Porque, como explica Madalena Plácido, Presidente da Direção da MiGRA Portugal – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, esta patologia gera “um elevado absentismo, levando os colaboradores a faltarem ao trabalho devido à dor de cabeça intensa, náuseas, sensibilidade à luz, odor e ao som – e muitos outros sintomas invisíveis que podem estar associados”.
E mesmo quando conseguem estar presentes, o desafio mantém-se para muitos, manifestando-se através do “presenteísmo – estar fisicamente presente, mas com desempenho laboral comprometido. Muitos trabalhadores comparecem ao trabalho mesmo durante as crises, em esforço, por receio de perder o emprego ou por falta de compreensão, o que resulta numa baixa produtividade e desgaste físico e emocional”.
Mais do que uma dor de cabeça, a enxaqueca é, segundo Madalena, “uma doença neurológica crónica”, ainda que nem sempre assim seja encarada. Um problema que “em momentos de crise interfere diretamente na capacidade de concentração, raciocínio, comunicação e execução de tarefas”. Ou seja, dificulta a vida de quem trabalha. E tendo em conta que as crises podem durar horas ou dias, “reduz significativamente a sua produtividade”, sendo ainda mais incapacitante em profissões que exigem tomada rápida de decisões ou exposição a estímulos como luz, som ou odor. “Por vezes, o trabalhador tem mesmo necessidade de faltar ao trabalho. Apesar do esforço dos doentes para compensar o trabalho perdido, é inegável o impacto que a enxaqueca tem no meio laboral, tanto para a empresa como para a progressão profissional de quem vive com enxaqueca.”
De acordo com o estudo promovido pela European Migraine and Headache Alliance, a maioria dos empregadores (63%) tem conhecimento deste problema, mas apenas 18% ofereceram algum tipo de apoio aos seus colaboradores, pelo que Madalena considera “essencial sensibilizar as empresas para a realidade por detrás da enxaqueca. Ainda existe um forte estigma associado a esta doença, que não é só uma dor de cabeça, nem uma desculpa”.
Para mudar este cenário, são necessários “programas de sensibilização para os colaboradores das empresas, formação de gestores, das equipas de Medicina do Trabalho e dos recursos humanos, e partilha de testemunhos”. Foi por isso que a MiGRA Portugal decidiu lançar o Workplace MiGRA-Care, “um programa de sensibilização e apoio às empresas, que visa educar empregadores, equipas de recursos humanos e medicina do trabalho sobre o impacto da enxaqueca no local de trabalho, implementar medidas e boas práticas organizacionais que melhorem a qualidade de vida dos colaboradores, reduzir o estigma associado às doenças invisíveis, como a enxaqueca, e promover ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e compreensivos”.
Composta por workshops e formações destinadas às empresas, esta iniciativa presta ainda apoio na implementação de medidas de adaptação no ambiente laboral e o seu respetivo reconhecimento, o que configura vários benefícios para as empresas.
Medidas que podem ir das mais complexas às mais simples, como “horários de trabalho flexíveis, possibilidade de teletrabalho, adaptação do espaço físico (redução de luzes intensas ou ruído), pausas regulares e acesso a salas de descanso”, reforça Madalena.