Em Portugal, de acordo com dados da Sociedade Portuguesa da Gastroenterologia, cerca de um terço da população sofre de intolerância à lactose, começa por referir Bárbara Machado, da Associação Portuguesa de Nutrição.
A principal causa desta intolerância alimentar é a ausência ou deficiência da enzima lactase – enzima intestinal responsável pela hidrólise da lactose (um dissacarídeo) e que ajuda à sua degradação em açúcares mais simples (os monossacarídeos glicose e galactose), mais facilmente absorvidos pelo organismo.
Existem diferentes subtipos de intolerância à lactose, podendo classificar-se como congénita, em que os bebés que sofrem com esta patologia não produzem lactase desde a nascença, primária, em que ocorre diminuição ou perda total de expressão da lactase, ou secundária, ocorrendo uma diminuição temporária da produção da lactase, como consequência de determinadas patologias gastrointestinais.
As principais manifestações clínicas associadas à intolerância à lactose estão relacionadas com o sistema gastrointestinal e incluem dor e distensão abdominal, diarreia e flatulência, náuseas e vómitos, sendo que a intensidade destes sintomas depende, em geral, da quantidade de lactose ingerida, do grau de deficiência da lactase e do tipo de alimento ingerido.
Os indivíduos intolerantes à lactose podem, no entanto, apresentar diferentes níveis de sensibilidade, tolerando a ingestão desde 1g a 12g de lactose diariamente, dependendo do seu grau de sensibilidade, o que poderá permitir ou não a ingestão de determinados alimentos. Estes níveis podem alterar-se ao longo do tempo e com o estado de saúde dos indivíduos.
Uma vez que este açúcar se encontra exclusivamente presente em produtos lácteos, a intolerância à lactose pode levar a um menor consumo destes alimentos. É de destacar o elevado valor nutricional dos laticínios, com proteínas de alto valor biológico e com um teor muito interessante de vitaminas e minerais – em que se destacam a vitamina D e o cálcio – pelo que se torna fundamental adotar uma dieta que assegure a obtenção diária destes nutrientes nas quantidades adequadas.
Apesar de conterem lactose, os iogurtes e leites fermentados podem ser importantes aliados para intolerantes à lactose, nomeadamente em substituição do consumo de leite. Um iogurte tem cerca de 5g de lactose, quantidade significativamente mais baixa que a de um copo de leite (que contém cerca de 12g). Embora produzidos a partir do leite, estes alimentos contêm na sua composição fermentos láticos – microrganismos vivos – que, durante o processo de fermentação, convertem parte da lactose presente na matéria-prima em ácido lático. O resultado são produtos com menos lactose, melhor aceites por indivíduos com intolerância à mesma, e com bactérias láticas que, estando vivas, contribuem também para o bom funcionamento do sistema digestivo, mesmo após serem ingeridas.
O iogurte e/ou leite fermentado é, deste modo, uma boa alternativa para quem tem sensibilidade moderada à lactose, permitindo um consumo adequado dos nutrientes fornecidos pelos laticínios. Por outro lado, consumidores com elevada sensibilidade a este açúcar deverão evitar estes alimentos ou optar por versões sem lactose (produzidos de forma a serem totalmente isentos de lactose), procurando aconselhamento junto de um profissional de saúde para que o seu consumo e as suas escolhas sejam ajustados às necessidades individuais.
Conteúdos sobre os diferentes tipos de iogurte e leites fermentados, as suas características e benefícios para a saúde podem ser encontrados em www.queiogurteestu.pt e no Instagram em https://www.instagram.com/queiogurteestu/, duas páginas da iniciativa “Que Iogurte És Tu?”- um projeto com a colaboração da Associação Portuguesa de Nutrição, que pretende incentivar os portugueses a adotarem uma alimentação mais saudável, e que promova o consumo de iogurte e/ou leite fermentado numa base diária.