Tudo aparentemente muito natural, dado que vivemos um período único, pautado por mudanças, alterações de rotinas e de ausência de controlo sobre a realidade, escreve a Psicóloga Clínica, Vera de Melo.
Para que encare o regresso com entusiasmo e otimismo deixo-lhe um Kit de sobrevivência. Ajuste-a à sua realidade e verá que o regresso será muito tranquilo.
Aceitação- nada voltará a ser como antes. De um dia para o outro, sem aviso fomos atirados para as teias da incerteza e da mudança radical. Já nada é como era. Já nada será como foi. O antes não existe mais, nós mudamos, o mundo do trabalho mudou. Mas mudança não tem de ser necessariamente algo negativo. A normalidade como a conhecemos outrora, já não existe, iremos construir um novo normal. Pouco a pouco iremos conseguir, por isso não tenha pressa. Viva o próprio dia. Não passe o tempo a antecipar situações que só lhe causam stress e ansiedade. Aceite que não controla a realidade, mas tem o poder de controlar a forma como a ela reage. Não deixe que os medos, tomem o lugar dos seus sonhos.
Foco- Foque-se. Não perca tempo a ser saudosista e a recordar o passado, o que foi já lá vai, e o que será está nas suas mãos. O regresso não tem de ser o voltar ao “mundo de obrigações e chatices” que associamos às nossas vidas após as férias, o regresso pode ser o voltar à vida que escolhemos e que ao longo do resto do ano nos preenche e alimenta. Planeie o que fazer e como fazer, utilizando como critérios a importância e a urgência. Lembre-se, ter foco, é saber dizer não.
Paciência- O reajustamento a uma nova realidade dificilmente é imediato. É necessário um período de (re)adaptação. Da mesma forma que o seu corpo não está num mood relaxado quando inicia as suas férias, quando regressa à sua atividade profissional, o seu corpo e mente vão precisar de se sincronizarem novamente com um ritmo muito específico, por norma mais acelerado. Este “choque” inicial é algo esperado e natural. Sintomas como dificuldades em adormecer e acordar, baixa concentração e défice de produtividade inicial são marcos da readaptação ao novo contexto. Pense que estas reações serão tão exacerbadas quanto maior o número de dias do período de lazer e o grau de exigência, em termos de horas e funções de cada profissão. Não as hipervalorize e dê-lhe apenas a importância que têm. Lembre-se, não há espaço para a sabedoria, onde não há paciência.
Bom senso-Não seja rígido e inflexível consigo, minimize. A provável ânsia de tentar colocar tudo em ordem, responder as todas as solicitações pendentes e sentir-se 100 % operacional é tentadora. Não queira ser “super-herói” e colocar-se num patamar de expectativas não realizáveis, só vai aumentar a ansiedade e gerar frustração. Seja lento. Permita-se ficar distraído, mas não perca o foco.
Gratidão- O trabalho perfeito não existe, tal como não existem pessoas perfeitas, nem casas perfeitas, nem situações perfeitas, diria que a perfeição é um mito. Existe sim, o trabalho para o momento que a pessoa está a viver. Expressar gratidão pelo que possui, vai ajudar a encarar com entusiamo o regresso. Valorize o presente. Antes de querer o que quer que seja, valorize e aproveite genuinamente o que tem.
Otimismo- Pode parecer difícil ao início, mas rapidamente perceberá que será tão benéfico para si como para os que o rodeiam. Vai concentrar-se nos aspetos positivos do regresso ao trabalho em vez de se deixar levar por pensamentos negativos. Estar num ciclo de vitimização constantemente em nada promove a felicidade. Ser feliz é uma escolha e tem de querer ser. Não hipervalorize as situações, faça avaliações objetivas da realidade. Encare com otimismo o regresso, foque-se nas soluções e não nos problemas.
Genuinidade- Não tenha receio, ou vergonha de exprimir o que está a sentir. É importante não reprimir a ansiedade, mas aceitá-la e tentar perceber a sua origem, para assim a gerir. Ao desenvolver uma postura de aceitação em relação às emoções não amplia e maximiza acontecimentos e as emoções dissipam-se mais rapidamente. Meça, a sua temperatura emocional.
Empatia – O regresso é complexo e difícil para todos, afinal é uma mudança. Esteja atento aos que o rodeiam. Aceite o ponto de vista dos outros, não utilize o seu próprio “mapa do mundo”, os seus óculos com que vê a realidade para analisar todas as situações. Cultive a cultura da empatia, colocando-se várias vezes no lugar do outro, vai perceber que tudo será muito mais harmonioso. Lembre-se, antes de falar ou fazer algo, coloque-se no lugar de quem vai escutar ou observar.
Interação- O ser humano é um ser social. Como ser social que é, o ser humano quer viver em grupo e estar integrado numa sociedade. Precisa de ter amigos para conversar, necessita de um ombro amigo, de um sorriso, de um olhar, de conversas amenas para passar o tempo. Precisa de sentir pertença, e isso só é possível através do contato e da interação social. Neste retorno ao seu local trabalho e, consequentemente, à partilha de espaço e de tempo com os seus colegas, não hesite em interagir. Mostre interesse em saber como foram as férias daqueles que o rodeiam, conte um pouco das peripécias que viveu, reforce e reative o espírito de equipa e sentimento de pertença. Com as devidas medidas de segurança, aproveite as pausas e interaja. Lembre-se a socialização nunca pode deixar de existir pois confere ao ser humano sentido e propósito de vida.
Por fim aceite que não pode controlar tudo, admita a sua vulnerabilidade e divirta-se nesta nova etapa. Lembre-se que nada é permanente exceto a mudança.