haja confusões, é importante conhecer as palavras e saber usá-las nos seus diferentes contextos, mas também é preciso comunicá-las das melhor forma, tendo em conta as características de todos esses contextos. Além disso, é preciso ter empatia.
Quer isto dizer que estabelecer um acto de comunicação saudável implica saber ouvir, saber expressar e saber conversar.
Como conversar, ouvindo?
Uma boa conversa tem de nos deixar entusiasmados sobre o que/com quem conversarmos, mesmo que não concordemos com metade do que nos esteja a ser dito.
Uma boa conversa tem também de nos aproximar uns dos outros, a um nível quase pessoal, mesmo que saibamos que temos opiniões fundamentalmente diferentes no que diz respeito a certos tópicos.
Por fim, — e, sim, isto é importante — uma boa conversa não implica olhar as pessoas nos olhos ou abanar a cabeça para mostrar que estamos a ‘prestar atenção’ ao que nos é dito! Implica ouvir e prestar, de facto, atenção ao que nos está a ser contado.
É precisamente sobre este tema que tanto fala Celeste Headlee, uma jornalista, co-apresentadora e speaker premiada, que trabalha no mundo da rádio norte-americana (na NPR) deste 1999 e que, no seu recheado currículo, conta com programas como The Takeaway, Tell Me More, Talk of the Nation, Weekend All Things Considered e Weekend Edition.
Diz-nos ela, numa das suas TED Talks intitulada «10 ways to have a better conversation», que esqueçamos os mitos sobre os actos comunicativos mais banais e sigamos estas dez regras importantes para manter uma conversa saudável — e sim, mesmo com alguém de quem não gostemos muito! Precisão e clareza sintática e semântica à parte — porque isso, ela deixa para os «100 erros» da Escrivaninha 😉 aqui vão essas dez regras de ouro:
- Se estás numa conversa, não faças mais nada. Ou seja, envolve-te verdadeiramente e não estejas com um pé fora e outro dentro conversa, não estejas com a cabeça noutro sítio, a pensar no trabalho, no jantar ou na pressa que tens para chegar a casa.
- Não faças enumerações, listas, tópicos e pontos infinitos(e este trocadilho)! Numa conversa há que haver espaço, e tempo, para interrupções e desacordos. Se não fosse assim, escreveríamos, apenas. Por isso, mesmo que implique deixar, por momentos, a tua opinião de parte, ouve e assume que tens sempre algo para aprender dessa interação — nem que seja sobre a forma como pensa o teu interlocutor.
- Não faças perguntas complicadas ou ‘parciais’… Em vez de «Isso deve ter sido péssimo, não?», pergunta antes «Como é que isso foi para ti?». Ou seja, faz perguntas simples, breves e abertas e deixa que o teu interlocutor responda calma e naturalmente, sem ser orientado pela forma como tu percepcionaste toda a questão.
- Go with the flow, diz Headlee. Deixa que os teus pensamentos venham, não os bloqueies, mas deixa também que se vão sem quebrarem a fluidez da conversa. Isto é: esforça-te por saber ver que a oportunidade passou, que já não se está a falar disso, que a tua pergunta/intervenção tem de estar de acordo com o que foi dito pela outra pessoa, estando, assim, bem contextualizada.
- Se não sabes, diz abertamente que não sabes. Muita gente gosta de, num tom descomprometido, fazer crer que sabe um pouco mais do que aquilo que realmente domina. Mas numa conversa saudável é preciso ter cuidado com as certezas absolutas porque, por vezes, só julgamos tê-las — e o verbo ‘julgar’, aqui, diz tudo.
- Não faças comparações. Mesmo que as situações — a tua e a do teu interlocutor — te possam parecer equivalentes, a verdade é que elas nunca serão totalmente iguais (salvo raríssimos casos, e mesmo assim, as percepções podem variar muito!). Assim, parte do princípio de que todas as experiências são únicas e, sobretudo durante uma interação dominada pelo ímpeto ou necessidade que alguém tem de desabafar, lembra-te sempre de que a conversa não é apenas sobre ti.
- Tenta não te repetires: é condescendente e aborrecido. Torna a tua opinião clara por outros meios — exemplos, palavras bem escolhidas etc — mas não percas a atenção e o tempo do teu interlocutor com ideias explicadas N vezes de forma diferente.
- Esquece os detalhes da história. As pessoas não memorizam todos os pormenores da história que estás a contar e, na verdade, nem todos esses pormenores são importantes para que o contexto seja claro. O que o teu interlocutor quer saber é da história e de ti, que a contas: nada mais.
- Ouve. Numa conversa é preciso ouvir e prestar genuína atenção ao que nos é dito. Por isso, evita ‘ouvir para responder’, e esforça-te por te envolveres na conversa de forma a perceberes, verdadeiramente, o que que te está a ser transmitido. Saberás muito mais sobre a pessoa e sobre o que se discute se a ouvires do que se estiveres sempre a falar.
- Sê breve. Nós acrescentamos: e claro.
Basta seguires umas quantas destas dicas e as tuas conversas serão, certamente, muito mais agradáveis!
Marta Cruz
(texto escrito de acordo com a antiga ortografia)
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