“O filme [‘Homo Urbanus Lisboetus’] vai começar a ser rodado muito em breve”, disse a realizadora e artista Louise Lemoine, questionada pela agência Lusa no final da visita de imprensa à exposição da nova temporada do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém (MAC/CCB).
No mesmo dia também será inaugurada a mostra ”Hestnes Ferreira – Forma | Matéria | Luz”, dedicada à obra do arquiteto português, baseada no seu processo de trabalho, dominado pelo desenho a carvão e pela experimentação da arquitetura, numa organização da Fundação Instituto Marques da Silva.
Em “Homo Urbanus. Uma Odisseia Cidamatográfica de Bêka & Lemoine”, com curadoria de Justin Jaeckle, Ila Bêka e Louise Lemoine, são apresentadas mais de 13 horas de filmes sobre outras tantas cidades, entre Veneza, Rabat, Doha, Mumbai e Tóquio, colocando o ênfase na relação entre as pessoas e o espaço público.
“Esta é uma oportunidade de mostrar os filmes do projeto iniciado em 2017, mas também estamos gratos por o museu ter considerado interessante propor dar um passo mais no seu desenvolvimento e, nesse sentido, a exposição vai produzir um filme sobre Lisboa, com alguns aspetos e lugares”, indicou a artista francesa da área do design e da arquitetura.
Juntamente com o artista italiano Ila Bêca, Lemoine tem viajado por todo o mundo para observar as particularidades das cidades como ecossistema, realçando o que chamaram de “Homo Urbanus”, que terá no MAC/CCB a maior exposição de sempre do projeto, que ficará patente até 20 de abril de 2025.
Em 05 de março, contam lançar o filme “Homo Urbanus Lisboetus” sobre a capital portuguesa, que será ainda incluído nesta exposição, tornando-se a 14.ª cidade do projeto: “Estamos a ver os lugares em Lisboa que poderão ser interessantes para fazer as filmagens”, apontou.
“O filme deverá ter um formato pequeno. Os formatos divergem de cidade para cidade, e dependem também do nosso tempo disponível, mas queremos continuar uma relação nova com as cidades para manter a surpresa. Estamos a percorrer Lisboa para podermos criar um trabalho o mais espontâneo possível”, avançou Lemoine.
Nas salas da exposição estão montados ecrãs gigantes e canapés para o público poder sentar-se ou deitar-se e assistir a cenas do quotidiano das cidades, com a vida dos seus habitantes e viajantes, acedendo a hábitos, regras sociais e culturas locais captados pelos realizadores.
“Cada cidade tem um caráter, uma identidade que tentamos descobrir. Por exemplo, as crianças usam o espaço público. Há cidades onde vemos muitas crianças na rua, noutras não vemos porque é considerado perigoso”, indicou Ila Bêca, questionado pela Lusa sobre o processo de trabalho do projeto.
Inicialmente, a metodologia é igual para todas as cidades, mas à medida que vão observando, selecionam algum lugar ou perspetiva especiais, acrescentou o artista que, em conjunto com Louise Lemoine trabalha há mais de vinte anos com variados suportes, incluindo vídeo, instalação, fotografia e o livro.
Em 2016, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA, na sigla original) adquiriu toda a sua filmografia até àquela data, composta por 16 filmes, intitulada “Living Architectures”.
A meio da exposição “Homo Urbanus” foi colocado um gráfico – em forma de mapa mental – usado habitualmente como guião dos filmes, e nele surgem as ligações entre conceitos e atividades tão diferentes como ouvir, espaço partilhado, imersão, comédia humana, stress, ecologia, luz, ordem pública, temporalidade, subjetividade e geografia emocional.
“O processo de trabalho neste projeto foi evoluindo ao longo do tempo, porque a nossa sensibilidade foi mudando também e sendo refinada. Observamos como as pessoas vivem coletivamente e usam o espaço público, e como estes aspetos imateriais tornam cada cidade especial. É um projeto muito importante para nós”, adicionou Louise Lemoine.
Sobre o trabalho de investigação e reflexão dedicado às cidades, os dois artistas sustentam que não procuram defender uma tese, nem dar conclusões na sua obra, “antes, como nos documentários, aprender com a experiência”.
“Tentamos perceber exatamente sobre o que é um espaço, observando, olhando com atenção. É um lugar de interpretação. Propomos dar uma visão muito abrangente. As cidades são organismos tão complexos e mudam muito. É como uma performance. Podemos captar isso num instante, em dias, em semanas”, acrescentou a realizadora.
O MAC/CCB inaugura também na quarta-feira a exposição com uma leitura da obra do arquiteto Raul Hestnes Ferreira (1931–2018), comissariada por Alexandra Saraiva, com Patrícia Bento d’Almeida e Paulo Tormenta Pinto.
Nas maquetas de alguns dos seus projetos – como a Escola Secundária José Gomes Ferreira ou do Instituto Superior Ciências Trabalho Empresa (ISCTE) – nota-se como Hestnes Ferreira foi influenciado pela arquitetura mediterrânica, a estética escandinava, nomeadamente pelos arquitetos Aalto, Asplund e Lewerenz, e sobretudo pela formação ao lado de Louis Kahn, em Filadélfia, nos Estados Unidos.
O seu trabalho ficou marcado pela simplicidade e neutralidade de ambientes definidos pela ausência de ornamentação e pela clareza das formas, sublinharam as curadoras, durante a visita de imprensa à exposição, hoje realizada.
”Hestnes Ferreira – Forma | Matéria | Luz” inclui ainda um programa de visitas aos projetos, e ficará patente até 13 de abril de 2025.
Hestnes Ferreira recebeu vários prémios, incluindo o Valmor (2002), o Prémio Nacional de Arquitetura e Urbanismo (1982) e o doutoramento honoris causa pela Universidade de Coimbra.
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