O Doutor Finanças, especialista em finanças pessoais e familiares, explica que, na eventualidade de termos diversos créditos, existe a possibilidade de reduzir os encargos mensais com os empréstimos e ganhar uma folga no orçamento familiar.
“Ter mais do que um crédito não é incomum, pelo contrário, é até muito natural. A grande questão é que, com muitos créditos e a subida dos juros, a taxa de esforço tem aumentado significativamente. Os encargos com os empréstimos estão a assumir um peso demasiado grande relativamente aos rendimentos das famílias, sendo essencial sabermos como atuar para não comprometer a gestão do orçamento familiar”, comenta Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças.
Mesmo tendo vários créditos, existem soluções para reduzir os encargos e ganhar uma nova folga financeira. Por exemplo, se tivermos um imóvel – associado ou não a um crédito habitação -, podemos recorrer a um crédito multiopções (ou crédito multifunções) para liquidar um ou mais créditos. Já se tivermos mais de dois créditos pessoais, podemos consolidar estes créditos e ficar a pagar uma única prestação com uma taxa mais baixa.
O crédito multiopções é semelhante ao crédito hipotecário, com prazos de financiamento e taxas de juro bem mais atrativas do que outro tipo de empréstimos, estando associado a um imóvel, que pode ter já associado um crédito habitação, ou estar livre de ónus.
No caso de já termos um crédito habitação, o multiopções permite fazer uma segunda hipoteca sobre o imóvel. O valor da hipoteca vai servir, na prática, para obter um valor extra de financiamento, que pode ser usado para liquidar outros empréstimos e, com isso, reduzir os nossos encargos. Mas a sua aprovação depende muito de dois fatores:
1 – O nosso LTV (Loan to Value) atual – Na aquisição de uma habitação própria e permanente, o LTV (rácio entre o valor total emprestado e a avaliação do imóvel) tem de ser igual ou inferior a 90%. Num crédito habitação com garantia hipotecária ou equivalente, no máximo, o LTV pode atingir os 80%. Algumas instituições aceitam fazer uma segunda hipoteca apenas se tivermos um LTV entre os 60% e os 70%. Quanto menor for o nosso LTV, maior é a probabilidade de termos o nosso crédito multiopções aprovado.
2 – Taxa de esforço – A taxa de esforço pode ser um impeditivo para avançar com este novo crédito. Na hora de os bancos calcularem a nossa taxa de esforço vão incluir todos os créditos que temos a decorrer. E mesmo que o objetivo seja liquidar um ou mais créditos com este financiamento, o banco pode não ter garantias que vai liquidá-los.
Ainda, e tal como acontece em todos os financiamentos, um crédito multiopções tem as suas vantagens e desvantagens. Por um lado, estamos a falar de um crédito que permite liquidar outros empréstimos com taxas de juros mais reduzidas em comparação a outros tipos de financiamento.
No entanto, ainda que o crédito multiopções esteja indexado à Euribor a 3, 6 ou 12 meses, os valores dos spreads são mais elevados do que os do crédito habitação para uma habitação própria e permanente.
Ao mesmo tempo, a constituição de uma segunda hipoteca implica o pagamento de alguns encargos semelhantes aos de um crédito habitação, como comissões bancárias e despesas relativas à aquisição de um novo financiamento. Assim, se quisermos recorrer a esta opção, devemos olhar para as condições contratuais e o valor da TAEG e do MTIC associado ao nosso crédito multiopções.
Por outro lado, e caso não estejamos numa situação de incumprimento, e, no mínimo, dois créditos ao consumo, podemos recorrer a um crédito consolidado.
A consolidação de créditos funciona de forma diferente do crédito multiopções. Em primeiro lugar, não estamos a fazer uma hipoteca sobre o nosso imóvel para obter o financiamento. Quando consolidamos os nossos créditos, passamos a dever a uma entidade todo o capital em dívida e juntamos todas as prestações em dívida numa única.
De acordo com os valores em dívida, prazos desses empréstimos, risco e garantias de financiamento, o banco fixa uma taxa de juro. Na maioria dos casos, esta taxa de juro é mais baixa comparativamente a outros créditos, como as taxas aplicadas aos cartões de crédito. No entanto, o prazo deste financiamento pode estender-se até aos sete anos, permitindo, em alguns casos uma redução de até 60% dos encargos com as prestações.
Com essa folga financeira, que pode chegar a centenas de euros por mês, podemos combater o aumento da inflação, amortizar o nosso crédito habitação ou reforçar o nosso fundo de emergência para aumentar a nossa estabilidade financeira.