Como se explica então que poucos tenham ouvido falar de Jakob Fugger? E que, em vez disso, saibamos tanto sobre alguns de seus contemporâneos, como os Médici, Lucrécia Bórgia ou Nicolau Maquiavel? O autor considera que, por ser alemão, Fugger não se tornou conhecido no mundo anglófono, mas também por ser discreto, não se ter candidatado a cargos políticos, patrocionado artistas renascentistas e mandado construir palácios ou templos… E foi exatamente isso que o motivou a escrever sobre quem considera ser o primeiro capitalista de sempre, que criou a primeira multinacional, estimulou a reforma protestante e criou formas de financiamento ainda hoje usadas na banca internacional.
Porque enquanto Colombo navegava à descoberta de novos mundos e Leonardo Da Vinci pintava La Gioconda, o neto de um camponês tornava-se o homem mais rico de sempre. Jakob Fugger nasceu e viveu na Alemanha nos séculos XV e XVI. Quando morreu, a sua fortuna ascendia a dois por cento da riqueza produzida na Europa – o que se explica pela sua conjunção verdadeiramente invulgar de talento, frieza, determinação e ousadia. Numa época em que os poderes dos monarcas e da Igreja eram avassaladores, este plebeu e neto de camponeses, tornado comerciante e banqueiro, desafiou-os e impôs-lhes a sua visão de homem de negócios. Convenceu o Vaticano a permitir a cobrança de juros sobre os empréstimos, uma prática até então proibida, e exigiu a reis e rainhas que pagassem o que lhe deviam – com juros. Este alemão obstinado operou profundas alterações que ajudaram a moldar o mundo do dinheiro tal como o conhecemos hoje, mas fez mais do que isso. Entre outras façanhas, esteve nas origens da Reforma de Martinho Lutero e terá patrocinado a viagem de circum-navegação de Fernão Magalhães. Foi também graças à sua fortuna colossal que os Habsburgo se tornaram soberanos de um mítico império onde o Sol nunca se punha…
Jakob Fugger mudou o curso da História porque viveu numa época em que, pela primeira vez, o dinheiro foi o elemento determinante na guerra, e, portanto, na política.Viveu em palácios e possuía uma rede de castelos. Na geração que o precedeu, os Médici tiveram muito dinheiro, mas Fugger foi o primeiro de sempre a ter contas com sete dígitos.Mas será que o êxito lhe trouxe felicidade? Provavelmente não, pelo menos em termos convencionais. Junto do seu leito de morte estiveram apenas aqueles a quem pagou para o servirem, enquanto a mulher o enganava com o amante. Ainda assim, pode dizer-se que foi bem-sucedido de acordo com o seu próprio critério. O seu objetivo não foi, nem o conforto, nem a felicidade, mas acumular dinheiro até ao fim. Os seus métodos abriram caminho a cinco séculos de capitalismo. Foi o primeiro dos homens de negócios da era moderna por ter sido o primeiro a perseguir a riqueza pela riqueza, sem receio de ser condenado ao Inferno. Para percebermos a forma como o nosso sistema financeiro funciona e a maneira como foi criado vale a pena tentarmos perceber Jakob Fugger.
Greg Steinmetz é licenciado em História e Alemão e mestre em Jornalismo. Foi jornalista durante 15 anos e trabalhou em títulos como “The Wall Street Journal”, tendo chefiado as respetivas delegações de Londres e Berlim. Trabalhou ainda como analista de valores imobiliários e numa empresa nova-iorquina de fundos de investimento. Publicou os livros American Rascal: How Jay Gould Built Wall Street’s Biggest Fortune e o presente O Homem mais Rico de Sempre.