Na obra, o autor coloca uma série de questões às quais tenta dar resposta através de conversas de vida que teve com personalidades notáveis. O que podemos aprender com os grandes líderes empresariais; de que massa são feitos; e com que linhas se cose o seu êxito, são algumas das perguntas a que este livro tenta dar resposta.
As histórias de vida inspiradoras e as regras de ouro de 12 grandes líderes, são-nos reveladas por Nelson Marques, para quem «não existe um guia para o sucesso». O motivo explica-o nesta entrevista à Forever Young.
Quando decidiu que queria ser jornalista?
Foi no final do 9º ano, quando tive de decidir que caminho seguir. Por qualquer razão, imaginava que podia ser professor de Inglês, mas os testes psicotécnicos apontavam todos na direção das Ciências. Fiquei confuso porque, apesar de ser muito bom aluno, não tinha qualquer interesse em disciplinas como Matemática, Física ou Química. Em bom rigor, o mérito é da minha mãe que um dia me perguntou: “E jornalismo? Sempre gostaste de escrever nos jornais das escolas”. Foi uma vocação precoce, mas, até esse dia, nunca tinha pensado que poderia fazer dela vida.
O que é para si contar bem uma história?
Desde logo, é contar uma boa história, porque se ela for boa fica mais fácil contá-la bem. Depois, é contá-la de uma forma que agarre o leitor desde o primeiro parágrafo até ao último. Coloco sempre muita energia nesse primeiro parágrafo, mas é preciso colocar igual energia na forma de “sair” da história. Às vezes, já só queremos despachar o fim e isso é um erro. Digo sempre que uma boa história é como uma boa refeição num restaurante: tem de ter uma bela entrada, prato principal e acabar numa sobremesa que nos adoça a boca.
De todas as reportagens que fez qual a que mais o marcou e porquê?
Tenho sempre muita dificuldade em responder a perguntas que me pedem para fazer escolhas dessas. Fiz centenas de reportagens ao longo de 20 anos. Se tiver de escolher uma, escolho aquela que deu origem ao meu primeiro livro, Filhos da Quimio, porque me fez descobrir uma paixão tão grande que me levou a querer viver apenas da escrita de livros. É a história de mulheres que descobriram que tinham cancro durante a gravidez. Quando descobri a primeira dessas histórias, achei que era muito poderosa – e angustiante – a ideia de que alguém está a gerar uma vida ao mesmo tempo que luta pela sua. Luta por si e pelo seu bebé. Era uma história com tantas camadas que foi primeiro reportagem no Expresso, deu depois origem a uma reportagem na SIC, que venceu o prémio de jornalismo da Liga Portuguesa Contra o Cancro, e acabou por ser desenvolvida num livro.
Entrevistou personalidades internacionais dos mais variados quadrantes e sectores. Qual a entrevista que lhe ficou na memória?
São tantas que fica mesmo muito difícil escolher. Gostei muito de entrevistar o Al Gore, antigo vice-presidente dos EUA, que me deixou um elogio que me enche de orgulho: “Já conversei com muitos jornalistas pelo mundo, mas a arte do seu ofício destaca-se”. Haverá quem ache presunçoso partilhar isto, mas é impossível ficarmos indiferentes quando uma personalidade tão importante nos deixa um elogio destes. Mas é muito difícil escolher uma só entrevista porque foram tantos os talentos que entrevistei e tão marcantes: foi um privilégio entrevistar o Anthony Bourdain, porque ele era o contador de histórias que todos gostávamos de ser; foi uma experiência irrepetível passar um dia em Modena, Itália, com um dos mais talentosos chefs do mundo, o Massimo Bottura; fui a Paris entrevistar um dos maiores arquitetos do nosso tempo, o Renzo Piano; entrevistei o designer Philippe Starck e o designer de calçado Christian Louboutin nas suas casas em Portugal; enfim, a lista é longa. Ao rever estas experiências, sinto-me um privilegiado por estas pessoas confiarem em mim para contar as suas histórias.
Publicou vários livros. Hoje considera-se jornalista ou escritor?
Costuma dizer-se “uma vez jornalista, para sempre jornalista”. Há alguma verdade nisso, até porque os meus livros aproximam-se muito do registo do jornalismo: continuam a interessar-me mais as histórias reais do que a ficção. Mas deixei o Expresso há dois anos para me focar na minha carreira como escritor. Nem sequer renovei a carteira profissional de jornalista.
Surge agora com o livro O Sucesso Está Nos Detalhes. Como surgiu esta ideia?
Surgiu no seguimento de dois livros Chefs Sem Reservas, que contam as histórias de sucesso de grandes cozinheiros, portugueses e internacionais. Depois de ter escrito o segundo, pareceu-me que seria interessante descascar as diferentes camadas dos líderes de grandes empresas e negócios, que aparecem habitualmente num registo demasiado formatado. Sabia que “desarrumá-los” um pouco seria um exercício difícil, mas gosto de um bom desafio, por isso decidi abraçá-lo,
De que forma escolheu as pessoas que integram o livro? São personalidades de várias idades e oriundas de diferentes sectores. Era importante ter essa diversidade?
A diversidade foi um dos critérios que influenciou a escolha das doze personalidades retratadas no livro. Quis que as suas histórias representassem diversas realidades, de género, de idade e também da área onde atuam. Há líderes de áreas como a hotelaria, a gastronomia, as telecomunicações, a advocacia, a edição de livros, os pagamentos eletrónicos e muito mais. Há um arquiteto (Renzo Piano), há um designer (Philippe Starck) e até um editor de livros (Benedikt Taschen). Há personalidades portuguesas e internacionais. Há líderes com 86 anos (Renzo Piano) e com 28 (Diogo Amorim, da Gleba). Esta diversidade enriquece muito o livro.
Na sua visão o que faz de um líder um bom líder?
O livro oferece muitas pistas para responder a essa pergunta, mas para mim há uma característica que se sobrepõe a todas as outras: um bom líder (ou uma boa líder) tem de ter capacidade de inspirar, de fazer com que os outros acreditem na sua visão e o seguiam.
É essencial um bom líder ser possuidor de um caráter forte?
A tentação é responder “sim”, mas dizer que uma pessoa tem um caráter forte é muito vago. O que é ter um caráter forte? O que o livro nos mostra é que um líder é alguém que teve um sonho e teve a coragem de o perseguir. É alguém que se levantou depois de cair, porque o caminho para o sucesso não se faz sem falhanços; que trabalhou muito, com paixão, disciplina, compromisso e capacidade de sacrifício; e que se rodeou das pessoas certas, porque ninguém escala sozinho até ao topo da montanha.
Neste livro mostra angústias e fragilidades dos entrevistados. Foi fácil para eles exporem-se?
É importante notar que, antes de as entrevistar, nunca antes tinha estado com qualquer uma destas personalidades. Creio que tentar forjar essa intimidade com elas é algo que não se explica, já vem do nosso método e da nossa capacidade de criar empatia. No fundo, é como ir a um encontro com alguém pela primeira vez: as coisas ou fluem, ou não. Felizmente para mim e para o livro, estes 12 encontros correram muito bem.
E para si, foi simples entrar nesse universo privado de cada um deles?
Simples nunca é. Não basta dizer-lhes “gostava que me contasse o que nunca contou ou que se mostrasse como nunca se mostrou” e esperar que aceitem. É preciso ganhar a sua confiança. A prova que não é simples é que recebi algumas negas. Houve personalidades que gostaria de ter entrevistado, mas que só estavam disponíveis para falar dos seus negócios. É legítimo que o queiram fazer, mas o livro quer, precisamente, quebrar com isso e mostrar aos leitores mais do que está à vista.
É este livro um guia para alcançar o sucesso?
O livro tem lições de vida e conselhos muito importantes para quem quer ser bem-sucedido em qualquer área, mas desengane-se quem acha que há um guia para o sucesso. Não era bom se bastasse ler um livro e, quase instantaneamente, poderíamos alcançar o sucesso? As coisas não funcionam assim. Dito isto, creio que as lições, os conselhos e as regras de ouro que estão no livro podem ser muito úteis para quem ambiciona chegar ao topo.
Mas podemos nós, “comuns mortais”, aprender mesmo com os líderes?
Claro que podemos. É óbvio que o conceito de meritocracia é um pouco uma treta, porque a vida não oferece oportunidades iguais a todas as pessoas, mas somos (porventura não totalmente, mas em grande medida) responsáveis pelo nosso destino e podemos aprender com as lições que outros nos deixam.
Qual a lição mais importante que lhe trouxe a criação desta obra?
A lição talvez mais importante é não desistir. Há uma frase célebre do Thomas Edison que se traduz mais ou menos assim: “A nossa maior fraqueza está em desistir. A forma mais certa de ter sucesso é sempre tentar mais uma vez.” Há um ano, eu estava quase pronto para abandonar a ideia de escrever este livro. As coisas não estavam a correr como esperava, comecei a ter dúvidas, a pensar que talvez acreditasse mais no livro do que outros… Mas é nas alturas de pânico que temos de respirar fundo, porque há quase sempre uma saída. E ainda bem que não desisti, porque iria arrepender-me de não ter escrito este livro.
Tem prefácio de Rui Miguel Nabeiro. Que razão o levou a escolher este líder em específico para esta tarefa?
Foi a forma que encontrei de homenagear o seu avô, Rui Nabeiro, fundador da Delta, a quem o livro é dedicado. Era a pessoa que mais desejava ter entrevistado para este livro, porque era um líder único, irrepetível, cheio de humanidade, mas, tragicamente, deixou-nos antes de conseguirmos realizar a nossa conversa.
Que motivo o fez escolher este título para o livro?
O título resulta da conversa com o Rui Sanches, fundador da Plateform, o maior grupo português de restauração. Ele acredita, firmemente, que “o Diabo está nos detalhes” e pareceu-me que era uma ideia feliz para o livro, porque as pequenas coisas podem fazer uma grande diferença. Depois, por sugestão de uma amiga, a Catarina Marques Rodrigues, também jornalista, passou a O Sucesso Está nos Detalhes. Creio que esta pequena mudança no título é um bom exemplo de um detalhe que faz toda a diferença.
Acredita mesmo que os livros vão salvar o mundo?
É uma ideia um pouco romântica, talvez ingénua, até porque, por vezes, parece que este mundo não tem salvação possível, mas acredito no poder infinito dos livros para mudar consciências. Livro a livro, em pequenos passos, podemos alcançar grandes mudanças. A literacia é o maior inimigo da barbárie.
E para si, o que é o sucesso?
É ter a felicidade de fazer o que mais amo: escrever.
Foto: Diana Tinoco