A alienação parental é um fenómeno complexo, mas amplamente conhecida pelas pessoas e ocorre quando um dos pais, ou até mesmo ambos, manipula os sentimentos da criança (filho/a) para que ela sinta que não gosta, tenha medo ou não respeita o outro genitor (pai ou mãe), mesmo sem uma razão clara para isso. Este tipo de situação é mais frequente em casos de conflito intenso entre pais, especialmente em contextos de separação ou divórcio e tem como principal objetivo fazer com que a criança se afaste emocionalmente do outro genitor, prejudicando o relacionamento entre ambos.
Essa definição nem sempre é clara e devemos avaliar a situação familiar como um todo, porque um comportamento de recusa, ou algo que a criança diga sobre um dos pais, pode ser apenas uma resistência resultado de algo que ela sente num determinado momento em relação a um dos pais. Contudo é importante estarmos atentos à persistência de determinados comportamentos e atitudes dos pais, como por exemplo, como falar mal do outro genitor na frente da criança, restringir o contato da criança com o outro genitor sem motivo válido, manipular emocionalmente a criança para que ela rejeite o outro genitor, e forçar a criança a escolher um dos pais. Este tipo de ações por parte de um dos pais, podem ser consideradas como uma forma de violência psicológica, resultado de um abuso emocional sobre a criança.
É uma questão que pode ter um impacto profundo na saúde mental das crianças envolvidas. Esse ambiente, muitas vezes “tóxico”, de palavras e comportamentos, por parte de um dos genitores, pode fazer com que a criança se sinta confusa, ansiosa, triste e manifeste atitudes de raiva ao ser manipulada para rejeitar um dos pais. A médio-longo prazo, isso terá influência negativa no desenvolvimento emocional, podendo prejudicar as suas relações sociais, fragilizar a sua autoestima, afetar o seu desempenho escolar, e em alguns casos, pode resultar em problemas graves como depressão e ansiedade.
Assim como acontece nas crianças, o pai ou mãe afetado, também poderá ver comprometida de forma negativa a sua saúde mental, especialmente quando começa a experienciar uma mistura de emoções negativas, como tristeza, raiva e impotência ao ser confrontado com esse cenário. A perceção de que a relação com a criança começa a deteriorar-se devido a este tipo de alienação, pode desencadear um profundo sentimento de luto e vazio, especialmente se o vínculo entre ambos era forte. Este sentimento de perda não se limita apenas à ausência física do filho, mas à perda do relacionamento emocional que antes existia.
Lidas com estas questões emocionais são um grande desafio devido à intensidade e complexidade das emoções envolvidas e à necessidade de uma intervenção multidisciplinar. Tanto para a criança quanto para o pai/mãe afetado, esse processo pode ser doloroso e emocionalmente exigente, especialmente quando um dos pais, não consegue ter a perceção que as suas ações, muitas vezes direcionadas para ferir o outro genitor, estão a influenciar negativamente o bem-estar dos seus próprios filhos.
Acredito que os pais devem consciencializarem-se que quando deixa de existir o casal deve passar a existir uma parentalidade consciente, em que o bem-estar emocional da criança deve prevalecer em primeiro lugar. Para que isso acontece, é necessário saber manter a calma para evitar confrontos diretos com o outro genitor, especialmente na presença da criança, deve evitar falar mal do outro genitor na frente da criança, procurar apoio psicológico para gerir as emoções e pensamentos negativos provocados pela situação e em casos mais complexos deve recorrer a apoio jurídico.