Melanie Safka tinha 76 anos. Morava numa localidade próxima de Nashville, no Tennessee, onde se fixara.
O anúncio da morte à agência de notícias Associated Press pelo agente Billy James, na quinta-feira, foi feita depois de os três filhos de Melanie terem declarado nas redes sociais que “as cores de um Tennessee sombrio e chuvoso” notavam a ausência da cantora. “Este é o ‘post’ mais difícil de escrever […]. A nossa mãe morreu, pacificamente, no dia 23 de janeiro de 2024”.
Melanie Safka destacou-se aos 22 anos, quando atuou na primeira noite do Woodstock, em 1969. Foi uma das três mulheres a atuar no festival, com Joan Baez e Janis Joplin. Na altura, Melanie tinha já um álbum publicado, “Born to Be”, e uma carreira afirmada no meio musical de Nova Iorque, onde nascera, mas era ainda desconhecida do grande público.
A atuação, porém, seduziu a audiência e inspirou-a para um dos primeiros êxitos, “Lay Down (Candles in the Rain)”. A canção subiu de imediato aos ‘tops’ de preferências e abriu-lhe caminho para uma carreira além-fronteiras, que teve o auge na década de 1970.
Melanie Anne Safka nasceu em Queens, Nova Iorque, em 03 de fevereiro de 1947, numa família de origem italo-ucraniana. A mãe, Polly Safka-Bertolo, era cantora de jazz, e a música foi desde sempre uma primeira opção.
Estudou na Academia Americana de Artes Dramáticas, na cidade natal, e começou a atuar em clubes de Greenwich Village, em meados dos anos 1960.
Safka, que normalmente usava apenas o primeiro nome, teve em 1971 um dos seus maiores êxitos, “Brand New Key”, do álbum “Gather me”. A canção foi banida em algumas estações de rádio mais conservadoras dos Estados Unidos, por uma suposta alusão sexual, que era no entanto estranha à autora. Em 1997, o realizador Paul Thomas Anderson incluiu “Brand New Key” numa cena de sedução do filme “Boogie Nights”.
A carreira de Melanie não parou com a polémica. E os sucessos multiplicaram-se nos anos seguintes, como “Peace Will Come (According to Plan)”, “Ring the Living Bell”, “The Nickel Song” e uma versão muto própria de “Ruby Tuesday”, dos Rolling Stones, sem esquecer um dos seus principais hinos, “What Have They Done to My Song, Ma”, que esteve sempre presente na sua carreira e que em 2012 retomaria, nas Backyard Sessions de Miley Cyrus.
Muitas das suas canções foram interpretadas por músicos como Nina Simone, The New Seekers e Ray Charles.
Ao longo da carreira, Melanie manteve a sua imagem de marca: cabelos longos e vestidos ainda mais longos, que fizeram dela “uma espécie de deusa hippie gentil”, cantando sobre paz com “jeito de menina”, mas com uma voz “capaz de um enorme poder”, como hoje escreve o jornal The Washington Post.
A partir de meados da década de 1970, foi no entanto trocando a popularidade pela vida familiar. Mas continuou a compor.
Em 1983, escreveu o musical “Ace of Diamonds”, baseado em cartas escritas pela ‘pistoleira’ Annie Oakley do Velho Oeste, que chegou ao Lincoln Center. Em 1989, conquistou um Emmy pela canção “The First Time I Loved Forever”, feita em parceria com Lee Holdridge, para a série “A Bela e o Monstro”.
Em 2019, quando se assinalaram os 50 anos do Woodstock, Melanie lembrou a importância do festival numa entrevista ao Arizona Daily Sun: “Mostrou a toda uma geração o que é valioso e verdadeiro. Para mim, essa ideia nunca desapareceu”.
No início deste mês, Melanie anunciou, para fevereiro, a edição do duplo álbum “One Night Only – The Eagle Mountain House”, com a gravação do concerto que realizou em Jackson, New Hampshire, em 1984, em que revisitou êxitos como “Brand New Key” e “Lay Down (Candles In The Rain)”.