O anúncio feito no início da passada semana pela Pfizer parece ter gerado um enorme sentimento de esperança. Segundo a farmacêutica, os testes preliminares da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica Pfizer, em parceria com a BioNTech, revelam uma eficácia de mais de 90% na prevenção da doença.
Já esta manhã novos dados divulgados pela empresa relativamente a este estudo sugerem que a vacina poderá ser 95% eficaz, após a confirmação de que dos 170 casos de voluntários que desenvolveram a Covid-19 apenas 8 tinham recebido a vacina. Todos os outros indivíduos faziam parte do grupo “placebo”, sugerindo assim que a vacina pode oferecer uma boa proteção.
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Sendo certo que esta é uma notícia animadora, a verdade é que existem ainda muitas questões por responder, tal como refere o portal NextAvenue. Historicamente este tipo de anúncio cientifico é feito após a publicação de uma investigação extensiva e rigorosa, que pressupõe um escrutínio da comunidade cientifica; e não através de um press release empresarial como tem acontecido.
Eis 5 questões importantes que nos permitem compreender um pouco melhor o anúncio deste avanço cientifico.
- Durante quanto tempo a vacina protege os pacientes?
Segundo a Pfizer e de acordo com os dados confirmados hoje, das cerca de 41 000 pessoas que participaram no estudo apenas 170 ficaram infetadas com o vírus. Estes participantes foram vacinados duas vezes entre Julho e Outubro. Infelizmente a Pfizer não indica durante quanto tempo esta proteção pode fazer efeito ou quantas doses deverão ser tomadas.
De acordo com especialistas da FDA, de acordo com estes dados, pode estimar-se que a imunidade dure entre 6 a 12 meses. Um número algo insuficiente, dado que habitualmente as vacinas só são licenciadas se apresentarem uma proteção mínima de 1 a 2 anos. De resto continuam a não ser comunicados nenhuns efeitos secundários graves associados a esta vacina.
- Vai ser capaz de proteger os mais vulneráveis?
Na semana passada a Pfizer não havia especificado qual a percentagem do grupo de participantes que é composta por membro dos grupos de maior risco – idosos, diabéticos e obesos. Esta informação é particularmente importante pois sabemos que existem muitas vacinas que não são tão eficazes na proteção de adultos com mais de 65 anos.
Felizmente os novos dados revelados hoje, indicam que a vacina parece ser eficaz independentemente dos grupos demográficos e étnicos dos participantes. Segundo a Pfizer e BioNTech a vacina revela uma eficácia de 94% para os adultos com mais de 65 anos. Esta é uma confirmação promissora que permite sugerir que a vacina será capaz de proteger os mais vulneráveis.
- Poderá vir a ser distribuída com eficácia?
Ao contrário de outras vacinas que se encontram atualmente nas fases finais de teste, a da Pfizer necessita de se manter refrigerada e preservada a -70ºC, desde a altura em que é produzida até ao momento de injeção. A empresa anunciou um plano elaborado para o transporte das doses em camiões, podendo mais tarde criado locais designados e especiais para a vacinação. No entanto continua a não ser inteiramente claro se os profissionais de saúde e os mecanismos de distribuição serão realmente capazes de assegurar todas estas condições especiais, sobretudo em países menos desenvolvidos.
- Pode este anúncio precoce prejudicar o futuro das outras vacinas?
Ainda não é possível determinar se a vacina da Pfizer será a melhor e mais eficaz no combate à Covid-19. No entanto caso as agências de saúde aprovem com rapidez esta vacina em particular isso pode colocar uma enorme pressão nos estudos das outras vacinas. Não apenas para que estes acelerem as suas conclusões, mas também porque muitos possíveis participantes podem sentir-se desencorajados a participar num estudo incerto, caso já exista uma outra solução cientificamente aprovada.
- Pode o estudo da Pfizer acelerar as outras vacinas?
Os cientistas parecem estar muito interessados em perceber se os participantes do estudo que receberam a vacina mas ficaram doentes acabaram por produzir níveis menores de anti-corpos, quando comparado com os participantes que se mantiveram saudáveis. Um estudo do sangue destes indivíduos poderá permitir concluir se existe um nível mínimo de anticorpos necessário para assegurar a proteção contra a doença. Com esta informação seria depois possível determinar se outras vacinas poderiam ser eficazes, sem ter que as testar num grupo alargado de pessoas. No entanto este tipo de certeza é muito difícil de obter pelo que é improvável que este estudo em particular seja capaz de acelerar outras vacinas em curso.
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