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Faz parte da nossa vida, mas sabe o que é e como combater a frustração?

A frustração é um sentimento associado a uma sensação de impotência e de desânimo, que ocorre quando algo que era esperado falha ou não acontece.

15 Março 2022
Sandra M. Pinto

Desde cedo, é-nos incutida a ideia de que se dermos o nosso melhor, se fizermos as coisas bem-feitas, então tudo correrá bem e teremos a recompensa do nosso esforço. No entanto, às vezes não é exatamente assim que acontece e é nessas situações que somos invadidos pelo desânimo e deceção, afirma a Psicóloga Clínica, Catarina Matias.

Pensamos que todo o esforço não valeu a pena, que foi tempo desperdiçado. Ficamos desmotivados e sem energia para nos envolvermos novamente na mesma atividade. Revoltamo-nos porque sentimos que o nosso empenho e trabalho árduo não deram frutos. Não nos levaram aos lugares que gostaríamos, que estávamos à espera e dos quais consideramos ser merecedores.

Este sentimento – a frustração – vem mostrar que mesmo quando fazemos de tudo o que está ao nosso alcance, as situações podem não acontecer como esperamos. E isso deve-se ao facto de que nem tudo depende exclusivamente de nós. De que não temos o controlo de muitas coisas.

Frustração e desenvolvimento
A frustração acompanha-nos logo desde a infância. E dada a imaturidade do bebé e da criança, este pode ser um sentimento muito difícil de conter e controlar, desencadeando-se, por vezes, comportamentos agressivos (como empurrar, bater ou morder). Quando estes comportamentos acontecem, é importante que os pais estejam atentos e tentem responder à situação da melhor maneira possível, no sentido de dar significado ao seu comportamento e, assim, a possibilidade de a criança compreender o que sente.

É também importante que os pais deem alternativas ao comportamento desadequado que a criança manifeste, mostrando-lhe outras formas para lidar com a situação:

  • Explicar as coisas – de forma a que o seu filho compreenda, adaptando o discurso à idade da criança – prefira frases curtas e use um vocabulário simples; dê nome ao que o seu filho possa estar a sentir, validando os seus sentimentos, por exemplo: “eu percebo que estejas chateado e zangado. Todos nós nos zangamos. Mas tenta acalmar-te e explicar o que se passa para eu te conseguir perceber e ajudar”;
  • Conter o seu filho fisicamente – abraçar, dar colo, faz com que a criança se acalme e se sinta segura e amada.

Crianças que são protegidas constantemente de situações frustrantes têm uma maior dificuldade em desenvolver a sua autonomia e capacidade para lidar com dificuldades e contrariedades com que se deparam e, consequentemente, superar momentos que não acontecem como o esperado. Este aspeto tem impacto não só no desenvolvimento da criança, como na sua constituição psicológica e flexibilidade mental. Um adolescente ou adulto capaz de lidar com a frustração, mais facilmente adota uma postura flexível, de abertura e adaptação face às adversidades, sendo este um indicador de saúde mental.

A frustração tem, ainda assim, um efeito positivo no desenvolvimento pois promove a autonomia e a resiliência, uma vez que se tivermos a oportunidade de experimentar algo e fracassarmos, poderemos aprender com os erros e fazer melhor numa próxima tentativa.

Tipos de frustração
A frustração pode ser de vários tipos, ocorrendo devido a diversas causas e fatores. Como descrito anteriormente, a frustração faz parte da vida de todos nós, acompanhando-nos desde a infância até à idade adulta, sendo um elemento fundamental para o desenvolvimento do ser humano.

A frustração tem sempre na sua base uma expetativa. Esperamos que algo aconteça e não acontece ou somos apanhados de surpresa por uma situação de que não estávamos à espera.

1. Frustração por necessidade não satisfeita
Pode dizer-se que este é um dos tipos de frustração de base. O comportamento humano é explicado pelas suas necessidades e motivações, sejam elas de ordem fisiológica, social ou de estima e auto-realização. A não realização de uma ou várias necessidades dá origem à frustração não significando, no entanto, que se ficará eternamente frustrado visto que é possível compensar uma necessidade não satisfeita por outra.

2. Frustração pela não concretização de um objetivo
Ao longo da nossa vida, estabelecemos objetivos e metas a alcançar. No entanto, deparamo-nos frequentemente com obstáculos que podem impedir a concretização de tais objetivos e gerar frustração.

3. Frustração pelo não recebimento de uma gratificação esperada
Na continuidade do ponto anterior, na mesma medida em que estabelecemos objetivos e lutamos para os alcançar, quando os atingimos esperamos algum tipo de gratificação (por exemplo, uma promoção no trabalho depois de uma grande dedicação a um projeto). A frustração pode aqui surgir quando aquilo que acreditamos que seria lógico e razoável acontecer, por algum motivo não ocorre e sentimos que o esforço não foi recompensado.

4. Frustração pelo término de uma relação amorosa
Quando uma relação amorosa mais ou menos longa termina, é comum uma sensação de vazio pela perda da outra pessoa. A frustração também aqui pode ter lugar, na medida em que numa relação amorosa há um investimento pessoal, um projetar de expetativas e uma partilha daqueles que são os nossos sentimentos e pensamentos mais íntimos. Esta frustração é sentida como que um sonho que desaba.

Simultaneamente, podemos também sentir medo, seja pelo facto de não sabermos se haverá oportunidade de nos apaixonarmos e termos uma nova relação, seja porque temos medo de não ser bem-sucedidos e falhar novamente.

5. Frustração por conflito
Este tipo de frustração ocorre quando temos de tomar uma decisão e escolher uma opção entre várias, o que significa ter de abdicar de alguns benefícios.

Consequências da frustração
Na sociedade em que vivemos somos constantemente inundados pela ideia de que temos de procurar a felicidade e a satisfação, havendo uma pressão subjacente para se ser feliz e bem-sucedido. Estas ideias estão presentes nos media, nas redes sociais e até mesmo no nosso círculo relacional mais próximo.

Apesar de termos consciência de que não é possível estar sempre feliz, por vezes sentimo-nos frustrados por acharmos que a nossa vida não é como deveria ser, como era suposto. E tudo isto tem inúmeras implicações ao nível do bem-estar físico e psicológico.

A frustração apresenta alguns sinais e sintomas, quer físicos quer psicológicos. A um nível físico, podem ser experienciadas sensações como falta de energia, cansaço, perda de apetite, insónia. A nível psicológico é frequente uma sensação de desesperança, deceção, tristeza e até raiva.

Um sinal fundamental a ter conta é o de quando a frustração se constitui como um prejuízo para as atividades diárias; quando se sente uma perda de capacidade para fazer o que antes seria rotineiro. Neste sentido, é importante estar atento ao que sente e tentar compreender o que desencadeou esses sentimentos e reações. Procure a ajuda de um profissional quando sentir dificuldade em compreender ou lidar com a situação, sentimento ou pensamento.

Como lidar com a frustração?
Não é possível vermo-nos “livres” da frustração, pois ela vai acompanhar-nos ao longo da vida, em diversos momentos. No entanto, apesar de ser um sentimento que experienciamos com alguma frequência, nem sempre conseguimos adotar as melhores respostas para superar um momento ou situação frustrante. Eis 6 estratégias para lidar com a frustração:

Aceitar a realidade dos factos – há coisas que não temos o poder de alterar porque não dependem exclusivamente de nós próprios; podemos, então, ver as coisas de outra forma, atribuindo-lhes um novo significado, mudando a perspetiva a partir da qual olhamos para o acontecimento ou situação.
Estar atento às suas expetativas – é importante estarmos atentos àquilo que esperamos dos outros ou de uma determinada situação. Pode ser arriscado ficar constantemente à espera que aquele amigo nos ligue, que o namorado(a) nos surpreenda, que sejamos promovidos no trabalho, pois podemos estar a criar demasiadas expetativas e a ser demasiado exigentes com o outro. Tente não criar cenários ou planos muito idealizados, ou seja, pouco sustentados naquilo que pode ser possível de vir a acontecer.
Estabelecer objetivos – procure traçar objetivos e planos consistentes e realistas para a sua vida a curto, médio e longo prazo. Foque-se no que são as suas prioridades e no que precisa para as alcançar.
Realizar atividades que goste – frustração acarreta tensão e ansiedade. Procure realizar atividades nas quais tenha prazer e retire algo positivo.
Escrever as suas conquistas – é comum termos mais presente aquilo que são os fracassos, em detrimento do que já conquistámos. Experimente pegar num papel e numa caneta e faça uma retrospetiva acerca do que já alcançou ao longo da sua vida (por exemplo a nível pessoal e profissional).
Escutar-se – a frustração induz-nos pensamentos, sentimentos e comportamentos que tendem a agravar a situação. Tente perceber qual a origem da sua frustração e de que forma lida com ela. Faça questões a si próprio e tente responder com o máximo de sinceridade (alguns exemplos, como: “o que é que me fez sentir assim?”, “o que é que eu esperava que acontecesse?”, “o que é que está ao meu alcance fazer?”). Promover o seu autoconhecimento irá ajudá-lo a perceber o que sente e quais as melhores formas para lidar com situações difíceis, nomeadamente as frustrantes.

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