Falar sobre o Cancro do Fígado nunca é suficiente, especialmente quando se reflete sobre as consequências letais que tem no corpo humano e na prevalência que tem na população. Está comprovado que a consciencialização promove uma deteção precoce, que na maioria dos casos é o fator mais importante para minimizar o desfecho da patologia e aumentar a taxa de sobrevivência.
Por Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)
Todos os anos, estima-se que em Portugal surjam, aproximadamente, 1.400 novos casos de carcinoma hepatocelular, verificando-se uma incidência 2,5 vezes superior no sexo masculino. Este é o sexto cancro mais comum no mundo e o quarto com maior mortalidade, sendo que a situação não melhorou com a pandemia da COVID-19, fruto dos atrasos de diagnóstico.
Enquanto população, cabe-nos a nós começar a olhar para o fígado como um órgão essencial, que se destaca pela importância na remoção de toxinas do organismo e pela distribuição e armazenamento de nutrientes, além de muitas outras funções essenciais para o corpo humano. Perante a doença hepática, a sua capacidade de regeneração, processamento de toxinas e produção de proteínas, pode ficar comprometida, assim como outros processos a que está associado. No entanto, é de realçar que o Cancro do Fígado é uma doença silenciosa e, geralmente, não apresenta sintomas até aos estádios avançados. Ainda assim, é crucial estar atento aos sinais que, por vezes, passam despercebidos:
- Dor ou sensibilidade abdominal;
- Perda de peso inexplicável;
- Ascite (líquido dentro do abdómen);
- Aparecimento de nódoas negras;
- Hemorragias;
- Icterícia (coloração amarelada dos olhos e corpo);
- Encefalopatia (alterações da função cerebral);
- Fadiga.
A presença destes sintomas deve constituir um alerta para consultar o seu médico e realizar exames de diagnóstico, particularmente se tiver fatores de risco para este tipo de cancro. De facto, está mais propenso a contrair Cancro do Fígado quem for portador de hepatite B ou C, quem tiver antecedentes familiares deste tipo de tumor e quem tiver cirrose hepática. Assim, as pessoas portadoras de doenças hepáticas crónicas, nomeadamente hepatite B, hepatite C ou cirrose hepática, devem ser integradas num programa de rastreio regular do cancro do fígado, sob orientação do seu médico.
Não obstante, a mudança de estilo de vida, que procura a adoção de uma dieta nutritiva, pobre em gordura, açúcares e bebidas alcoólicas, associada à prática de exercício físico regular, é fortemente recomendada na prevenção destas doenças. É de realçar que as doenças hepáticas são potenciadas pela presença da obesidade, diabetes e sedentarismo, que conduzem à acumulação de gordura no fígado.
No que diz respeito ao diagnóstico, este pode ser realizado recorrendo a uma ecografia, a que se poderão seguir outros exames como a tomografia computorizada (TAC), a ressonância magnética ou a biópsia.
Uma vez realizado o diagnóstico, é necessário verificar o grau de evolução do tumor no organismo, o denominado “estadiamento”.
De seguida, procede-se à seleção do tratamento, que pode envolver intervenção cirúrgica para remoção do tumor, tratamento local por técnicas de radiofrequência ou micro-ondas, quimioterapia local ou sistémica ou transplante hepático. O prognóstico dependerá sobretudo da fase de evolução em que o tumor é diagnosticado e da possibilidade de, em cada caso, aplicar o método de tratamento mais eficaz.
Se se quer proteger desta doença e manter a sua saúde, deve aproveitar as opções de rastreio disponíveis e não desvalorizar as idas ao médico. Cuidar de si é cuidar do seu fígado. Aposte na prevenção, na deteção e no tratamento precoce do cancro hepático. Este é um dos objetivos que norteiam a missão da APEF: prevenir, diagnosticar, tratar e minimizar, tanto quanto possível, as consequências do Cancro do Fígado.