100 Erros: “-se” ou “sse”

Não se preocupe, a Escrivaninha (equipa de serviços linguístico e de edição) esclarece todas as dúvidas que possa ter na nova rúbrica “100 Erros”, todas as semanas no site Forever Young.

A confusão entre imperfeito do conjuntivo e a conjugação reflexa no presente do indicativo abunda entre artigos, notícias, textos ou recados.

 

Pois é… se oralmente toda a gente diz como deve ser, na escrita os erros revelam-se com toda a sua monstruosidade como se se revelassem as lacunas gramaticais que, no passado, também, certamente, demos a ler aos professores nas composições dos testes de português.

 

Por isso, hoje decidimos falar-vos sobre as diferentes entre aquele que é o pretérito imperfeito do conjuntivo e a conjugação reflexa, mandando passear a sombra que anda sempre a pairar sobre o hífen ou sobre os dois ss, tantas vezes alvos de indesejáveis trocas e baldrocas.

 

Vamos, então, a esclarecimentos. Vejamos os exemplos:

  1. a) Ultimamente fala-semuito em igualdade.
  2. b) Se eu falasse mais, trabalharia menos.

 

Na frase a) estamos perante o presente do indicativo e a conjugação reflexa. Temos, portanto, de usar o hífen seguido de «se».

 

Já na frase b) temos o pretérito imperfeito do conjuntivo (este sim), que deve, pois, ser grafado com dois ss, necessariamente acoplados ao verbo.

 

Contudo, note o nosso leitor que, além da diferença gráfica, existe uma diferença semântica evidente: «fala-se», no presente do indicativo, designa uma situação real, enquanto (neste contexto) na frase b) o imperfeito de conjuntivo se aplica a uma situação hipotética.

 

Se ainda assim é difícil perceber, não há com que preocupar…

 

Uma das dicas para não errar é colocar a frase sobre a qual a dúvida incide na negativa: se o «se» puder mudar de lugar, então é porque, na forma afirmativa, a forma verbal deve vir grafada com «-se», da conjugação reflexa.

 

Outra dica é pensar na forma como produzimos, oralmente, ambas as formas e, assim, fazer uma ligeira batota, fintando a gramática. Assim, se ao proferirmos a forma verbal sentirmos que acentuamos a primeira sílaba, então a resposta é «fala-se» (f[a]la-se). Se acentuarmos a segunda sílaba, então o correcto será grafar a palavra sem hífen e com s duplo, «falasse» (fal[a]sse).

 

Fiquem, então, com as seguintes frases para perceber a diferença entre os modos verbais:

A)

Come-se muito bem na casa da Carla.

— Se eu comesse menos, estaria mais magra.

B)

— Ela veste-se bem.

— Embora se vestisse bem, andava sempre cheia de frio.

C)

— Diz-se muito «ya»!

— Se eu dissesse, a minha professora matava-me!

 

Boas conjugações!

 

Elsa Alves

(texto escrito de acordo com a antiga ortografia)
A Escrivaninha é uma equipa de freelancers que se dedicam à revisão, edição, tradução e produção de texto, criada por quem conhece e reconhece a beleza mas também os ardis da língua portuguesa. Conheça melhor os nossos serviços aqui.

 

Ler Mais