Em conferência de imprensa transmitida online em direto de Estocolmo, a Academia Sueca explicou a sua escolha, «pela coragem e acuidade clínica com que descortina as raízes, os estranhamentos e os constrangimentos coletivos da memória pessoal». A Academia distinguiu Annie Ernaux pelo percurso «longo e árduo» e pela escrita «de forma consistente e de diferentes ângulos», na qual «examina uma vida marcada por fortes disparidades de género, linguagem e classe».
Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Uma espécie de «diário em bruto», nas palavras da Academia Sueca.
Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017) e o Prémio Formentor de las Letras (2019) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional, e já publicado pela Livros do Brasil em fevereiro de 2020, na coleção Dois Mundos. Em outubro do mesmo ano, foi editado, dessa feita na coleção Miniatura, o romance Uma Paixão Simples. Seguiu-se O Acontecimento, disponível nas livrarias desde o mês passado, um relato despojado de uma situação de aborto ilegal, escrito em 1999 e recentemente adaptado ao grande ecrã num filme premiado em Veneza.