Wegovy é um medicamento para a perda e manutenção de peso que contém a substância ativa semaglutida. Esta é semelhante a uma hormona natural denominado peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), libertada pelo intestino após uma refeição. O Wegovy age sobre os recetores no cérebro que controlam o apetite, fazendo com que a pessoa se sinta mais satisfeita e com menos fome e tenha menos vontade de comer. Isso ajudará a comer menos e a reduzir o peso corporal.
Tanto o Wegovy quanto o Ozempic têm como princípio ativo a semaglutida. Ambos têm o mesmo mecanismo de ação no organismo e são produzidos pela mesma empresa farmacêutica. Mas, enquanto o Wegovy é focado na perda de peso e indicado para uma população mais ampla, o Ozempic é mais voltado para o controle do diabetes tipo 2, apresentando a redução de peso como um benefício colateral, como explicou à Forever Young, Miguel Vasques, endocrinologista e professor na Nova Medical School,.
Existem dois medicamentos para o tratamento da diabetes usados na perda de peso. O principal composto do Mounjaro é o tirzepatida enquanto que o principal composto do Ozempic é composto por semaglutido: qual é a diferença entre ambos?
O Mounjaro é um medicamento aprovado em Portugal para o tratamento farmacológico da obesidade, e o Ozempic é um medicamento aprovado para o tratamento da Diabetes Mellitus tipo 2. Ambos têm capacidade para induzir perda de peso por mecanismos semelhantes, mas distintos. Enquanto o Mounjaro é um duplo agonista dos recetores GIP e de GLP-1, o Ozempic é agonista dos recetores GLP1. O GLP1 e o GIP são duas hormonas presentes nosso organismo com múltiplas funções, como regular a secreção de insulina, o esvaziamento do estomago a seguir a uma refeição ou o apetite, e estes medicamentos mimetizam algumas das suas ações.
Como funciona cada um destes compostos no organismo?
Os mecanismos de ação dos dois medicamentos para perda de peso parecem ser semelhantes. Há vários conduzem a perda de peso, dos quais se destacam:
1) indução de saciedade no cérebro, ou seja, desligando os mecanismos de fome no sistema nervoso central;
2) o atraso do esvaziamento gástrico, induzindo assim uma saciedade mais precoce para a mesma refeição.
Estudo referem que podem ter efeitos graves se não forem ministrados com acompanhamento médico. Quais são esses efeitos graves?
Como qualquer tratamento médico, efeitos adversos podem surgir pelo que o acompanhamento médico é sempre necessário. Os mais comuns – gastrointestinais, como náuseas, vómitos, diarreia – são geralmente simples de mitigar e tendem a melhorar com o tempo. Houve casos documentados de pancreatite aguda com este medicamento, que, contudo, são raros.
Durante algum tempo houve também particular atenção a um potencial aumento do risco de cancro do pâncreas ou da tiroide, suspeitas que a ciência veio a afastar nos últimos anos.
Por fim, e mais recentemente, tem havido mais atenção à perda de massa muscular e o défice de alguns nutrientes que pode estar associada a estes medicamentos. Sendo expectável que exista alguma perda num processo de redução de peso, alguns estudos têm mostrado que pode ocorrer perdas substanciais de massa muscular pelo que o seguimento clínico é fundamental neste trajeto para que estratégias de mitigação da perda de massa muscular possam ser implementadas.
A abordagem farmacológica é apenas uma das ferramentas necessárias para o tratamento da obesidade, não podendo o exercício físico e intervenção nutricional ser descuradas pela eficácia dos novos medicamentos.
A verdade é que agora surge outro medicamento, o Wegovy que chegou às farmácias portuguesas dia 07 de abril, e que tem o mesmo princípio ativo do antidiabético Ozempic, mas com uma dosagem superior e sem ser preciso receita médica. De acordo com a sua experiência de que forma esta mudança no acesso ao medicamento pode alterar a sua utilização?
O Wegovy – semaglutido em dosagem mais elevada, necessária para tratamento eficaz da obesidade – é disponibilizado sem comparticipação, mas com necessidade de receita médica. Trata-se de um extraordinário medicamento para o tratamento da obesidade que, contudo, tem de ser vigiado para minimizar os efeitos adversos e potenciar a resposta clínica. Nem poderia ser de outra forma sem se comprometer a segurança do doente.
Todos os medicamentos têm contraindicações; neste caso quais são eles e se existem os riscos para a saúde?
O medicamento Wegovy deve ser administrado com precaução em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 que utilizam insulina, devido ao maior risco potencial de hipoglicemia. Além disso, deve-se ter cuidado em pacientes com retinopatia diabética, uma vez que estes não foram incluídos nos estudos de desenvolvimento do Wegovy. Alguns grupos de pacientes foram excluídos dos ensaios clínicos, incluindo aqueles com Diabetes Mellitus tipo 1, doença renal grave ou terminal, cirrose hepática ou insuficiência cardíaca grave. Portanto, a utilização do medicamento não é recomendada para esses grupos devido à falta de evidência de eficácia e segurança.
A doença inflamatória intestinal, incluindo Doença de Crohn e Colite Ulcerativa, não representa uma contraindicação formal, mas o tratamento pode exacerbar essas condições. Assim, deve-se proceder com extrema cautela ao administrá-lo a esses pacientes.
Por não precisar de receita médica quer dizer que todos os podemos tomar?
Apenas doentes com indicação para Wegovy – obesidade ou excesso de peso com comorbilidades de relevo – devem realizar esta terapêutica. Não foi devidamente estudada noutros contextos.
Como se decidem as doses?
A titulação dos medicamentos encontra-se bem estabelecida, devendo ser realizada devagar (mensalmente, por exemplo) para minimizar os efeitos adversos. A dose de manutenção é determinada de acordo com a resposta clinica do doente, devendo ser aquela que doente melhor tolera com resposta clínica.
A medicação cria habituação?
A obesidade é uma doença crónica que pode ser controlada através de terapêutica farmacológica. Se se suspender a terapêutica, a doença deixa de estar controlada e é expectável que exista uma recuperação do peso perdido. Tal fenómeno pode causar a impressão de “dependência”, contudo, é algo transversal a todas as doenças crónicas, como a hipertensão arterial ou o colesterol elevado – se se suspender tratamento, volta a agravar.