São alertas que levaram a ONU a escolher o lema “Unidos pela Terra. O nosso legado. O nosso futuro” para assinalar o Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação, que se assinala na próxima segunda-feira, procurando sensibilizar para os esforços internacionais no combate à desertificação, degradação dos solos e seca, e apresentar soluções para prevenir a desertificação e inverter a situação.
A efeméride foi estabelecida em 1994 e este ano a Alemanha concentra as iniciativas para sensibilizar para a importância da terra, coincidindo com os 30 anos da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), que tem sede em Bona, onde representantes de todo o mundo irão debater iniciativas para garantir terras saudáveis para as próximas gerações.
A ONU, ao anunciar Bona como o centro das comemorações, advertiu que o envolvimento das atuais e futuras gerações é hoje mais importante do que nunca para travar e inverter as “tendências alarmantes” e cumprir os compromissos globais de recuperar mil milhões de hectares de terras degradadas até 2030.
Ibrahim Thiaw, secretário Executivo da CNUCD, recordou os cerca de 40% de terras degradadas do mundo, afetando perto de metade da humanidade. Mas disse que há soluções. E acrescentou: “A recuperação de terras retira as pessoas da pobreza e aumenta a sua resistência às alterações climáticas”.
A iniciativa de Bona antecede a maior conferência da ONU sobre a terra e sobre a seca, que acontecerá em Riade, na Arábia Saudita, em dezembro, a COP16.
A UNCCD, o único tratado internacional juridicamente vinculativo sobre a gestão da terra e a seca (uma das três convenções da cimeira do Rio de Janeiro, a par das alterações climáticas e da biodiversidade) apresentou recentemente um relatório no qual destacou que até 50% de todas as pastagens usadas para pastoreio ou caça estão degradadas.
A degradação destas terras, representando 54% da terra em todo o mundo, coloca em risco um sexto do suprimento de alimentos da humanidade e um terço do reservatório de carbono da Terra.
O movimento internacional “Save Soil”, numa declaração à Lusa a propósito do relatório e do Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação, recorda que essa degradação é impulsionada principalmente por mudanças no uso das terras, convertendo pastagens em terras agrícolas.
“As pastagens são muitas vezes pouco e mal compreendidas, e a falta de sensibilização do público e de dados fiáveis, prejudica a gestão sustentável do seu imenso valor no abastecimento alimentar e na regulação do clima”, diz o “Save Soil”.
Praveena Sridhar, executivo do movimento, assinala que práticas agrícolas regenerativas elevam a matéria orgânica e podem restaurar muitas paisagens”, garantindo melhor produção das terras agrícolas sem necessidade de se expandirem.
O “Save Soil”, um movimento apoiado por diversas estruturas das Nações Unidas e que colabora com governos no estabelecimento de políticas de saúde do solo, defende soluções políticas urgentes e sublinha a importância a COP16 para uma ação política concertada.
“Apesar de contarem com cerca de 500.000 milhões de indivíduos em todo o mundo, as comunidades pastoris são frequentemente negligenciadas, (…) marginalizadas e até mesmo muitas vezes vistas como outsiders nas suas próprias terras”, considera Ibrahim Thiaw.
No relatório da UNCCD afirma-se que os sintomas dos problemas dos solos de pastagem incluem a diminuição da fertilidade e dos nutrientes do solo, a erosão, a salinização, a alcalinização e a compactação do solo, que inibem o crescimento das plantas, contribuindo todos eles para a seca, as flutuações da precipitação e a perda de biodiversidade, tanto acima como abaixo do solo.
As secas estão entre as maiores ameaças ao desenvolvimento sustentável. As previsões estimam que até 2050 as secas podem afetar mais de três quartos da população mundial.
O número e duração das secas aumentou 29% desde 2000, em comparação com as duas décadas anteriores, segundo dados oficiais. Mais de 2,3 mil milhões de pessoas já enfrentam stress hídrico.
Segundo a UNICEF cada vez mais pessoas viverão em zonas com extrema escassez de água, incluindo uma em cada quatro crianças, até 2040.
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Lusa/fim