Nem todas as mulheres gostam dos mesmos estilos musicais, apreciam o mesmo tipo de exercício físico ou professam a mesma religião. Nem todas se vestem da mesma forma ou partilham os mesmos interesses. Então, se são todas diferentes, porque haverá o cancro da mama de ser igual para todas?
Este é o ponto de partida para uma campanha que, no Mês Internacional de Prevenção do Cancro da Mama, alerta para os diferentes subtipos da doença.
“E é muito importante saber que as diferentes doenças têm prognósticos diferentes e que cada doente tem especificidades próprias, o que implica muitas vezes tratamentos diferentes”, confirma Gabriela Sousa, médica oncologista, que reforça a importância deste conhecimento: “A principal vantagem é poder participar, com as equipas clínicas, nas decisões de tratamento, de forma consciente e informada!”
Por isso, as associações Careca Power e Evita, a Liga Portuguesa contra o Cancro, a Sociedade Portuguesa de Senologia, a AstraZeneca e a Daiichi Sankyo são os parceiros desta iniciativa, que conta com duas embaixadoras especiais – Joana Cruz, animadora de rádio e Sara Rodrigues, criadora de conteúdos digitais – e apresenta quatro testemunhos em vídeo de quatro mulheres com um diagnóstico de cancro da mama que é, ao mesmo tempo, aquilo que as une e as separa.
“Cada doente poderá ter uma doença diferente, porque seguramente ainda nos falta muito conhecimento sobre como esta doença interage com o organismo onde se desenvolve”, explica Gabriela Sousa. “Atualmente, conhecemos sobretudo quatro subtipos moleculares de cancro da mama. Contudo, não é realizada em todos os casos a determinação molecular de cada subtipo e o que é consensual é a determinação, por técnicas laboratoriais a realizar aquando da biópsia, pela anatomia patológica, de vários recetores que, no seu conjunto, poderão ser interpretados e integrados numa classificação equivalente: Luminal A “like” – elevada expressão de recetores hormonais (estrogénio e progesterona); Baixo índice proliferativo (Ki67) e ausência de expressão de HER2; Luminal B “like”/HER2 negativo – expressão menor de recetores hormonais, elevado índice proliferativo; HER2 “puro” – ausência de expressão de recetores hormonais e HER2 positivo; e triplo negativos – ausência de expressão de ambos os recetores hormonais e HER2.”
Depois, há ainda casos “relacionados com alterações genéticas, que poderão ser herdadas (alterações germinativas) ou que apenas se manifestam no próprio tumor (alterações somáticas)”. Alterações cuja busca deve ser feita “no caso de cancro da mama avançado (metastizado), dado que o diagnóstico destas alterações poderá ter implicação no tratamento da doença. Também está indicado proceder à determinação de alterações germinativas, sempre que a probabilidade de haver uma alteração seja superior a 10%, e perante algumas situações: diagnóstico de cancro da mama em idade jovem, antes dos 40 anos; diagnóstico de cancro da mama bilateral; diagnóstico de cancro da mama triplo negativo; diagnóstico de cancro da mama no homem”.
Apesar de ser cada vez maior o conhecimento nacional sobre cancro da mama, Gabriela Sousa considera que “há ainda um grande caminho a fazer ao nível da literacia” e esclarece que “o tratamento mais adequado num caso não é o melhor noutro caso”. Isto apesar de, “em termos de sintomas, o facto de ser uma doença diferente não alterar substancialmente os sinais a que devemos estar atentos. Deve ser dada atenção a qualquer modificação da mama (incluindo pele e mamilo), de deformidades da mama ou nodulações, escorrências mamilares ou feridas que não cicatrizam! Também a persistência de sinais inflamatórios da mama devem ser tomadas em atenção. Muito importante é aderir ao Programa Nacional de Rastreio, já que o cancro da mama pode ser detetado antes do aparecimento de sintomas, e quanto mais precocemente for, maior a probabilidade de cura”.
Recorde-se que, por ano, são diagnosticados cerca de 7 041 novos casos de cancro da mama e morrem, em Portugal, cerca de 1 864 mulheres e alguns homens com este tipo de tumor (1). “Salientamos a maior prevalência em mulheres mais jovens e, com o aumento da longevidade, também muitos cancros da mama são diagnosticados acima dos 70 anos. Estas duas populações (muito jovens e muito idosas) têm necessidades específicas destas idades e implicam desafios constantes ao nível das estruturas dedicadas ao tratamento do cancro da mama”, reforça a especialista.