O português Edgar Martins foi aclamado hoje Fotógrafo do Ano nos Prémios Mundiais de Fotografia Sony 2023 graças a uma série de retratos em homenagem ao amigo fotojornalista Anton Hammerl, morto durante a guerra civil líbia, em 2011, avança a Lusa.
Martins, vencedor na categoria Retrato, foi selecionado por um júri entre os vencedores das 10 diferentes categorias em competição, tendo-se destacado pela série “A Nossa Guerra”, realizada após uma primeira visita à Líbia em 2019.
Frustrado com a falta de resultados na investigação à morte de Hammerl, raptado e executado por uma milícia governamental, Martins procurou conhecidos e pessoas envolvidas na guerra civil resultante da queda do regime de Mohammar Khadaffi durante a Primavera Árabe.
“Apercebi-me, a partir do momento em que cheguei ao país, de que iria ser muito difícil conduzir ou criar ou desenvolver qualquer tipo de investigação coerente num sítio tão fragmentado e volátil. Decidi então produzir um projeto inspirado, não só na história dele, mas também um projeto que tivesse em conta outras questões mais ontológicas”, disse Martins à agência Lusa.
O fotógrafo português radicado no Reino Unido falava durante a antevisão da exposição das fotografias em Londres, antes de conhecer a atribuição do galardão principal desta edição dos Prémios Sony.
Edgar Martins salientou que, para além de uma homenagem ao amigo, este projeto “fala sobre a dificuldade de documentar, a dificuldade de testemunhar, imaginar e representar a guerra e tempos de guerra”.
“Ao recriar um pouco a viagem do Anton, o espaço que ele tomou, ao ir aos sítios que ele visitou e ao sítio onde morreu, ao encontrar-me com as pessoas com que ele se encontrou e que fotografou, e outras envolvidas no projeto, nomeadamente rebeldes, milícias, todo o tipo de combatentes, militantes, dissidentes líbios, mas também pessoas locais que encenavam as suas próprias histórias, ao encontrar interseções relevantes entre os nossos percursos e também percebendo as motivações por trás do dele, eu creio que fui ao reencontro dele, ainda que brevemente”, disse.
O presidente do júri para a competição profissional, Mike Trow, descreveu o trabalho de Martins como “muito forte, feito de forma deslumbrante”, elogiando a coragem do fotógrafo para viajar até à Líbia para fazer este trabalho, que evidencia os riscos que correm os fotógrafos em cenários de guerra.
“O Edgar é um fotógrafo invulgar. Ele é muito intenso, é muito sério. E o que nos agradou na história do retrato foi que foi retratada como uma memória, uma memória de um amigo, colega fotógrafo. Ele criou uma série de cenários para representar a história do seu amigo”, afirmou à Lusa.
A distinção de Fotógrafo do Ano inclui um prémio monetário de 25.000 dólares (23.000 euros), equipamento fotográfico, e uma exposição individual em 2024, integrada na mostra anual dos vencedores dos Prémios Mundiais de Fotografia Sony.
Edgar Martins adiantou à Lusa que este projeto, que para além de fotografias inclui uma série de outros materiais resultantes da investigação que fez, será objeto de uma exposição no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.
Cerca de 180.000 fotógrafos entraram na competição profissional dos Prémios Sony deste ano nas categorias de Retrato, Arquitetura e Design, Criatividade, Documentário, Ambiente, Paisagem, Portfolio, Desporto, Natureza Morta e Vida Selvagem e Natureza.
Por exemplo, o britânico Hugh Kinsella Cunningham, vencedor na categoria Documentário, apresentou um trabalho sobre os esforços das mulheres na República Democrática do Congo para manter a paz, o norte-americano Corey Arnold (Vida Selvagem & Natureza) fotografou ursos, coiotes e guaxinins em cidades nos Estados Unidos, e a sul-africana Lee-Ann Olwage (Creatividade) explorou o quotidiano escolar de raparigas no Quénia.
As fotografias que fizeram parte na competição deste ano vão estar em exposição a partir de sexta-feira até 01 de maio na Somerset House, em Londres.