“Neste filme, ouvimos Elton de uma forma que nunca ouvimos antes”, disse à Lusa o realizador R.J. Cutler. “Ouvimos Elton John de uma forma que é profundamente íntima, não como uma entrevista para um documentário, mas em conversa com um dos seus amigos mais próximos”.
Parte do documentário baseia-se em mais de 40 horas de conversa entre Elton John e o jornalista Alexis Petridis, na preparação para a autobiografia do artista. A narrativa é dinâmica e sobrepõe a voz de Elton John a imagens e vídeos que foram desenterrados, muitos dos quais nunca tinham sido vistos.
“Tenho a sorte de trabalhar com uma excelente equipa de investigadores de arquivos e conseguimos encontrar artefactos incríveis, coisas que nunca tinham sido vistas, imagens que não tinham sido processadas”, explicou R.J. Cutler.
Entre elas está a gravação original do álbum “Goodbye Yellow Brick Road”, em que podemos assistir a Elton John a criar “Candle in the Wind”. Esses momentos nunca tinham sido processados e estavam em filme dentro de uma lata.
Também é mostrado vídeo e áudio – encontrado em arquivo – da última atuação de John Lennon, durante o concerto de Elton John no Madison Square Garden, Nova Iorque, em novembro de 1974. John relembra o nervosismo de Lennon e o facto de esse concerto o ter levado a reatar a relação com Yoko Ono.
O documentário inclui passagens do seu diário e ainda a entrevista com Cliff Jahr da Rolling Stone, em que Elton John assumiu, na altura, ser bissexual.
“Ele era uma figura colossal no palco mundial”, disse R.J. Cutler. “E ainda assim, era profundamente infeliz e insatisfeito na sua vida pessoal. Era viciado em drogas, estava no armário, era solitário”, continuou.
“Tomou a decisão muito consequente de parar de andar em ‘tour’, sair do armário na Rolling Stone, ser honesto quanto à sua sexualidade e iniciar uma longa caminhada para a satisfação pessoal e felicidade, para mudar a sua vida. E mudou”.
Cutler entrou no projeto a convite de David Furnish, marido de Elton John, que correaliza o filme. A proposta inicial era seguir o cantor nos últimos meses antes do concerto marcado para o estádio dos Dodgers, em Los Angeles, em 2022.
“Eu disse ao David que achava que havia um grande filme para fazer sobre os primeiros cinco anos da carreira de Elton, um período incrivelmente prolífico durante o qual respondeu à pergunta sobre o que acontece depois dos Beatles”.
A banda dos quatro fabulosos tinha acabado em 1970 e ninguém sabia bem o que se seguiria na música popular. “Elton John foi a resposta”, disse Cutler. “Lançou 13 álbuns em cinco anos e sete deles foram número um”, frisou. “O oitavo, ’17-11-70’, foi o melhor álbum ao vivo de sempre, segundo muitos. A maioria das canções em que pensamos quando pensamos em Elton John foram escritas neste período”.
O resultado é um documentário que salta entre a primeira metade da década de setenta e os meses que antecederam o concerto em LA.
Cutler disse que a intenção é pôr as pessoas a bater o pé e a rir e chorar, mas que há uma mensagem mais profunda no filme, indicada no título.
“Significa que nunca é tarde para viver a vida que desejamos viver”, afirmou o realizador. “O nosso tempo é finito e a questão que todos somos chamados a responder é o que é que queremos fazer com esse tempo, como é que queremos viver as nossas vidas”, continuou. “O que é que nos vai satisfazer como seres humanos? Para Elton John, a resposta foi a conexão aos outros, amor, família. Era o que ele queria. E vemos neste filme como o encontrou”.
Cutler acrescentou que a vida do artista é “uma grande inspiração” para entregar essa mensagem à audiência. “Estamos sempre a tentar fazer perguntas sobre esta vida que vivemos, e aqui fazemo-lo com o Elton”.
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