Enquanto o país abranda com as férias, há uma realidade que não tira pausas: o cancro da próstata continua a ser a principal doença oncológica masculina em Portugal. Segundo os dados da Globocan, surgem anualmente mais de 7 500 novos diagnósticos e cerca de 2 000 homens perdem a vida. O número reflete não só o envelhecimento da população, mas também a ausência de rastreios regulares e a desinformação sobre sintomas e tratamentos.
Durante os meses de verão, a procura de cuidados médicos tende a diminuir. As consultas são adiadas, os exames ficam para setembro e os sinais de alerta passam despercebidos. No caso do cancro da próstata, este adiamento pode ser crítico: a doença avança de forma silenciosa e muitos homens só são diagnosticados em fases já avançadas, quando as opções de tratamento são mais agressivas e o prognóstico menos favorável.
Um simples teste de PSA e uma ressonância magnética multiparamétrica podem ser suficientes para detetar a doença numa fase inicial. E é nesta fase que os tratamentos são mais eficazes e menos invasivos. Nos últimos anos, as abordagens terapêuticas evoluíram de forma significativa. Hoje, a biópsia transperineal é preferida por reduzir o risco de infeções e melhorar o conforto. E a chamada terapia focal, com recurso a técnicas como a electroporação irreversível (IRE), permite tratar apenas a zona afetada, preservando funções urinárias e sexuais.
O Instituto de Terapia Focal da Próstata tem vindo a aplicar estas soluções inovadoras em Portugal, com bons resultados e uma abordagem centrada no bem-estar do doente. No entanto, a tecnologia só faz a diferença quando há deteção precoce. É esse o verdadeiro ponto de viragem.
Se tem mais de 50 anos, ou antecedentes familiares, o verão pode ser uma oportunidade para cuidar de si. Aproveite o tempo livre para marcar exames, esclarecer dúvidas com o seu médico e não deixar a saúde para segundo plano. Hoje, há alternativas menos agressivas e mais eficazes. Mas para isso é preciso saber, agir e falar.
Em pleno verão, quando se multiplicam campanhas sobre proteção solar e segurança rodoviária, a saúde masculina continua a ser uma ausência gritante no espaço público. É urgente trazer este tema para a agenda. E, mais do que tudo, quebrar o silêncio que ainda pesa sobre o cancro da próstata. Uma conversa pode ser o primeiro passo para salvar uma vida.