Foi recentemente lançado no Porto o movimento #emlutocontigo, uma iniciativa criada pela Associação Compassio, que quer promover uma nova forma de lidar com o luto – mais presente e consciente -, e fazer um apelo direto à sociedade para que aprenda a acompanhar quem atravessa um processo de perda.
Nascido da urgência de combater o silêncio que ainda envolve o tema da morte, este movimento dirige-se ao público em geral, desafiando-nos a falar da perda com naturalidade, a saber escutar sem julgamentos e a apoiar sem embaraços ou frases feitas. A ausência destes temas no discurso social continua a gerar desconforto e afastamento. Muitas vezes, o não saber o que dizer ou fazer leva-nos ao uso de expressões vazias que, apesar de bem-intencionadas, não aliviam o sofrimento e provocam até um maior distanciamento de quem vive o luto, agravando o seu isolamento e estado de fragilidade.
Com esta iniciativa, que conta com o apoio do BPI e da Fundação “la Caixa”, a Associação Compassio – organização sem fins lucrativos que, desde 2019, trabalha para tornar o Porto uma cidade mais compassiva – pretende conduzir a uma reflexão sobre esta realidade e contribuir para a sua mudança, rumo a um maior diálogo sobre a morte e os processos que esta vivência desencadeia.
Aprender com quem vive o luto na 1a pessoa
A primeira ação do movimento materializa-se numa campanha de cartazes, já visível em vários pontos da cidade do Porto, que dá voz a pessoas reais em processos de luto. A partir da sua história, os protagonistas explicam o que verdadeiramente os ajuda a lidar com a dor:
● “Foi bom os amigos não me terem tratado como um coitadinho.”
● “Não nos digam que foi melhor assim.”
● “Deixa-me seguir ao meu ritmo. O meu tempo não é o teu tempo.”
Estes são alguns dos exemplos que ilustram o tipo de apoio que pode fazer a diferença neste tipo de situações.
A estas vozes juntam-se também testemunhos de figuras públicas, como o humorista António Raminhos e a jornalista e escritora Laurinda Alves, que aceitaram dar rosto à campanha e partilhar a sua própria vivência da perda, contribuindo para quebrar o tabu e incentivar uma nova cultura de cuidado.
Um movimento com asas para pousar no ombro de quem sofre
A expressão #emlutocontigo condensa a mensagem central do movimento – a de que o luto é um processo duro e que cada um de nós pode fazer a diferença junto de quem está a sofrer.
Aliado a este lema surge o corvo amarelo, símbolo gráfico e emocional da campanha. Tradicionalmente associada à morte, esta ave traz aqui com uma nova leitura, desafiando o preconceito através da sua cor quente e representando uma forma diferente de encarar o luto, com mais abertura, empatia e proximidade. O corvo lembra-nos ainda que todos podemos “pousar no ombro” de alguém que vive um processo de dor, sem precisar de palavras perfeitas, oferecendo apenas presença e escuta.
Depois de ter sido apresentado oficialmente na primeira edição do Festival do Luto, que se realizou no Porto no passado dia 24 de maio, o movimento #emlutocontigo vai estender-se a uma série de outras ações ao longo do ano, tais como a disponibilização de informação com boas práticas para lidar com pessoas em luto em locais estratégicos da cidade (como centros de saúde, escolas, farmácias ou serviços de apoio social); a dinamização de encontros e conversas como os Death Cafés, momentos de conversa informal sobre a morte; e a realização de atividades de sensibilização junto de comunidades locais e organizações parceiras.
O objetivo é continuar a ajudar a criar uma cultura de maior proximidade, literacia emocional e cuidado partilhado, contrariando a tendência de viver o luto em silêncio ou isolamento.
O movimento pode ser acompanhado através do site e das redes sociais da Associação Compassio.
https://compassio.pt/em-luto-contigo/
www.instagram.com/a.compassio/ | www.facebook.com/associacaocompassio